53% das crianças que morreram antes de completar um ano em 2021 eram negras
Mortalidade negra: As mulheres pretas e pardas são também as que mais morrem em decorrência do parto
Um relatório com dados sobre saúde materno infantil na comunidade negra mostrou que 53% das crianças que morreram com menos de um ano em 2021 eram pretas e pardas. A pesquisa junta dados do Observatório de Atenção Primária da Umane com base no último Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde.
Entre as 31.850 crianças que morreram em 2021 antes de completarem um ano de vida, 16.929 (53%) eram pretas e pardas, 11.746 brancas (37%), 675 indígenas, 60 amarelas e 2.440 de raça/cor ignorada. Os dados de mortalidade mais recentes datam de 2021.
A taxa de mortalidade nacional de crianças menores de um ano foi de 11,9 a cada 1.000 nascidos vivos. A taxa global de 2021 é de 28 a cada 1.000 nascidos vivos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A mortalidade de crianças menores de cinco anos também é mais alta entre as crianças pretas e pardas, que responderam por 53% (19.456) das 36.877 mortes em 2021. No mesmo período, morreram 13.780 (37%) crianças brancas da mesma faixa etária, 923 indígenas, 70 amarelas e 2648 de raça ignorada.
Em 2021, 2,7 milhões de crianças nasceram no país. A taxa de mortalidade nacional de crianças menores de cinco anos foi de 13,8 a cada 1.000 nascidos vivos. A taxa global de 2021 é de 38 a cada 1.000 nascidos vivos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A mulheres pretas e pardas são também as que mais morrem em decorrência do parto. Das 3.058 mulheres que morreram em 2021, 1.885 (61,6% do total) eram pretas e pardas.
A taxa brasileira de mortalidade materna é de 114,2 a cada 100.000 nascidos vivos contra 223 no mundo, de acordo com a OMS. O Brasil precisa reduzir essa taxa para menos de 70 a cada 100.000 nascidos vivos até 2030 para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Um relatório publicado pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), no ano passado, apontou a necessidade de assegurar a todas as crianças o acesso a espaços verdes. Segundo o documento, elas devem ter uma dessas áreas acessíveis a uma distância caminhável de suas casas.
“Quanto maior e rotineiro for o contato das crianças com a natureza, maiores são os benefícios. Por isso, a gente defende uma política que invista no conceito de ‘natureza próxima’, ou seja, que as crianças tenham perto de casa ou na escola um espaço, ainda que pequeno, para ter essa vivência”, explica Maria Isabel de Barros, especialista em Crianças e Natureza do Instituto Alana.
Esse contato próximo com a natureza é, no entanto, uma realidade muito distante da maioria das crianças de São Paulo. Na média, a cidade tem 54% de seu território coberto por áreas verdes, mas esses espaços ainda são muito concentrados. Dos 96 distritos paulistanos, 83 têm menos da metade de sua área com cobertura vegetal —desses, 60 não têm nem um quarto de cobertura.
“Grandes cidades precisam investir para que todos tenham um pedacinho de natureza perto. Não podemos só ter grandes parques, como o Ibirapuera ou Villa-Lobos, que as pessoas só conseguem chegar de carro ou ônibus e acabam não indo com a frequência que é importante, principalmente, para crianças”, diz Maria Isabel.
Segundo o relatório do Unicef, estudos internacionais identificaram que crianças com contato regular com áreas verdes têm, por exemplo, níveis menores de hormônios do estresse e pressão arterial mais baixa.
Outras pesquisas também identificaram os benefícios no desenvolvimento de habilidades motoras. Crianças que brincam diariamente em áreas verdes, em vez de playgrounds, apresentaram melhores resultados em testes de equilíbrio e coordenação motora.
Também cita vantagens para o desenvolvimento socioemocional, já que, em áreas verdes, elas têm a oportunidade de interagir com mais crianças, o que estimula habilidades sociais diferentes.
Os benefícios citados pelo documento passaram a ser comprovados pela equipe pedagógica da Borba Gato nos últimos anos. Em geral, as crianças que chegam à escola aos 4 anos não têm o hábito de conviver diariamente com a natureza e passam por um rápido período de adaptação.
“Algumas crianças chegam com medo de se sujar, não gostam de pôr o pé direto na areia ou têm receio de subir nas árvores. Em poucas semanas, elas perdem o medo e passam a adorar esse contato. É uma mudança tão rápida e positiva, que nos deixa cada vez mais convictos de que elas precisam estar no meio da natureza”, conta Priscila.
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