Crianças negras e pobres são mais expostas a produtos neurotóxicos do que brancas e ricas, diz novo estudo

Veículo: Globo.com - BR
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Crianças negras e de famílias com baixa renda são muito mais expostas a produtos químicos neurotóxicos, resultando em maiores danos ao desenvolvimento do cérebro e em mais atrasos no seu desenvolvimento. Isso é o que aponta uma revisão de cinco décadas de estudos, publicada na revista Environmental Health Perspectives.

Crianças negras
Foto: Eric Raptosh/GettyImages

A revisão abrange mais de 200 estudos que examinaram crianças até aos 18 anos nos Estados Unidos, mostrando como uma história de práticas e políticas discriminatórias que se estende até ao presente expôs as famílias negras e pobres a produtos extremamente tóxicos, desde poluição até chumbo, agrotóxicos e químicos usados na fabricação de produtos de limpeza.

“É mais provável que os bairros [dessas famílias] estejam localizados perto de fábricas de produtos químicos, locais super poluídos, autoestradas e maior tráfego de veículos, ou perto de campos agrícolas onde são aplicados pesticidas”, aponta Devon C. Payne-Sturges, da Universidade de Maryland, co-líder do estudo.

A revisão também concluiu que quando estas exposições são reduzidas, as disparidades nos indicadores de saúde entre brancos e negros nos EUA diminuem. “Se você limpar esses locais dos resíduos perigosos, poderá ver melhorias. Um dos estudos que analisamos forneceu evidências de que a limpeza de um local Superfund beneficia substancialmente o desenvolvimento cognitivo das crianças”, disse Payne-Sturges.

Locais “Superfund” são regiões super poluídas nos Estados Unidos que exigem uma resposta de longo prazo para limpar contaminações de materiais perigosos. Existem pelo menos 40 mil deles no país.

Algumas conclusões dos estudos revisados, que foram publicados entre 1974 e 2022, são:

  • Crianças negras e de baixa renda tiveram maior exposição ao chumbo do que as crianças de famílias com rendimentos mais elevados e as brancas;
  • Elas também foram desproporcionalmente expostas à poluição do ar;
  • Crianças negras e hispânicas foram expostas a níveis mais elevados de pesticidas organofosforados amplamente utilizados na agricultura e de reconhecido impacto nocivo ambiental;
  • Mães negras e hispânicas tinham níveis mais elevados de ftalatos – produtos químicos utilizados em embalagens de alimentos e produtos de higiene pessoal, entre outros, e que são prejudiciais ao organismo;
  • Bebês que vivem em bairros mais pobres e expostos à poluição atmosférica no primeiro ano de vida têm maior probabilidade de serem diagnosticados com autismo do que aqueles que vivem em bairros de rendimentos mais elevados.

“Precisamos de padrões ambientais mais rigorosos para lidar com a poluição que está afetando desproporcionalmente as comunidades de baixa renda e as comunidades de cor”, disse Tanya Khemet Taiwo, a outra autora principal da revisão e professora assistente da Universidade Bastyr, em Seattle. “Mas é igualmente importante que, em primeiro lugar, encontremos uma forma de melhorar os sistemas injustos e as políticas sociais que criam condições prejudiciais”.

Ambos os autores são filiados do Projeto TENDR (Targeting Environmental Neuro-Development Risks, ou “Mirando Riscos Ambientais ao Neurodesenvolvimento”), uma aliança de mais de 50 cientistas, profissionais de saúde e defensores que trabalham para proteger as crianças de produtos químicos tóxicos e poluentes que prejudicam o desenvolvimento do cérebro.

Eles enfatizam a necessidade de políticas governamentais para reduzir o uso de produtos químicos tóxicos, incluindo agrotóxicos; suspender a permissão de novas fábricas de produtos químicos e plásticos perto de comunidades negras e pobres; e adotar proteções mais robustas à saúde nesses locais de trabalho.

“Os órgãos do governo podem agir agora – e não mais tarde – para proteger as famílias dos produtos químicos neurotóxicos presentes nos produtos de consumo e no ambiente”, disse Payne-Sturges.

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