Déficit de natureza ameaça saúde física e mental das crianças

Veículo: Folha de S. Paulo - SP
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Déficit de natureza: Especialistas defendem respiros verdes em grandes cidades para amenizar danos

Déficit de natureza
Foto: Eduardo Knapp/Folhapress

No meio de uma das regiões mais movimentadas de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, uma escola municipal criou uma pequena agrofloresta. Cercada por comércios e em frente a um terminal de ônibus, a área se tornou um “respiro verde” no meio do barulho dos carros e buzinas.

A agrofloresta da Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Borba Gato nasceu há pouco mais de três anos, onde antes estava um terreno baldio que acumulava árvores condenadas. A ideia de criar a mini floresta veio não só da necessidade de recuperar o espaço abandonado que trazia uma série de problemas para a escola, mas também de proporcionar às crianças um maior contato com a natureza.

“Assim como a maioria das crianças de São Paulo, nossos alunos moram em apartamento ou casa sem quintal. No máximo, elas tinham contato com a natureza ao ir para um parque, mas essa vivência precisa ser diária”, conta Priscila Arce, 38, diretora da escola.

A preocupação da diretora da escola vem de encontro com o que pesquisas têm identificado: o contato cada vez mais restrito com a natureza prejudica o desenvolvimento físico e psicológico das crianças. Com eventos climáticos extremos se tornando mais frequentes no planeta, essa ameaça às crianças tende a se agravar.

A solução encontrada pela escola segue uma tendência que tem ganhado força em grandes cidades do mundo, de criar pequenas áreas verdes em regiões muito urbanizadas. Sem demandar grande investimento, esses espaços podem proporcionar um contato mais frequente e benéfico com a natureza.

Foi o que aconteceu na Borba Gato. Em apenas três anos, as crianças passaram não apenas a colher acerola, amora, banana e verduras da agrofloresta, mas o espaço também mudou as atividades e a forma de ensinar da escola. “Assim como a natureza tem o tempo dela, nós passamos a entender melhor o tempo das crianças, dando mais liberdade para desenvolverem as atividades”, conta Priscila.

Os alunos, por exemplo, têm aulas no meio da horta, onde os troncos das velhas árvores condenadas se tornaram mesa e banquinho. Também têm liberdade de deixar as salas no meio das aulas para brincar quando estão com dificuldade de manter a concentração.

O maior contato com a natureza também levou a escola a praticamente se livrar de todos os brinquedos de plástico. “As crianças foram perdendo o interesse nesses brinquedos quando começaram a brincar mais livres. Foi um processo que nasceu delas. Elas passaram a se entreter mais brincando com folhas, gravetos, pedras que encontram nos espaços da escola.”

Elas também passaram a demonstrar menos interesse por atividades online propostas pela escola, como nas lições que precisam usar tablet ou computador.

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