Mais de 10% dos bebês nascidos no RJ em 2022 eram de gestações precoces; programa do governo oferece medidas contraceptivas de forma gratuita

Veículo: Globo.com - BR
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Gestações precoces: o governo do RJ oferece DIU, anticoncepcionais e até o método implanon de forma totalmente gratuita para mulheres a partir de 14 anos. Em apenas um mês, mais de mil jovens foram atendidas

gestações precoces
Foto: Rafael Wallace

Quase 300 mil jovens brasileiras tiveram que sair da escola após engravidar na adolescência no ano de 2022, indica uma pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos apontam que 11,16% dos bebês nascidos no mesmo período no RJ eram de gestações precoces.

Todas as gestações que sejam antes dos 19 anos da mulher são consideradas precoces. Ao todo, 180.297 crianças foram registradas no Rio de Janeiro em 2022, entre elas:

  • 19.347 eram de mães entre 15 e 19 anos;
  • E 777 eram de meninas de até 15 anos.

Um projeto da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro está orientando jovens sobre a questão da gravidez precoce.

Muitas mulheres que engravidaram na adolescência relatam que tiveram que abandonar os estudos, ou não tinham autonomia financeira para cuidar dos filhos. Outras fariam diferente se fosse possível.

É o caso da jovem Thaisa Leal, de 21 anos. Ela foi mãe aos 15 anos da sua primeira filha, e aos 18 do caçula. Para concluir a formação escolar, ela teve que deixar os pequenos com o avô das crianças para correr atrás dos estudos.

Ela conseguiu se formar aos 20. Ela não se arrepende dos filhos, mas teria tido com outra idade.

“Faria tudo de novo sendo que com a idade certa, com mais cabeça, mais maturidade pra lidar. Eu não estava preparada para ter um bebê”, destaca ela.

A jovem reforça ainda que sente que perdeu sua adolescência por ter engravidado tão cedo.

Essa não é uma realidade apenas dessa geração, mas de diversas mulheres que tiveram suas juventudes atravessadas pela criação de filhos.

A dona Ângela da Conceição, de 63 anos, teve onze filhos e treze netos. Uma de suas netas engravidou aos 13 anos, bem no início da adolescência. Quando ela soube do programa do governo do Rio de Janeiro que garante o acesso de jovens a métodos contraceptivos, ela não se demorou em levar as cinco netas para serem atendidas.

Moradora de Nova Iguaçu, ela se revezou em diferentes dias para conseguir levar todas as meninas até Ipanema, onde o programa funciona.

“Não quero que elas passem pelo que passei. Se eu tivesse tido acesso a um programa como esse, minha vida teria sido diferente. Tive que trabalhar de segunda a segunda para conseguir educar os meus filhos, com muito sacrifício. É importante poder planejar a maternidade”, destaca Ângela.

Programa orienta sobre planejamento familiar

O Programa Acolhe é uma iniciativa do governo que tem foco no planejamento familiar e na prevenção a gravidez não desejadas na adolescência. São oferecidas palestras, consultas ginecológicas e acesso a métodos contraceptivos, como DIU de cobre, pílulas e injeções anticoncepcionais, além do implante do contraceptivo subdérmico, conhecido como Implanon.

O atendimento é feito no Ambulatório Médico de Especialidades Jornalista Susana Naspolini, que fica no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, em Ipanema, Zona Sul do Rio.

O programa atende jovens de 14 a 25 anos. No primeiro mês de atendimento, mil mulheres já foram atendidas, e entre elas 420 optaram pela colocação do Implanon.

Para menores de 18 anos, os procedimentos são feitos com a autorização dos responsáveis. Para conseguir o atendimento, basta que a jovem procure uma unidade básica de saúde ou clínica da família portando identidade e cartão do SUS. Assim, será incluída na regulação de vagas e direcionada para o programa.

“É muito importante termos esses métodos gratuitos disponíveis aqui no Rio, porque a gente vive em um país onde a grande maioria das pessoas não tem condições de pagar para ter acesso a esse implante em clínica particular”, reforça a estudante de contabilidade, Rebeca de Lima.

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