Pontos de atenção e recomendações na cobertura de ataques a escolas

Pontos de atenção e recomendações na cobertura de ataques a escolas

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Ataques a escolas: estudos mostram que a divulgação de imagens e vídeos de agressores na imprensa deve ser evitada, pois pode estimular outros atentados

O ataque à Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, trouxe para o centro do debate vários temas relacionados ao clima e à convivência escolar, que podem ser abordados e aprofundados na cobertura.

Este material complementa um miniguia sobre a cobertura de atentados a escolas publicado pela Jeduca em 2019, no contexto do ataque à escola Raul Brasil, em Suzano (SP). O miniguia pode ser consultado aqui.

Cuidados na cobertura

Nos últimos seis meses, foram registrados pelo menos cinco casos em diferentes partes do país. Além de São Paulo, houve ataque a escolas em  Barreiras (BA), Sobral (CE), Aracruz (ES), Monte Mor (SP).

Segundo o G1, com informações do Instituto Sou da Paz, mais de 10 escolas sofreram ataques desde 2011. A CNN contabilizou 16 ataques em 20 anos, também de acordo com o Instituto.

A frequência não é necessariamente um indício de que esses ataques estão mais recorrentes. Na cobertura, é preciso atentar a esse aspecto, evitando generalizações baseadas em impressões.

Um caminho para evitar abordagens apressadas é buscar ir além do relato do fato e da reconstituição dos perfis do agressor e das vítimas, É importante acompanhar seus desdobramentos e as medidas tomadas pelo poder público em função do ocorrido, tanto na área da educação quanto na de segurança pública. Este pode ser um caminho para traçar um panorama ampliado de um fenômeno complexo como são  os atentados a escolas: geralmente, eles estão associados a um contexto maior na escola, família, comunidade e sociedade. Dessa forma, é possível problematizar e aprofundar análises.

Nessa cobertura, é de grande valia ouvir os diferentes atores envolvidos, em especial, a comunidade escolar. Professores, estudantes, gestores e demais pessoas conhecem o dia a dia da escola e, por isso, podem agregar informações relevantes sobre os desafios que enfrentam e, também, sobre ações e atividades que realizam. Um cuidado, porém, é não ser invasivo ao tentar ouvir essas pessoas. É preciso ter autorização dos gestores ou outros responsáveis para entrar na escola, assim como para fazer entrevistas, gravar imagens e fotografar.

Outro cuidado importante ao cobrir esse tipo de evento é evitar a exposição dos agressores e vítimas, pois agindo dessa maneira a mídia pode colaborar para o “efeito contágio”, ou seja, colaborar para que o caso sirva de inspiração para outros atentados.

A divulgação de imagens ou vídeos dos agressores, como fizeram alguns veículos, pode ter um efeito não desejado, pois podem ser usados por comunidades que valorizam estes ataques, transformando os agressores em heróis. Por isso, em certos países, os veículos evitam dar destaque a essas notícias.

Outro cuidado é com relação à preservação da identidade de crianças e adolescentes envolvidos, mesmo que sejam agressores, como prevêem os artigos 17 e 241 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Assim é preciso tomar alguns cuidados ao publicar imagens e com as entrevistas.

A questão do clima escolar

As pesquisas indicam que as diferentes manifestações da violência na escola estão relacionadas à qualidade das relações e da convivência entre estudantes, professores e os outros integrantes da comunidade escolar, segundo Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.

A pesquisadora também chama a atenção para o papel de “câmara de eco” que os jogos online e as redes sociais podem desempenhar, funcionando como canalizadores de sentimentos que não são trabalhados em outros espaços, como a família e a escola. Esse aspecto remete à necessidade de encontrar novas maneiras de lidar com a relação que as crianças e adolescentes mantêm com a tecnologia.

Estudo da Fundação Carlos Chagas Social sobre a convivência escolar nos anos finais do ensino fundamental no pós-pandemia mostra que gestores e professores tendem a perceber menos os problemas de relacionamento do que os estudantes – o que indica a necessidade de formação para que os adultos da escola atuem de forma preventiva, a fim de evitar a escalada de violência. O estudo também mostra que estudantes pretos e pardos estão mais sujeitos à violência na escola do que os brancos.

Uma pesquisa da Nova Escola mostra que os professores percebem aumento da violência escolar no pós-pandemia (68,8% dos entrevistados) e relatam falta de apoio para lidar com a agressividade dos alunos.

As investigações do Programa Estudos sobre Juventudes, Educação e Gênero: Violências e Resiliências da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais) mostram que há um perfil comum das pessoas que cometem os atentados a escolas, refletindo o que acontece na sociedade: em geral, são homens e há uma vinculação com discurso de ódio.

A intolerância de raça, gênero e pela comunidade LGBTQIA+, somada a visões autoritárias, são outras características apontadas pelo sociólogo Cesar Bueno de Lima, que pesquisa violência escolar na PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). Ele defende a implantação de práticas restaurativas no ambiente escolar.

Segundo informações publicadas na imprensa, ataques racistas podem estar na origem do conflito que resultou no ataque à escola Thomazia Montoro.

Então, um caminho de apuração pode ser ouvir as secretarias de educação sobre as ações existentes no campo do clima e da convivência escolar, incluindo o relacionamento com a comunidade escolar.

A secretaria estadual de Educação de São Paulo anunciou a contratação de psicólogos e psicopedagogos para as escolas, além de manter um programa voltado para a melhoria da convivência na comunidade.

Quais iniciativas existem nessa área? Existem ações voltadas para lidar com os conflitos no ambiente escolar? Quais espaços estruturados existem para a escuta dos estudantes e para que eles falem sobre suas questões, sentimentos e expressem suas opiniões?

As questões da diversidade e da diferença são abordadas na escola? De que forma, nas aulas ou em atividades extracurriculares?

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Fonte: Jeduca