Apenas 40% das crianças são alimentadas exclusivamente com leite materno nos 6 primeiros meses de vida

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Nenhum país do mundo atende plenamente aos padrões adequados de aleitamento materno, aponta relatório divulgado nesta terça-feira (1º) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Elaborado em parceria com o Global Breastfeeding Collective, o documento aponta que, em média, apenas 40% das crianças com menos de seis meses de idade são alimentadas exclusivamente com o leite materno, tal como recomendado pela OMS.

Apenas 23 dos 194 países analisados registraram índices de amamentação exclusiva nessa faixa etária acima dos 60%. No Brasil, o índice é de 38,6%. As duas agências da ONU lembram que o aleitamento materno é crucial durante o primeiro semestre de vida dos bebês, ajudando a prevenir a diarreia e a pneumonia — as duas principais causas de morte em lactentes.

A amamentação também está associada a benefícios para as mães. Quem amamenta tem risco reduzido de câncer de ovário e de mama, as duas principais causas de morte entre as mulheres.

“A amamentação dá aos bebês o melhor começo possível na vida”, defendeu o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “O leite materno funciona como a primeira vacina de um bebê, protegendo-os de doenças potencialmente mortais e dando-lhes todo o alimento de que precisam para sobreviver e prosperar.”

O relatório da OMS e do UNICEF foi lançado no início da Semana Mundial do Aleitamento Materno, celebrada de 1º a 7 de agosto. O documento foi divulgado com uma nova análise matemática. Cálculos revelam a necessidade de um investimento anual de apenas 4,7 dólares por recém-nascido para aumentar para 50% a taxa média global de amamentação exclusiva entre crianças com menos de seis meses de idade.

A publicação Nurturing the Health and Wealth of Nations: The Investment Case for Breastfeeding sugere que o cumprimento desse objetivo poderia salvar a vida de 520 mil crianças com menos de cinco anos. Alcançar a meta também poderia gerar ganhos econômicos de 300 bilhões de dólares em dez anos – isso seria fruto de uma redução em casos de doenças e de custos com cuidados de saúde, bem como de um aumento da produtividade.

“A amamentação é um dos investimentos mais efetivos e rentáveis que as nações podem realizar em favor da saúde de seus membros mais jovens e da saúde futura de suas economias e sociedades”, afirmou o diretor-executivo do UNICEF, Anthony Lake. “Ao não investir na amamentação, estamos falhando com as mães e seus bebês e pagando um preço duplo: em vidas e oportunidades perdidas.”

As análises feitas pelos organismos internacionais e pelo Global Breastfeeding Collective mostram ainda que, em cinco das maiores economias emergentes do mundo — China, Índia, Indonésia, México e Nigéria —, a falta de investimentos em amamentação leva a aproximadamente 236 mil mortes de crianças por ano. As perdas econômicas são estimadas em 119 bilhões de dólares.

Em todo o mundo, os recursos disponibilizados para incentivar o aleitamento materno são muito baixos. Anualmente, os governos dos países de baixa e média renda gastam cerca de 250 milhões de dólares na promoção da amamentação. Doadores internacionais fornecem apenas 85 milhões de dólares a mais.

Recomendações

Coliderado pelo UNICEF e pela OMS, o Global Breastfeeding Collective é um coletivo que busca angariar apoio político, jurídico, financeiro e público para promover a amamentação. A iniciativa fez recomendações aos Estados-membros da ONU. Entre as medidas sugeridas, estão:

  • Aumentar o financiamento para elevar as taxas de amamentação desde o nascimento até os dois anos de vida;
  • Implementar plenamente o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno e as resoluções pertinentes da Assembleia Mundial da Saúde por meio de fortes medidas legais que são aplicadas e monitoradas de forma independente, por organizações livres de conflitos de interesses;
  • Promover a licença familiar remunerada e as políticas de amamentação no local de trabalho, com base nas diretrizes de proteção da maternidade da Organização Internacional do Trabalho (OIT) como requisito mínimo, incluindo provisões para o setor informal;
  • Implementar os dez passos para o êxito da amamentação nas maternidades, incluindo o fornecimento de leite materno para recém-nascidos doentes e vulneráveis;
  • Melhorar o acesso ao aconselhamento qualificado para a amamentação, que deve ser parte das políticas e programas integrais de amamentação em estabelecimentos de saúde;
  • Fortalecer os vínculos entre as unidades de saúde e as comunidades, além de incentivar redes comunitárias para que protejam, promovam e apoiem a amamentação;
  • Reforçarem os sistemas de monitoramento que acompanham o progresso das políticas, programas e financiamento para alcançar metas nacionais e globais de amamentação.

Os 23 países que alcançaram taxas de amamentação exclusiva acima dos 60%, entre crianças com menos de seis meses de idade, são Bolívia, Burundi, Cabo Verde, Camboja, Coreia do Norte, Eritreia, Quênia, Kiribati, Lesoto, Malauí, Micronésia, Nauru, Nepal, Peru, Ruanda, São Tomé e Príncipe, Ilhas Salomão, Sri Lanka, Suazilândia, Timor-Leste, Uganda, Vanuatu e Zâmbia.

Fonte: ONU Brasil