Plataforma da Journalism Trust Initiative (JTI), lançada em 18 de maio, inaugura uma nova era para a credibilidade, transparência e sustentabilidade dos meios de comunicação

Plataforma da Journalism Trust Initiative (JTI), lançada em 18 de maio, inaugura uma nova era para a credibilidade, transparência e sustentabilidade dos meios de comunicação

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A ONG internacional Repórteres sem Fronteiras (RSF) anunciou, neste 18 de maio, o lançamento de uma ferramenta digital inédita de transparência, visando promover o jornalismo de credibilidade. Parte da Journalism Trust Initiative (JTI), a plataforma permitirá aos meios de comunicação, a partir de uma autoavaliação, analisar, melhorar e promover a qualidade das suas práticas jornalísticas. O objetivo é construir um ecossistema de informação mais saudável, onde seja possível identificar e promover informações confiáveis e, assim, restaurar a credibilidade do público em geral na mídia.

A JTI se baseia em uma lista de critérios de boas práticas, desenvolvidos pela RSF em colaboração com mais de 130 organizações e atores da indústria de mídia, da academia, dos órgãos reguladores e autorreguladores, empresas de tecnologia e do setor de desenvolvimento de mídia. O quadro de referência foi publicado pelo Comité Europeu de Normalização (CEN). Agora, a JTI está disponível como um aplicativo interativo na Internet.

O funcionamento da plataforma compreende três etapas. Em primeiro lugar, o veículo de comunicação é convidado a realizar, via aplicativo na Internet, uma autoavaliação para verificar internamente sua conformidade com o quadro de referência, o “padrão” JTI. Em seguida, pode optar por divulgar e publicar os resultados da autoavaliação, que assumirá a forma de um relatório de transparência. Por fim, a última etapa do processo consiste em uma auditoria externa, que resulta numa avaliação independente do veículo por um organismo de certificação credenciado. Concluídas as três etapas com êxito, o meio de comunicação será certificado e receberá o selo JTI.

No atual caos informacional, as notícias falsas, a propaganda e os discursos de ódio têm uma vantagem competitiva sobre o jornalismo”, afirma o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire. “Isso tem consequências negativas tanto para o público, por limitar sua capacidade de tomar decisões baseadas em fatos, quanto para a sustentabilidade do jornalismo. Se quisermos sair deste ciclo, temos que reverter essa tendência, incentivando o jornalismo de credibilidade por meio de um mecanismo independente. Ao tratar a adequação e conformidade com padrões profissionais como um ativo tangível e, em última análise, como garantia de sustentabilidade do jornalismo, a JTI se mostra uma iniciativa revolucionária.”

Antídoto para a desinformação

O desenvolvimento da JTI é uma resposta direta à disseminação viral da desinformação nos últimos anos. De acordo com o Barômetro Edelman Trust 2020, cerca de 74% dos usuários da Internet dizem estar preocupados com o fenômeno da desinformação que afeta as redes sociais, e 64% deles recorrem aos meios de comunicação para ter acesso a informações confiáveis. Ao expor a qualidade de seu trabalho, os meios de comunicação não apenas atendem às expectativas do público, mas estendem seu alcance e aumentam suas fontes de receita. A ferramenta única que a JTI oferece permite-lhes atingir esses objetivos, mas também fornecer prova de sua conformidade com o “padrão” da JTI.

A crise de confiança que o jornalismo e os meios de comunicação enfrentam é tal que qualquer iniciativa que sinalize processos editoriais em conformidade e ajude a criar distância entre redações profissionais e disseminadores de desinformação é bem-vinda”, acrescenta o diretor da Associação Mundial de Jornais WAN-IFRA, Vincent Peyrègne. “Independentemente de os meios de comunicação se contentarem com uma simples autoavaliação de seus processos editoriais por meio do aplicativo JTI ou optarem pela certificação completa, a adoção de padrões explícitos ajudará a identificar redações dignas de credibilidade”, completou.

Responsabilizar os meios de comunicação, tranquilizar o público

O combate à desinformação requer a intervenção do público, mas também de empresas, como anunciantes e distribuidores, de forma a distinguir as fontes confiáveis, de qualidade, e as informações duvidosas. A JTI faz essa distinção graças a um mecanismo transparente e normativo, que pode ser lido por algoritmos.

O lançamento do aplicativo digital anunciado hoje acontece após uma fase piloto, em que uma diversidade de 50 veículos de comunicação testaram todos os aspectos da ferramenta. Entre eles, incluem-se a CBC/Radio-Canada, o grupo France Télévisions, a SWI swissinfo.ch (SRG-SSR), o grupo Schibsted, o jornal Tiempo Argentino, a revista alemã DER SPIEGEL, a Colorado Public Radio, a Economedia, na Bulgária, e o The Wire, na Índia.

Noel Curran, diretor geral da European Broadcasting Union (EBU), declarou: “É vital que o público tenha confiança na informação, mas o aumento da desinformação revela que ela corre o risco de se enfraquecer para sempre. A EBU deu total e imediato apoio à JTI e vários de seus membros participaram do processo de padronização para avaliar a credibilidade e indicar as fontes de informação nas quais o público pode confiar. O fato de que esses padrões agora estão disponíveis para meios de comunicação em todo o mundo criará um forte contrapeso em um mundo inundado por notícias falsas.”

A partir de hoje, cada veículo de comunicação pode participar da iniciativa consultando a ferramenta online da JTI, disponível em inglês, francês e espanhol, e criando um perfil para autoavaliação.

Profissionais de mídia interessados podem aprender mais sobre as três etapas do processo da JTI participando de um webinário no próximo dia 7 de junho. Nele, será apresentada uma introdução à ferramenta e representantes de mídias que participaram da fase piloto compartilharão sua experiência.

Fundada numa parceria entre a Comissão Europeia e a Craig Newmark Philanthropies, a Journalism Trust Initiative é uma iniciativa ampla e interdisciplinar que visa melhorar o profissionalismo e a transparência de nosso espaço comum de informação e comunicação.

Fonte: Repórteres Sem Fronteiras