FAO pede renovação da vontade política para acabar com a fome na América Latina e Caribe

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Fome na América Latina e Caribe preocupa universidades da região. Foto: PMA/Alejandra LeónA vontade política é o ingrediente fundamental e necessário para erradicar a fome e todas as formas de malnutrição — incluindo o sobrepeso e a obesidade — na América Latina e Caribe, afirmou nesta semana (25) o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva.

“A ideia de que, para acabar com a fome, temos que decidir investir nos mais pobres é agora amplamente aceita por todos os países do mundo”, disse o chefe da agência da ONU em evento que fez parte da programação da 41ª sessão da Conferência da FAO.

Graziano explicou que a América Latina e Caribe — até recentemente considerada um exemplo global na luta contra a fome e a malnutrição — enfrentou o problema com um pacote abrangente de medidas sociais — que incluíram programas de transferência de renda para facilitar o acesso à comida para as pessoas mais pobres e vulneráveis.

A região foi a primeira do mundo a se comprometer em erradicar a fome até 2025 — uma promessa ratificada por todos os países dessa sub-região das Américas, por meio da Iniciativa América Latina e Caribe Livres da Fome (IALCSH).

“Nos primeiros 15 anos do século, a América Latina e o Caribe cortaram a fome pela metade, uma tremenda conquista da qual toda a região pode se sentir orgulhosa”, afirmou o vice-diretor-geral assistente da FAO e representante do organismo na região, Julio Berdegué.

“Nos últimos seis ou sete anos, perdemos o impulso e, desde 2010-2011, não avançamos. Precisamos tirar uma média de 3,5 milhões de pessoas da fome a cada ano se quisermos alcançar a Fome Zero até 2030”, alertou o dirigente.

Berdegué expressou preocupação com a estagnação no combate à fome e enfatizou que esforços deveriam ser redobrados nos territórios onde “o núcleo duro do problema persiste”.

O especialista também ressaltou a importância de renovar a vontade política e voltar a acordos que permitiram o desenvolvimento de sólidos enquadramentos institucionais e sistemas de governança, como as Frentes Parlamentares contra a Fome.

O representante regional da FAO lembrou ainda a aprovação da Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) e destacou a existência dos vários Conselhos Nacionais de Segurança Alimentar e Nutricional. Berdegué também observou o ímpeto dado a programas de transferência de renda e o apoio à agricultura familiar e aos programas de alimentação escolar.

Segundo o dirigente, outro problema que merece atenção dos países é a obesidade — desde 2003, o número de pessoas obesas na região ultrapassou o número de pessoas com fome.

“Hoje, para cada pessoa com fome, há quase quatro pessoas obesas”, disse Berdegué, explicando que o crescimento do sobrepeso deve-se amplamente ao aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, com alto teor de açúcar, sal e gorduras saturadas.

Na avaliação da embaixadora da FAO pela Fome Zero na América Latina e Caribe, a mexicana Guadalupe Valdez, “temos de considerar essa uma luta global, de modo que, em nenhum canto do planeta, uma única criança passe fome”.

“Para alcançar progresso na luta contra a fome e alcançar dietas saudáveis, temos que fortalecer parcerias público-privadas, continuar fortalecendo as leis sobre os programas de alimentação escolar, dar mais apoio à agricultura familiar e regular a rotulagem de alimentos”, acrescentou.

Também presente, o secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México, Víctor Villalobos, detalhou as medidas que o governo de seu país têm implementado para combater a fome e a extrema pobreza.

Em linhas gerais, explicou o dirigente, o plano das autoridades inclui programas para encorajar a produção de culturas básicas, como milho, feijões ou abóbora; apoio à produção de café e cana-de-açúcar; programas para garantir incentivos e preços competitivos para os agricultores; apoio no uso de fertilizantes para cerca de 120 mil produtores de subsistência, bem como programas focados no desenvolvimento do sul do país.

Citando o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, Villalobos completou: “em suma, trata-se de garantir que os que nos alimentam sejam os primeiros a comer”.
 

Fonte: ONU Brasil