Ingestão de pilhas e baterias vira risco de morte para crianças, diz estudo

Veículo: O Estado de S. Paulo - SP
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As pilhas de botão estão por toda parte: controles remotos, chaveiros, relógios, brinquedos. E, cada vez mais, elas estão entrando nos corpos das crianças, causando ferimentos e, em alguns casos, morte. De acordo com um artigo publicado na edição de setembro da revista Pediatrics, os atendimentos emergenciais de crianças que ingeriram pilhas e baterias entre 2010 e 2019 mais que dobraram os números de 1990 a 2009. As pilhas de botão estiveram presentes em 85% dos casos.

Quando essas baterias se alojam no esôfago, podem causar sérios danos em menos de 2 horas. Embora as células de lítio sejam mais preocupantes porque são maiores e mais propensas a parar no esôfago das crianças, pilhas-botão também podem causar ferimentos graves, especialmente em crianças menores de 1 ano.

Usando dados do Sistema Nacional de Vigilância de Lesões Eletrônicas da Comissão de Segurança de Produtos de Consumo, nos Estados Unidos, os pesquisadores estimaram que houve 70.322 atendimentos emergenciais de crianças relacionados a pilhas e baterias entre 2010 e 2019. E 90% dos atendimentos tiveram crianças que as engoliram (outras lesões envolveram inserções em nariz, ouvido e boca). A maioria dos casos ocorreu entre crianças de 5 anos ou menos, com o maior número envolvendo as de 1 ano.

O aumento nesses atendimentos de emergência provavelmente pode ser atribuído à maior prevalência das pilhas de botão nas residências, de acordo com Mark Chandler, pesquisador da Safe Kids Worldwide, que conduziu o estudo em cooperação com o Nationwide Children’s Hospital e o Global Injury Research Collaborative, ambos localizados em Columbus, Ohio. Chandler observou que pais e mães muitas vezes não sabem quantos dispositivos em sua casa são alimentados por pilhas-botão e o risco que podem representar para as crianças.

Os pesquisadores concluíram que os esforços de prevenção estão sendo insuficientes para reduzir os atendimentos de pronto-socorro e pediram “esforços regulatórios e adoção de designs mais seguros para reduzir ou eliminar lesões por ingestão em crianças”. Em 16 de agosto, o presidente Joe Biden assinou a Lei de Reese (em homenagem a uma criança que morreu após ingerir uma pilha-botão) A lei colocará esses esforços regulatórios em marcha nos EUA.

A legislação orienta o órgão responsável a desenvolver padrões de segurança para pilhas-botão, com embalagens mais seguras, etiquetas de advertência mais visíveis – nas próprias baterias – e compartimentos mais seguros nos dispositivos, para impedir o acesso de crianças de até 6 anos. A agência tem um ano para emitir as normas.

No estudo da Pediatrics, 12% de todos os casos de ingestão de pilhas e baterias resultaram em hospitalização; as ingestões envolvendo especificamente pilhas-botão foram duas vezes mais propensas a resultar em hospitalização. De acordo com o Sistema Nacional de Dados de Envenenamento dos EUA, 3.467 ingestões de pilhas-botão foram relatadas em 2019; dessas, 207 resultaram em efeitos moderados, 51 em efeitos mais graves e 3 em morte. Mais da metade dos casos envolvia crianças de 6 anos ou menos.

Varun Vohra, toxicologista clínico e diretor do Centro de Informações sobre Drogas e Venenos da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Wayne, informou que a maioria dos casos não resulta em danos graves e as pilhas de botão podem passar pelo sistema gastrointestinal da criança. Mas quando fica alojada no esôfago da criança, as consequências podem ser graves. A umidade das mucosas pode desencadear uma corrente elétrica que provoca uma reação química, ferindo o tecido adjacente (a corrente cria hidróxido, que causa queimaduras alcalinas). “Isso pode causar lesões graves, até mesmo perfuração esofágica, que pode resultar em complicações significativas.” Se o raio X revelar uma bateria no esôfago, ela precisará ser removida imediatamente, por endoscopia ou cirurgia, pois lesões graves no esôfago podem ocorrer em menos de duas horas. Mas a lesão pode progredir mesmo após a remoção da pilha, levando a complicações relativamente raras, como paralisia das cordas vocais ou fístula traqueoesofágica, uma conexão anormal entre a traqueia e o esôfago.

Lei Reese

Foi o que aconteceu com a criança que dá nome à Lei de Reese. Reese Hamsmith, de 18 meses, estava com dificuldades respiratórias em outubro de 2020 que foram inicialmente diagnosticadas como inflamação na laringe. Depois que a família percebeu que estava faltando uma pilha de botão em um controle remoto quebrado e que Reese a havia ingerido, ela passou por uma cirurgia para remover a bateria, mas desenvolveu uma fístula difícil de tratar entre o esôfago e a traqueia. Após semanas de hospitalização e complicações, ela morreu em 17 de dezembro de 2020.

Embora agradecida pela aprovação do projeto, Trista Hamsmith, mãe de Reese, disse que é necessário fazer mais para proteger as crianças. “Precisamos de baterias mais seguras.” Hamsmith, que fundou a organização Reese’s Purpose para defender crianças contra perigos como pilhas-botão, pede aos pais que “sejam muito conscientes de onde as pilhas e baterias estão em suas casas – se optarem por tê-las em casa”. Ela e Chandler deram algumas dicas de segurança para as famílias.

Como agir

  • Faça uma varredura em sua casa: você pode encontrar esse tipo de pilha em lugares surpreendentes, como algumas escovas de dentes elétricas para crianças. “Elas são projetadas para entrar na boca de nossos filhos e são alimentadas por pilhas de botão”, contou Trista Hamsmith.
  • Mantenha quaisquer dispositivos movidos a baterias de botão e pilhas soltas fora do alcance de crianças.
  • Compre baterias de botão embaladas, para reduzir a possibilidade de uma criança abrir a embalagem e ingeri-las. Por exemplo, disse Trista Hamsmith, alguns pacotes de baterias precisam ser abertos. Também observou que a Duracell vende baterias de botão com um revestimento amargo, projetado para desencorajar as crianças a engoli-las.
  • Examine seus dispositivos movidos a baterias de botão para se certificar de que o compartimento da bateria esteja protegido com a maior segurança possível. Dispositivos que prendem a tampa com um parafuso são considerados mais seguros para crianças, afirmou Mark Chandler.
  • Não tente fazer seu filho vomitar. Anote sintomas como chiado, salivação, vômito, sangramento, dor abdominal, dificuldade para engolir, desconforto no peito, tosse, asfixia ou engasgos, febre, diminuição do apetite ou recusa a comer.
  • Não dê nada para seu filho comer ou beber.
  • Se um ímã for engolido juntamente com a bateria, isso pode causar ferimentos mais graves. Ligue para a emergência ou vá até o pronto-socorro.
  • Se passaram menos de 12 horas desde que a bateria foi engolida e seu filho tem mais de 12 meses, você pode lhe dar mel – duas colheres de chá a cada 10 minutos até completar seis doses – a caminho do pronto-socorro. Isso vai revestir a bateria e evitar a geração de hidróxido, retardando as queimaduras nos tecidos adjacentes. No entanto, não substitui a remoção da bateria, pois ajuda a desacelerar, mas não elimina o risco de danos.
  • Em casos de criança com bateria alojada no nariz ou no ouvido, fique atento a sintomas de dor ou à remoção. Não administre gotas nasais ou auriculares antes de um exame completo por um médico; esses fluidos podem agravar os danos ao corpo da criança.