Crianças têm imitado comportamento sexual abusivo depois de assistir pornografia online, alerta relatório

Veículo: Revista Crescer - SP
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Comportamento sexual
Foto: Thinkstock

Comportamento sexual: em entrevistas, menores citam atos como asfixia e estrangulamento, tapas, chutes e chicotadas, relacionados a atos sexuais

Um relatório divulgado nesta terça-feira (9), no Reino Unido, mostrou que crianças estão cometendo atos sexuais violentos depois de terem acesso à pornografia na internet. Segundo a pesquisa, feita pelo Children ‘s Commissioner for England (comissão inglesa que promove os direitos das crianças), menores de idade estão imitando atos sexuais abusivos, incluindo asfixia, estrangulamento, tapas, chutes, chicotadas e socos, que geralmente aparecem nesse tipo de material disponível online. Algumas das crianças chegaram a admitir que foram forçadas a participar de atos sexuais.

Os dados alarmantes foram obtidos por meio de entrevistas policiais com jovens vítimas de crimes sexuais. Metade dos participantes mencionou referências a atividades sexuais violentas, segundo o Daily Mail. Duas crianças disseram que foram tratadas pelos agressores “como uma estrela pornô”.

Diante do relatório, a pedagoga e comissária da organização, Rachel de Souza, pediu medidas mais duras contra a pornografia na internet. “O que essa evidência convincente mostra é que esses atos comumente ocorridos na pornografia também estão ocorrendo em casos terríveis de abuso sexual e violência infantil”, disse ela. “Quando combinamos isso com o que as próprias crianças e jovens nos dizem sobre a influência que a pornografia tem em seu comportamento e bem-estar, acredito que temos um caso mais forte do que nunca para criar proteções mais robustas para crianças na internet. Por muito tempo, varremos a questão da pornografia para debaixo do tapete. Mas não podemos deixar de discutir a natureza, a escala e os impactos da pornografia online”, afirmou.

O relatório analisou quase 12 milhões de palavras, coletadas em centenas de entrevistas policiais, além de documentos de centros de referência de agressão sexual e entrevistas com criminosos. Nas transcrições das entrevistas policiais, 16% das crianças mencionaram tapas, 18% referiram-se a socos e 8% a estrangulamento.

Mais de um quinto – 22% – mencionou xingamentos, 3% falou sobre ser abusado enquanto dormia e 2% sobre ser abusado sob o efeito de drogas. Ao todo, 35% mencionaram atos de agressão física, 22% citaram atos de humilhação e 13% referiram-se a atos de coerção durante o sexo.

“Em várias entrevistas, as crianças que sofreram violência reconheceram que sua exposição à pornografia era excessiva ou insalubre”, disse o relatório, que analisou atos sexuais violentos específicos, comumente vistos na pornografia, para ver se eles aparecem em entrevistas com crianças sobre abuso sexual infantil.

“Muitos casos de abuso sexual de uma criança a outra criança incluem palavras que se referem a pelo menos um desses atos. As próprias crianças, às vezes, traçavam a ligação entre o que acontecia com elas, ou o mal que causavam, e a pornografia”, diz a conclusão do documento.

Uma pesquisa da comissão publicada em janeiro deste ano constatou que 38% das crianças que viram pornografia acidentalmente se depararam com ela online. Em média, as crianças tiveram contato com a pornografia pela primeira vez aos 13 anos.

“Nenhuma criança deve ser capaz de acessar ou assistir pornografia. Aprovar a Lei de Segurança Online deve ser uma prioridade”, apelou Rachel de Souza, sobre o projeto de lei que retorna à Câmara dos Lordes nesta terça-feira. A previsão é de que o texto ganhe emendas sobre a exposição de crianças à pornografia.

Um porta-voz do governo disse na segunda-feira (8) que o projeto de lei foi elaborado para cobrir todos os sites online que hospedam pornografia, acrescentando: “Essas empresas terão que impedir que crianças acessem pornografia ou enfrentarão multas pesadas”.

Como proteger seu filho da pornografia online

Para evitar que esse contato precoce aconteça com as crianças, é preciso saber com o que estamos lidando. De acordo com Bruno Mader, psicólogo do Hospital Pequeno Príncipe, o mais importante é agir preventivamente. “Os pais precisam se interessar por tecnologia. Entender como funcionam as redes sociais, o bloqueio dos aparelhos. Devem estar alertas porque o problema pode acontecer”, explica.

Com tantos vídeos circulando rapidamente, principalmente em aplicativos de mensagens instantâneas, é preciso ficar de olho também no seu próprio aparelho e lembrar de fazer uma limpeza nos arquivos com frequência. Muitas vezes, algum conteúdo impróprio é recebido pelos adultos, passa despercebido e fica armazenado no smartphone. A criança, então, pega o celular e se depara com o material.

Além disso, observar e interpretar o comportamento da criança é fundamental, afinal, por aí é possível identificar quando algo estiver errado. O mesmo vale para a escola, que deve evitar tratar o assunto como tabu.

Se a criança for constantemente exposta a esse tipo de conteúdo pode caber, inclusive, uma ação do conselho tutelar, ou seja, negligenciar nunca é a solução.

Aconteceu. E agora?

E se você descobrir que seu filho tem ou teve acesso a esse tipo de conteúdo no celular, na internet ou na televisão? O que fazer? Veja as dicas do psicólogo:

  1. Os pais precisam fazer uma leitura de si mesmos, ver se sentem a vontade e capazes de abordar o assunto. Nem sempre é necessário procurar um profissional.
  2. Se a primeira reação dos pais for mais agressiva, tudo bem, afinal, eles também possuem emoções. No entanto, depois desse primeiro momento é necessário retomar a conversa e explicar a situação com calma para a criança.
  3. Nesse diálogo, o certo é apontar que aquele conteúdo não é ideal para a idade dela, não usando tom de proibição, mas indicando apenas que não é apropriado.
  4. Caso a escola perceba que algo está acontecendo, deve contatar os pais. Se não houver uma resposta adequada, autoridades competentes podem ser acionadas.
  5. Em um caso mais extremo, no qual a conversa não funciona, os pais devem procurar a ajuda de um profissional que lide com a saúde mental da criança.

 

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