11 milhões de crianças podem morrer por câncer até 2050, prevê estudo

Veículo: Revista Galileu - BR
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Um novo estudo aponta que, devido à falta de investimentos, 11 milhões de crianças vão morrer de câncer até 2050. O relatório, publicado nesta segunda-feira (30) no periódico The Lancet Oncology, foi realizado por uma comissão formada por especialistas do mundo inteiro. 

De acordo com o documento, dessas 11 milhões de mortes, mais de 9 milhões (84%) devem ocorrer em países de baixa e média renda, onde os investimentos em tratamento e diagnóstico são ainda menores. “Por muito tempo, houve um conceito equivocado generalizado de que cuidar de crianças com câncer em países de baixa e média renda é caro, inatingível e inadequado por causa das prioridades de saúde concorrentes. Nada poderia estar mais longe da verdade", diz o professor Rifat Atun, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e co-presidente da comissão.

Mesmo que nas últimas décadas o tratamento e o diagnóstico do câncer tenham melhorado, as desigualdades no investimento e no acesso à assistência médica resultaram em disparidades mundiais na sobrevivência de crianças. O estudo estima que 80% dos pequenos diagnosticados com câncer nos países de alta renda viverão por mais de cinco anos; em nações mais pobres, esse índice cai para menos de 30%. Na África Oriental, a taxa é de apenas 8%.

Para fazer as estimativas, os autores usaram uma nova modelagem que, pela primeira vez, leva em consideração as fraquezas dos sistemas de saúde, prevendo estimativas nacionais e globais de incidência de câncer, sobrevivência e mortalidade de crianças até 14 anos em 200 países, até 2050.

Cerca de 13,7 milhões de crianças devem desenver câncer em todo o mundo entre 2020 e 2050 – mais de 10 milhões desses casos ocorrerão em países de baixa renda e cerca de 939 mil em países ricos. Desses, 6,1 milhões de casos (45%) serão deixados sem diagnóstico e tratamento. No sul da Ásia e na África subsaariana, a previsão é que um em cada dois novos casos de câncer não serão detectados.

Impacto na economia
A comissão também analisou o retorno do dinheiro investido em intervenções sociais e de saúde – como acesso à atenção aos pacientes e encaminhamento para tratamento (por exemplo, quimioterapia, radioterapia, cirurgia), além de serviços para reduzir o abandono do tratamento. Eles descobriram que mais de 6 milhões de mortes infantis por câncer poderiam ser evitadas em todo o mundo nos próximos 30 anos – mais da metade (56%) do total de 11 milhões de mortes projetadas.

O relatório também oferece um forte argumento econômico para investir na expansão da cobertura das três intervenções globalmente. Os custos cumulativos de tratamento de US$ 594 bilhões serão compensados, prevê o relatório, por ganhos globais de produtividade ao longo da vida de US$ 2.580 bilhões entre 2020 e 2050 – produzindo um benefício líquido de quase US$ 2 mil, que inclui países de todos os níveis de renda.

“Nossas descobertas indicam que US$ 20 bilhões em investimentos por ano durante 30 anos podem trazer um retorno de US$ 3 para cada dólar gasto. Isso deve tranquilizar os políticos de que um retorno considerável sobre o investimento é viável”, diz Carlos Rodriguez-Galindo, do Hospital de Pesquisa Infantil St. Jude Children, nos EUA, e co-presidente da comissão. "Sem esse investimento para deter milhões de mortes desnecessárias por câncer na infância, é improvável que atinjamos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável".

“Melhorar os resultados do câncer infantil salvará milhões de vidas e gerará 2 trilhões de dólares em benefícios econômicos. Mas isso exigirá forte liderança política, solidariedade global, ação coletiva, participação inclusiva de todas as principais partes interessadas e alinhamento de esforços nacionais e globais para expandir o acesso a cuidados efetivos e sustentáveis para crianças com câncer”, diz Rifat Atun. “Somente então todas as crianças diagnosticadas com câncer poderão usufruir de acesso equitativo a ótimos cuidados, melhor saúde, chance de atingir uma idade adulta satisfatória e produtiva e a dignidade que merecem.”