Benefícios de uma infância saudável em meio à natureza

Veículo: Estado de Minas - MG
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Em um mundo tão “corrido” e sempre em exaustão, manter o meio ambiente quase que como um amigo é muito importante, principalmente para as crianças. O contato direto com a natureza pode trazer benefícios inimagináveis para o desenvolvimento dos pequenos e dos adolescentes, em cada um de seus aspectos: intelectual, social, emocional, espiritual e físico.

“Estudos comprovam que o déficit de natureza na vida dos pequenos pode trazer prejuízos físicos, motores, mentais e emocionais. Diante desse cenário, atividades ao ar livre e que conectem meninos e meninas com o meio ambiente passaram a ser recomendação médica”, afirma Melissa Barbosa, gerente de educação e engajamento da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

“O convívio com a natureza na infância, especialmente por meio do brincar, ajuda a fomentar a criatividade, a iniciativa, a autoconfiança e a capacidade de escolha, de tomar decisões e resolver problemas, o que por sua vez contribui para o desenvolvimento de múltiplas linguagens. Isso sem falar nos benefícios mais ligados ao campo da ética e da sensibilidade, como encantamento, empatia, humildade e senso de pertencimento. Cada vez mais se reconhece a natureza como prevenção para doenças físicas e mentais.”

Estudos mostram o que pais e educadores sensíveis atestam cada dia mais – “as crianças ficam mais fortes, concentradas, criativas e motoramente hábeis quando têm a oportunidade de brincar ao ar livre com frequência”, pontua Laís Fleury, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e coordenadora do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana.

O biólogo Thiago Piazzetta Valente, de 39 anos, e a também bióloga Marília Ceccon Valente, de 38, pais de Matheus Ceccon Valente, de 4, e Henrique Ceccon Valente, de 2, incentivam o contato com a natureza desde sempre.

“Desde que eles eram bebês, comecei a levá-los para conhecer áreas naturais, andar na floresta, perceber as diferenças e o tamanho das árvores, e considero isso essencial para que eles, no futuro, também possam ter esse olhar de que eles são parte da natureza, de que eles vêm dela, que as nossas ações interagem com a natureza e a natureza nos devolve.”

O pai conta que eles já têm a percepção de onde vem o mel, “de ver as colmeias de abelha que a minha esposa tem. Então, todos esses serviços que a natureza nos presta eles têm ciência. E é importante também a criação de seres humanos mais confiantes, mais resilientes e adaptáveis, porque eu acho que a natureza tem disso por não ser tudo tão previsível e tão igual”, conta o pai.

Para Thiago e Marília Valente, não existe uma regra mágica. Mas eles acreditam que a cada nova dose de incentivo, os meninos se apaixonam pelo que, hoje, é parte do trabalho dos pais.

“Buscamos até nas nossas horas de lazer estar em contato com a natureza. E mesmo agora com pouco espaço em nosso apartamento, buscamos encontrar a presença do meio ambiente em nossa casa, como uma formiga, para lhes mostrar que eles são parte da natureza e ela parte deles enquanto pequenos seres.”

COMPORTAMENTO

Corpo e mente agradecem, e muito, esse contato da criança com a natureza. Isso porque o convívio com o meio ambiente na infância e na adolescência melhora o controle de doenças crônicas como diabetes, asma e obesidade, diminui o risco de dependência ao álcool e a outras drogas, favorece o desenvolvimento neuropsicomotor e reduz os problemas de comportamento.

Além disso, pode ser capaz de proporcionar bem-estar mental, equilibrar os níveis de vitamina D e diminuir o número de visitas ao médico. No âmbito emocional, esse contato com a natureza promove o bem-estar infantil por meio do equilíbrio.

“Infelizmente, pesquisas indicam um aumento preocupante de doenças mentais e depressão entre adolescentes. Por outro lado, existem muitos estudos que comprovam que estimular o contato com a natureza previne o estresse e melhora sintomas de depressão, ansiedade e déficit de atenção. Estamos convencidos de que o contato com a natureza proporciona bem-estar, e ajuda a prevenir uma série de doenças físicas e mentais”, afirma Melissa Barbosa.

Justamente por isso, especialistas recomendam o contato constante da criança com a natureza, em torno de ao menos uma hora diária de brincadeiras e convivência junto ao meio ambiente. Porém, é importante que haja um equilíbrio entre as tarefas escolares e o tempo livre, priorizando atividades ao ar livre e em locais com árvores, flores, terra e água. Todas as brincadeiras que proporcionem esse contato devem ser incentivadas desde a primeira infância, indica Melissa.

Porém, alguns “obstáculos” podem surgir, fazendo com que as crianças prefiram realizar outras atividades ou até mesmo tomar repulsa pelo ambiente natural.

“É preciso refletir sobre isso, pois o que fazia parte das brincadeiras diárias há um tempo, agora se torna um raro evento. A preocupação com a segurança, a falta de tempo em família e o excesso de telas, que leva a uma hiperconexão virtual, podem ser obstáculos. Por isso, é importante que pais, cuidadores e educadores reflitam sobre as possibilidades de estabelecer uma relação mais saudável e conectada com o mundo natural.”

E como superar isso? Além de um esforço das famílias e instituições de ensino, a gerente de educação e engajamento ressalta que também é importante destacar o papel do poder público.
“A sociedade pediátrica exige que áreas naturais bem mantidas estejam acessíveis a crianças e adolescentes, que estejam a menos de dois quilômetros de onde vivem. Movimentos globais vêm ganhando força nesse sentido, chamando a atenção para a necessidade de reconectar as crianças com a natureza. A população deve buscar, coletivamente, a ampliação de espaços verdes em seus bairros e comunidades.”

RISCOS? 
Estar em contato com a natureza proporciona autonomia e descobertas, novos desafios e a oportunidade de resolução de problemas. Porém, é importante que os pais e/ou responsáveis avaliem os eventuais riscos em cada ambiente e garantam a supervisão e o acompanhamento necessários de acordo com a idade dos filhos. Isso porque, apesar dos benefícios causados pelo contato com o ambiente natural, algumas intercorrências podem ocorrer, como machucados ou “encontros” inesperados com animais.

“Como pais e mães, também precisamos entender que ralar o joelho e se machucar faz parte do jogo. O cuidado excessivo pode fazer com que nossos filhos cresçam em redomas e cheios de medos”, pondera a gerente de educação e engajamento da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Por outro lado, em meio à pandemia de COVID-19, Laís Fleury lembra que as preocupações devem residir em outros “vilões”. “O cuidado deve ser com as aglomerações e o contato físico com outras pessoas, uma vez que o vírus é transmitido pelas vias aéreas e é altamente contagioso. É importante seguir os protocolos básicos, como uso de máscaras e álcool em gel, entre outras medidas”, recomenda.

PANDEMIA 

Em razão da pandemia de COVID-19, o isolamento social é importante aliado da boa saúde e prevenção contra a infecção pelo Sars-CoV-2. Para Melissa Barbosa, o meio ambiente, nesse cenário, pode se tornar uma boa “válvula de escape”, contribuindo para evitar efeitos físicos e psicológicos do distanciamento.
“As atividades ao ar livre podem mitigar danos mentais e físicos deste período de pandemia, que naturalmente traz mais ansiedade para as famílias. Portanto, dentro das possibilidades de cada local, vale a pena consultar a disponibilidade de visita a parques, praças, unidades de conservação e reservas naturais, entre outros locais. E sempre lembrar de manter o cuidado e a distância de aglomerações e grandes deslocamentos.”

Segundo a gerente de educação e engajamento da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, é importante que as pessoas tenham em mente também que a natureza está mais perto do que muitos imaginam. Desse modo, esse contato com a natureza pode ser feito no próprio quintal de casa, nas plantas na sacada, nas nuvens e chuva, por exemplo. Justamente por isso, a pandemia não impossibilita buscar os benefícios do meio ambiente na vida de crianças e adolescentes.