Crise do clima coloca planeta na rota para colapso, diz relatório

Crise do clima coloca planeta na rota para colapso, diz relatório

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A emergência climática colocou o planeta na rota para a ultrapassagem de cinco pontos de não-retorno, definidos como os limiares para alterações ambientais não reversíveis com graves impactos para a estabilidade da Terra e a sobrevivência da humanidade. A conclusão é de um relatório lançado nesta quarta-feira (6/12) na Conferência do Clima em Dubai (COP28). A pesquisa apontou ainda que outros três limiares podem ser ultrapassados até o final desta década, caso o limite de 1,5ºC de aquecimento do planeta seja rompido.

Liderado pelo pesquisador Tim Lenton, da Universidade de Exeter, na Inglaterra, o Global Tipping Points 2023 contou com a participação de mais de 200 autores e 25 instituições de diferentes países. Além de avaliar os pontos de não-retorno ambientais, negativos, o amplo estudo dedicou-se a analisar os chamados “pontos de não-retorno positivos”. Os limiares positivos são inflexões rápidas que podem conduzir o planeta à superação do colapso climático e a um caminho sustentável e justo de desenvolvimento.

Mantos de gelo da Groenlândia e Antártida Ocidental, recifes de corais de águas quentes, giro subpolar do Atlântico Norte (um sistema de correntes oceânicas frias) e as regiões de permafrost (solos congelados abaixo da superfície visível) são os cinco sistemas que já estão próximos a alterações abruptas e não reversíveis sob o aquecimento atual (de 1,2ºC acima dos níveis pré-industriais), como mostra a figura abaixo.

Além dos cinco sob risco iminente, o mapa ilustra outros sistemas ameaçados, que atingirão pontos de não-retorno em curto prazo caso a humanidade falhe em estabilizar o aquecimento global, entre eles a Amazônia. A ultrapassagem do 1,5ºC de aquecimento representa que a floresta boreal, os manguezais e as pradarias de ervas marinhas estarão muito mais vulneráveis a atingir seus pontos de não-retorno.

“Esses pontos de retorno representam ameaças de uma magnitude nunca antes vista pela humanidade. Estamos falando de impactos como a perda, em escala global, da capacidade agricultável das principais culturas básicas”, declarou Tim Lenton na coletiva que lançou o estudo nesta quarta em Dubai.

A agricultura é principalmente ameaçada em caso de colapso da AMOC, corrente oceânica (representada na imagem acima pela marca lilás sobre o oceano atlântico) que transporta água quente dos trópicos para o Atlântico Norte e tem forte influência sobre o clima. “O colapso da Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico [AMOC, na sigla em inglês para Atlantic Meridional Overturning Circulation] combinado ao aquecimento global pode causar a perda de metade da área global para cultura de trigo e milho”, diz o relatório.

Já a segurança hídrica, alimentar e energética é ameaçada, além do próprio colapso da AMOC, pelo ponto de não-retorno da Amazônia (que corre o risco de “savanização”), o derretimento das calotas polares e o derretimento do permafrost. Atingir os pontos de não-retorno nesses sistemas terá, ainda, impactos na saúde, nos serviços ecossistêmicos, nas comunidades e economias, segundo o estudo.  “O não-retorno na Amazônia seria uma catástrofe para a biodiversidade, contribuiria para o aquecimento global e regional, poderia expor 6 milhões de pessoas a riscos diretos de estresse térmico extremo e causar prejuízos entre US$1 trilhão e US$3 trilhões”, aponta o texto.

O relatório destaca ainda o “efeito cascata” causado pela ultrapassagem dos pontos de não-retorno, quando o colapso de um sistema pode levar ao colapso de outro. “Isso irá  multiplicar crises, da mesma forma que a pandemia de Covid-19 causou um efeito cascata em sociedades e sistemas econômicos globalmente, com consequências desiguais e injustas”, destacam os autores. “Os pontos de não retorno mostram que a ameaça representada pela crise climática e ecológica é muito mais severa do que comumente se entende”.

Entre as seis recomendações urgentes apresentadas para evitar o colapso, a primeira e mais importante, é claro, é a eliminação dos combustíveis fósseis e das emissões por desmatamento. “A escala da ameaça representada pelos pontos de não-retorno do sistema planetário reafirma a importância fundamental da meta de 1,5ºC de aquecimento, e significa que a mitigação em escala global deve, agora, assumir um ritmo de emergência”, sentenciam os cientistas. Eles defendem a eliminação das emissões de fósseis até antes de 2050, aliada ao encerramento urgente das emissões por mudanças no uso da terra.

Além da redução drástica nas emissões, o relatório indica o fortalecimento da governança para adaptação e compensação de perdas e danos, para apoio a comunidades vulneráveis e afetadas pelos impactos já sentidos da mudança do clima. Os autores sugerem ainda que a discussão dos pontos de não-retorno seja incluída no balanço do Acordo de Paris, o Global Stocktake que deve ser concluído na COP28, e levadas em consideração para futuras revisões das metas de cada país ao tratado (NDCs, na sigla em inglês).

O relatório defende ainda esforços coordenados nas políticas para induzir os pontos de não-retorno positivos. “A história humana está repleta de exemplos de mudanças sociais e tecnológicas abruptas. Exemplos recentes incluem os aumentos exponenciais na eletricidade renovável, o alcance global dos movimentos de justiça ambiental e a rápida expansão dos veículos elétricos. A ameaça de pontos de virada negativos poderia ser mitigada se houvesse um esforço vasto para desencadear outras oportunidades de pontos de virada positivos”, sugerem os autores.

 

Fonte: Observatório do Clima

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