Câncer infantil: conheça os tipos mais comuns de tumor e os principais sintomas

Veículo: GaúchaZH - RS
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Criado em 2002 pela Childhood Cancer International (CCI), o Dia Internacional do Câncer na Infância é uma campanha global que marca, anualmente, o 15 de fevereiro. O objetivo é conscientizar sobre o risco da doença e expressar apoio às crianças e aos adolescentes acometidos. De acordo com essa organização sem fins lucrativos, mais de 400 mil pacientes com menos de 20 anos são diagnosticados com câncer no mundo a cada ano.

Quando o diagnóstico é feito precocemente e o tratamento segue os protocolos apropriados, até 80% dos tumores infantis são curáveis. No entanto, a taxa de sobrevivência varia conforme a região, e aproximadamente oito em cada 10 crianças com a doença vivem em países de baixa e média renda, onde esse índice é de apenas 20%.

Faixa etária

Alguns tumores são mais frequentes entre o primeiro e segundo ano de vida da criança, como, por exemplo, os retinoblastomas (cânceres da retina) e os abdominais. As leucemias ocorrem principalmente entre os dois e seis anos de idade e os tumores cerebrais, em crianças com menos de três anos. Já os cânceres ósseos e os linfomas de Hodgkin são mais comuns em adolescentes e adultos jovens.

Tipos mais comuns

Por ordem de prevalência, são: leucemias agudas, que afetam os tecidos produtores de sangue e representam de 16% a 20% de todos os casos; tumores do sistema nervoso central; e linfomas, que atingem o sistema linfático. Juntas, essas três doenças correspondem a quase 50% dos diagnósticos.

Incidência

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer já representa a primeira causa de morte – 8% do total – por doença entre crianças e adolescentes de um a 19 anos no Brasil, assim como em países desenvolvidos. A CCI aponta que, em todo o mundo, uma criança morre em decorrência de tumores a cada três minutos.

Dados do Inca mostram que o Brasil registrou 8.460 novos casos de tumores infantis em 2020, sendo 4.310 para o sexo masculino e 4.150 para o sexo feminino. No Rio Grande do Sul, a estimativa é de que 500 novos casos sejam diagnosticados por ano. Em relação ao número de mortes, o Atlas da Mortalidade por Câncer informa que, em 2018, foram 2.565 óbitos pela doença no país.

Causas

Mauro Dufrayer, oncologista pediátrico do Hospital da Criança Santo Antônio, explica que todo câncer é causado por uma alteração nos genes, mas que isso não significa necessariamente que a doença seja hereditária. No caso das crianças, ele afirma que a grande maioria dos tumores tem causas desconhecidas, com menos de 5% dos casos sendo herdados de uma alteração genética familiar.

Na maioria das vezes, a criança já nasce com uma alteração genética e, a partir do desenvolvimento, ela vai acumulando alterações genéticas que propiciam o aparecimento desse tumor.”

MAURO DUFRAYER, oncologista pediátrico do Hospital da Criança Santo Antônio.

Algumas síndromes genéticas, como a Down, podem acarretar em uma maior predisposição para determinadas neoplasias, salienta o chefe do Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Lauro José Gregianin. No entanto, diferentemente do que ocorre com os adultos, os hábitos e estilo de vida, como o tabagismo e exposição ao sol, não influenciam o risco de uma criança ou adolescente desenvolver câncer.

O estilo de vida dos pais

Os especialistas relatam que ainda há poucas informações para dizer se o estilo de vida dos pais pode influenciar no desenvolvimento de tumores nos filhos. Lauro José Gregianin comenta que existem estudos que encontraram relações em filhos de adultos que fumavam em grandes quantidades antes do nascimento, por exemplo, mas enfatiza que se trata apenas de uma chance aumentada.

Sintomas e sinais

Sinais de um câncer em estágio inicial são muito parecidos com manifestações de outras doenças, o que pode atrasar o diagnósticoWindyNight / stock.adobe.com

Os sintomas e sinais que as crianças apresentam em decorrência de um câncer em estágio inicial são bastante semelhantes às manifestações clínicas de outras doenças benignas da infância, o que acaba dificultando o diagnóstico, afirma o oncologista pediátrico Mauro Dufrayer. Além disso, os sintomas são muito variados em relação ao tipo de câncer e à faixa etária.

”A evolução dos sintomas de um câncer é bem diferente da evolução de sinais de doenças comuns. A dor no joelho, por exemplo, ela não dura um dia, dois dias. Dura semanas e, apesar do repouso e das medicações, essa dor tende a piorar.”

LAURO JOSÉ GREGIANIN, chefe do Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)

As manifestações mais comuns nas leucemias, por exemplo, são febres de origem indeterminada, palidez, cansaço extremo, manchas roxas pelo corpo e sangramento nasal e oral. Já tumores do sistema nervoso central podem interferir no desenvolvimento da criança e causar aumento do perímetro craniano, fortes dores de cabeça que não melhoram com a medicação e vômitos associados.

O médico Lauro José Gregianin ressalta que a evolução desses sintomas é bem diferente da evolução de sinais de doenças comuns, sendo mais intensa e agressiva. Uma palidez que se acentua ao longo dos dias, por exemplo.

Saiba mais

  • Nas leucemias, a criança se torna mais sujeita a infecções, pode ficar pálida, ter sangramentos e sentir dores ósseas.
  • No retinoblastoma, um sinal importante é o chamado “reflexo do olho do gato”, embranquecimento da pupila quando exposta à luz. Pode haver também fotofobia (sensibilidade exagerada à luz) ou estrabismo.
  • Aumento do volume ou surgimento de massa no abdômen podem indicar tumor de Wilms (nos rins) ou neuroblastoma.
  • Tumores sólidos podem se manifestar por formação de massa, visível ou não, e dor nos membros. Esse sintoma é frequente no osteossarcoma.
  • Tumor de sistema nervoso central tem como sintomas dores de cabeça, vômitos, alterações motoras, alterações de comportamento e paralisia de nervos.

Diagnóstico

O diagnóstico precoce é essencial para determinadas neoplasias, sendo possível identificar e tratar o tumor antecipadamente, sem precisar de medidas agressivas. Quando acriança chega aos especialistas com uma carga de doença elevada, alerta o oncologista Mauro Dufrayer, já têm muito prejuízo e muitas comorbidades associadas ao câncer.

 

Há três modalidades principais: quimioterapia, cirurgia e radioterapia. Pela complexidade, o tratamento deve ser feito em um centro especializado, que o aplicará de forma racional e individualizada para cada tumor e de acordo com a extensão da doença. Para um tratamento adequado, o trabalho deve ser coordenado por uma equipe multidisciplinar, que abrange diversas áreas da saúde.

Cenário do RS

Os especialistas salientam que o Rio Grande do Sul tem uma rede do Sistema Único de Saúde (SUS) que permite aos pacientes da oncologia pediátrica serem encaminhados imediatamente para centros que tenham a capacidade de dar o atendimento adequado. Além disso, avaliam que o Estado tem disponibilidade de leitos e consultas ideais ao número de casos que registra anualmente. Segundo nota enviada pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), a média de tempo para o agendamento de consultas varia de dois até nove dias.

Temas deste texto: Saúde