

Estudo revela conexões entre garimpo ilegal e exploração sexual na Amazônia
Um novo estudo da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e do Instituto Conviva lançou luz sobre os impactos sociais do garimpo ilegal no território amazônico. Além da contaminação do solo e da água, a atividade também está intimamente relacionada a outras ilegalidades, em uma cadeia de crimes que envolve exploração sexual, tráfico humano e trabalho análogo à escravidão.
O mapeamento combinou análise documental com entrevistas realizadas entre 2022 e 2024 em comunidades de Manaus (AM), Altamira (PA), Porto Velho (RO) e Boa Vista (RR), e identificou 45.065 concessões minerárias na Amazônia, das quais 21.536 invadem Áreas Protegidas. O critério de tráfico humano seguiu a Convenção de Palermo, incluindo casos de coerção e falsas promessas.
O ponto de partida do estudo é um dos marcos mais trágicos da história indígena no último século – o massacre de Haximu, em 1993, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como um crime de genocídio contra o Povo Yanomami. O caso resultou na morte brutal de pelo menos 16 pessoas.
A partir de dados da Universidade Federal de Roraima (UFRR), a pesquisa identificou 309 casos de pessoas em situação de tráfico humano, sendo 57% mulheres migrantes, muitas delas submetidas à exploração sexual. Crianças, homens e pessoas LGBTQIAPN+ também figuram entre as vítimas. Segundo Márcia Maria de Oliveira, pesquisadora da UFRR, a marginalização nesses locais afeta desde cozinheiras até garimpeiros, muitos em situação de alta vulnerabilidade.
Os garimpos modernizados, equipados com “arsenais de guerra” e cada vez mais controlados pelo crime organizado, ganham no estudo o nome de “narcogarimpos” e operam redes de tráfico de drogas, armas e pessoas Amazônia adentro, aproveitando rotas aéreas e fluviais sobretudo entre Colômbia, Venezuela e Brasil.
O relatório alerta que a cultura de dominação dos garimpos se espalha para as cidades, com agressores reproduzindo padrões de violência fora desses territórios.
O levantamento encontrou uma correlação entre a expansão garimpeira e o aumento de femicídios nas regiões estudadas: “O garimpo tem produzido relações de dominação pautadas pela violência contra as mulheres não apenas no território do garimpo, porque o mesmo agressor forjado no garimpo circula pelas cidades e muitas vezes reproduz essa violência em outras mulheres fora do ambiente do garimpo”.
Fonte: ClimaInfo
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