Estudo mostra que crianças indígenas e negras têm mais chances de morrer do que as crianças brancas

Veículo: Jornal Nacional - BR
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Um estudo da Fiocruz escancarou as consequências da desigualdade no acesso à saúde e ao saneamento. A mortalidade infantil é muito maior entre as crianças negras e indígenas, do que entre as brancas.

Na porta de casa o esgoto corre a céu aberto, trazendo mau cheiro e prejuízos para saúde da Alana, que tem apenas três meses.

“Tem criança dentro de casa , praticamente todos os vizinhos tem menino pequeno. E o lazer deles infelizmente é o córrego”, diz o trabalhador autônomo Alan Richard Gomes.

A falta de saneamento provoca doenças e aumenta a mortalidade infantil, principalmente entre crianças indígenas e negras. É o que revela um levantamento da Fiocruz que analisou os registros de nascimento de quase 20 milhões de crianças, de 2012 a 2018.

Os pesquisadores fizeram um cruzamento com os dados do sistema nacional de mortalidade. Diarreia, má nutrição e pneumonia estão entre as causas de morte mais comuns entre crianças de até cinco anos.

“Eu tenho duas crianças pequenas que não param de ir ao posto. Dá muita diarreia, criança com ferida na boca, às vezes aparece ferida no corpo”, afirma Vando Rodrigues de Jesus.

As mortes por diarreia são 72% mais frequentes entre as crianças negras, em relação às brancas. No caso das indígenas, a diferença é ainda mais gritante: 1.300%.

“A gente tem um país historicamente marcado pelo racismo que determina as condições gerais que as pessoas vão viver, a classe social, determina a renda, determina o emprego que a pessoa vai ter, a escolaridade, e daí determina as condições de moradia, o acesso ao serviços de saúde”, lembra a pesquisadora Poliana Rebouças da Cidacs/Fiocruz

Sobreviver nessas condições é o primeiro desafio, não o único. A infância de quem mora em lugares onde não chega nem o básico tem muitas complicações. A falta de saneamento, a fome, a dificuldade de acesso ao atendimento de saúde podem interferir no desenvolvimento intelectual das crianças, comprometendo o futuro de milhares de meninos e meninas que nascem em comunidades como esta.

“Se a criança adoece mais, ela tem um prejuízo na sua qualidade de vida, na qualidade de vida da sua família, ela não vai conseguir alcançar o seu potencial de desenvolvimento, seu potencial cerebral, então, a longo prazo, ela não vai conseguir ter o resultado profissional que ela poderia alcançar”, diz Liubiana Arantes de Araújo, neuropediatra e professora da UFMG.