Além do Bê-A-Bá: Ceará avança e busca adequar aprendizagem

Veículo: Diário do Nordeste - CE
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Ana Carolina Fernandes não lembra do momento em que começou a ler, entretanto, aos sete anos de idade participou, pela primeira vez, da Bienal do Livro de Fortaleza, com um texto escrito por ela. A menina é aluna do 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Pública Maria Carvalho Martins, no Itaperi. Na mesma escola, a pequena Ana Miriam Bezerra, de seis anos, do 1º ano, não titubeou nem um instante ao ler, mesmo que devagar, os primeiros parágrafos de um livro escolhido por ela na biblioteca da instituição onde estuda desde os quatro anos.

O garoto Marcos Christian Silva aos sete anos conta que gosta da literatura, mas sua paixão maior é a matemática. O panorama em si, tão cotidiano nos dias atuais, parecia praticamente impossível no Ceará há uma década. Na época o cenário da educação básica no Estado era calamitoso e o analfabetismo funcional (ler e escreve com extrema dificuldade e não entende o que ler) uma realidade cruel constatada em pesquisa que não só desvendou o tamanho do problema, como também, alertou que era hora de começar a transformar o presente e futuro de seus crianças e jovens.

"O primeiro passo do Ceará foi firmar compromissos", aponta a vice-governadora Izolda Cela, uma das idealizadoras e precursoras do programa. Em paralelo, conseguindo com que o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) fosse implantado como política pública, independente de quem esteja no poder estadual ou municipal, o segundo, pactuando com municípios, Associação dos Prefeitos, Unicef, entre outros, que o programa passou, a partir dali (maio de 2007), ser prioridade.

E tudo começou a mudar. O Ceará deu um salto nos níveis de aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental, aferidos pelo Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb), que mede a qualidade da educação no Brasil. O Estado amargava, em 2007, desempenhos péssimos na alfabetização, onde 32,8% completavam oito anos sem ler e nem escrever. Além disso, 14,6% eram analfabetos escolares. No ano passado, após todo o esforço empreendido, os números foram outros: 73,9% têm nível desejado e outros 12,2% com padrão suficiente. "Isso quer dizer que 86,1% de nossas crianças até os sete anos saem do 2º ano alfabetizados", celebra a vice-governadora.

Pactuação

No entanto, garante, o objetivo não é apenas a quantidade – alcançar a meta de alfabetizar todas as crianças até os sete anos e na 2º ano – como também a qualidade e a continuidade desse processo. "Saímos de uma situação bem complicada: o desempenho do aluno ruim, falta de formação adequada de professores da rede e a falta de comprometimento dos municípios, pois cada vez que mudava um gestor, mudavam também tudo que estava se fazendo", comenta.

Para ela, cinco fatores foram fundamentais na implantação do Paic: a pactuação com os municípios que, independente de política e mudança de prefeitos, o compromisso e foco na educação não se alterariam; investimento na formação de professores; diagnóstico permanente de aprendizagem; definição de critérios técnicos para a seleção de núcleos gestores escolares, priorizando o mérito e gerenciamento de planos de ação na educação infantil, com espaços adequados, incentivar a contação de histórias, literatura. "É um circuito integrado e perene. Hoje, trabalhamos juntos, com a corresponsabilidade dos municípios e motivação da equipe", diz.

Não é à toa a divulgação de recentes resultados: a etapa que vai do 2º ao 5º ano, das 100 melhores escolas públicas do País, 77 estão no Ceará. O ranking revela ainda que as primeiras 24 posições são todas ocupadas por escolas cearenses. No topo do índice, aparecem empatadas com nota 9,8 as municipais São Joaquim, localizada no município de Coreaú, e a escola Emílio Sendim, da cidade de Sobral. "É preciso avançar", reconhece Izolda. (LG)

Origem da escrita e leitura remota

Segundo relatos históricos e arqueológicos, foi na Babilônia onde tudo começou. Hoje, dessa cidade só restam ruínas na região Mesopotâmica do Egito. Seu povo foi o precursor de muitos avanços da civilização como, por exemplo, agricultura, arquitetura, comércio, astronomia, direito, escrita. Nesse local, surgiram as primeiras inscrições do que viria a consumar o nascimento de uma prática revolucionária – a leitura. Ainda na Antiguidade deu- -se importância no aprendizado da leitura e da escrita, onde grandes civilizações como a helênica e a romana se tornaram modelo introduzindo sua juventude na aprendizagem das primeiras letras e assim, expandindo essa atividade educacional, deixando a responsabilidade de alfabetizar a um órgão educacional – a escola. Antes do século XVII as instituições de ensinar a ler e a escrever se expandiram de um modo paulatino e irreversível, alcançando aos poucos todas as áreas da sociedade. Isto levou alguns autores como Magnani (1989) a escrever que “para ler e escrever é preciso,  tes de mais nada, ser alfabetizado, tarefa que, em nossa sociedade, cabe historicamente à escola”.