Quais são os elementos que colaboram para a construção de uma boa matéria?

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1. Entreviste várias fontes. Isso é essencial para qualificar a reportagem. O jornalista não precisa incluir todas elas na matéria, mas, normalmente, quanto mais pessoas entrevistadas, maior a capacidade de contextualizar o assunto e construir uma visão mais complexa sobre ele.

Além disso, ao incorporar vários tipos de fonte, o jornalista colabora para diversificar os pontos de vista sobre uma questão, contribuindo para o debate e a reflexão. Consulte o Banco de Fontes deste site para obter sugestões de entrevistados.

2. Consulte sempre a legislação sobre o tema, especialmente o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Isso ajuda a fundamentar a abordagem dos problemas que afetam as crianças e adolescentes brasileiros, a partir da perspectiva de sujeitos de direito em condição peculiar de desenvolvimento.

Em relação ao tema da violência, no ECA, constam as punições previstas para atos infracionais praticados por crianças e adolescentes. Já no Código Penal, encontram-se as estipuladas para crimes cometidos contra eles.

Além do ECA, existe um conjunto de documentos nacionais e internacionais que ajudam a contextualizar e a aprofundar a abordagem de temas relativos a esses segmentos etários, que podem ser acessados aqui (hipervinculo com a seção Legislação do nosso site novo).

3. Seja cauteloso e rigoroso na apuração. Julgamentos precipitados podem causar sérios danos à imagem ou à integridade física das pessoas. Evite tratar presos e acusados como criminosos. Não esqueça: acusado só pode ser considerado agressor após a sentença da Justiça.

4. Amplie o foco da abordagem. Não se limite ao relato dos fatos (o que, quem, quando, como, por que). Procure, sempre que possível, evidenciar as conexões do episódio em questão a problemáticas que ajudem a compreender de que maneira ele se insere num contexto mais amplo no País e no cenário internacional – por exemplo, questões de gênero, classe, raça/etnia, orientação sexual, e deficiências.

Lembre-se que para isso não é preciso reproduzir estudos e pesquisas em todos os seus detalhes. Muitas vezes, uma frase ou um dado estatístico faz muita a diferença e ajuda o público a contextualizar e a dimensionar a questão.

5. Seja específico ao utilizar estudos e pesquisas. Todo dado divulgado deve vir acompanhado da fonte de pesquisa (instituição responsável pela apuração), o ano da realização do estudo e o recorte etário, além do tipo do estudo – se de corte quantitativo, amostral, qualitativo etc.

6. Seja sensível na abordagem do personagem. Um personagem pode ser, em algumas ocasiões, a tradução viva do problema e um recurso para driblar a escassez de estatísticas. Mas tome cuidado para, ao contar sua história, não expor ou revitimizar a criança ou adolescente, especialmente em matérias sobre violência sexual ou trabalho infantil.

Outro cuidado a se tomar é não reduzir a história do personagem a uma ilustração ou exemplo de um dado estatístico, reforçando a validade deste. Procure, sempre que possível, integrar a história ao relato, equilibrando a dimensão individual e a geral.

7. Busque apresentar alternativas e soluções para os problemas focalizados na matéria. Não se limite a denúncias. Embora estas sejam importantes para chamar a atenção do público e dos tomadores de decisão para uma determinada questão, cabe ao jornalista dar um passo além, apresentando propostas e soluções, a fim de colaborar para o avanço do debate público.

8. Evite generalizações. Ao apontar a má conduta de membros de corporações ou autoridades, lembre-se que se existem pessoas corruptas, há também outras sérias e comprometidas na defesa dos direitos de crianças e adolescentes, bem como na prevenção da exploração e punição dos envolvidos.

9. Escape do maniqueísmo. Não invista no desenho de perfis como o de vilão ou de herói da reportagem, para não comprometer um debate público mais produtivo.

10. Evite o sensacionalismo. Sensacionalismo torna a matéria pobre e contribui para revitimizar as crianças e adolescentes. E há mais: esse tipo de enfoque gera na sociedade um sentimento de impotência ou de tolerância, além de banalizar ou naturalizar o problema e estigmatizar a vítima.

11. Inclua informações de serviço. É recomendável que as reportagens incluam endereços, telefones, e-mails e sites de organismos como os Conselhos Tutelares, Conselhos de Direitos ou Ministério Público, além de órgãos de governo e organizações da sociedade civil.

12. Acompanhe os casos. Monitore os desdobramentos da sua reportagem. Suítes ou série de reportagens são importantes para que o público conheça os resultados gerados pelas notícias. Essa é uma forma de cobrar medidas das autoridades responsáveis.