Farol Jornalismo lança guia sobre uso de IA no jornalismo

Farol Jornalismo lança guia sobre uso de IA no jornalismo

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Seguindo algumas das tendências para o jornalismo neste ano, o Farol Jornalismo publicou o guia “O mínimo que um jornalista precisa saber sobre Inteligência Artificial para começar 2024”. O documento reúne os principais conteúdos sobre o tema veiculados pela organização em 2023, sobretudo em sua newsletter semanal. A publicação é uma tentativa de organizar a abundância de informações sobre o tema desde o lançamento do ChatGPT, há pouco mais de um ano.

“Esse primeiro ano do ChatGPT (novembro de 2022 a novembro de 2023) trouxe consigo um compreensível hype em torno disso que amplamente acabamos chamando de inteligência artificial e, mais especificamente, sobre os grandes modelos de linguagem. Nunca se falou nem se publicou tanto a respeito desse assunto, que é bem amplo mesmo e pode ser abordado por diversos ângulos: problemas, oportunidades, disputas, uma infinidade de ferramentas com diversas utilidades diferentes etc”, afirma Giuliander Carpes, autor do guia.

Carpes é o jornalista do Farol responsável por tratar de todos os textos sobre o tema. A ideia de criar o guia foi vista como uma oportunidade de organizar o repositório do material levantado pela organização. “A gente viu nisso uma grande oportunidade de 1) ajudar nossos assinantes a darem sentido à enxurrada de material que foi produzido sobre esse assunto durante o período e 2) ratificar para os nossos assinantes o valor que o Farol tem como um espaço para agregar o conhecimento que está sendo produzido sobre as tendências do jornalismo todas as semanas na nossa newsletter”, explica ele.

Principais conteúdos sobre Inteligência Artificial (IA) e definições da tecnologia

Alguns tópicos são apontados pelo guia como os mais debatidos nas redações e organizações de jornalismo: as disputas de poder em torno da nova tecnologia, quais são as ferramentas disponíveis hoje, diretrizes éticas, legislação e regulação e  funcionamento. Também é ressaltada a definição de tecnologias de grande modelo de linguagem (LLMs, na sigla em inglês), que se encontram dentro da IA chamada de generativa.

Há um destaque para o ChatGPT, um chatbot on-line desenvolvido pela OpenIA, laboratório estadunidense de tecnologia, que é tido por especialistas como a melhor das tecnologias de machine learning da atualidade. O guia cita alguns artigos que explicam detalhadamente o seu funcionamento e a razão para ser considerada uma ferramenta superior a outras, apesar dos avanços e do alcance do uso de IAs.

O guia também lista cursos interessantes sobre o assunto, com enfoque em jornalismo, que exemplificam como a imprensa pode fazer uso dessas tecnologias para benefício próprio. As vantagens listadas incluem uma maior eficiência na produção de notícias, nas etapas de idealização, produção e distribuição dos conteúdos jornalísticos. Há uma lista de ferramentas úteis para cada uma dessas etapas, que podem ser utilizadas por jornalistas em grandes e pequenas redações.

Problemas do uso de IA

Há também uma sessão dedicada a abordar os principais problemas e implicações do uso de IA no jornalismo. Por se tratar de uma tecnologia recente, ainda carece de diretrizes bem difundidas, o que pode acarretar dilemas éticos.

Um dos problemas é a falta de confiabilidade das informações coletadas pelas ferramentas de IA. Por não terem sido desenvolvidas para a produção de conteúdos jornalísticos, não há um rigor de checagem dos fatos que garanta a qualidade da informação. A etapa criativa dos textos também fica comprometida, porque não se compara com a atuação de um repórter na sugestão de pautas e identificação de sua relevância para o interesse público.

Outro problema frequente do uso de IA é a violação de direitos autorais. Quando as LLMs pegam trechos de informações já existentes, não atribuem devidamente os autores do conteúdo utilizado. Além disso, 90% dos conteúdos utilizados para treinar as ferramentas são de autoria de pessoas e de organizações do Norte Global. Esse cenário, batizado por especialistas de “colonialismo de dados” , pode reforçar estereótipos e preconceitos, além da falta de diversidade.

Diretrizes e recomendações

O guia conclui que a inclusão de IAs em redações, apesar de interessante, deve sempre ser acompanhada e checada por editores humanos, o que pode incluir a criação de uma equipe específica para a tarefa. Alguns veículos de comunicação que já utilizam a tecnologia publicaram suas diretrizes para o uso, como é o caso do Núcleo e do Estadão.

É defendido também que organizações busquem se informar sobre o avanço da tecnologia, a fim de se preparar para uma possível nova configuração do modelo de negócios do jornalismo, há pouco alterado pela popularização das redes sociais e plataformas digitais. Há a necessidade de se proteger contra a apropriação das plataformas de notícias pelas chamadas Big Techs, proprietárias dessas tecnologias, e que seu uso não signifique a perda da autonomia do jornalismo.

“Sobre o guia, eu acho também que ele vai além de só pontuar os assuntos para propor reflexões importantes que precisam ser aprofundadas nas discussões entre jornalistas, meios de comunicação, Academia e a sociedade de uma maneira geral. Por exemplo, pesquisadores têm colocado a disseminação da utilização da IA no jornalismo como mais um capítulo da plataformização do jornalismo, que já tem feito há alguns anos a indústria de notícias perder autonomia sobre os seus produtos para as plataformas digitais dominantes. O custo ambiental da IA também é enorme. Vale a pena? Talvez a gente precise chegar a respostas para esse tipo de pergunta de forma conjunta entre as organizações de notícias e os jornalistas. Levando em conta o histórico de fragmentação da indústria perante novas tecnologias e nossa falta de unidade como classe, será que isso é possível?”, questiona Carpes.

 

Fonte: Abraji

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