Novos docentes são menos qualificados, diz estudo

Veículo: Valor Econômico - SP
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A qualidade dos alunos de pedagogia nos últimos anos vem caindo, por dois motivos: a visão de pessoas de menor renda de que o magistério é o acesso mais rápido para o diploma superior; e a expansão de programas como o Fies e o Prouni. As conclusões são do boletim "Perfil dos futuros professores", divulgado pelo Idados ontem, com informações do Enem

"Isso tem um potencial devastador", diz Paulo Rocha e Oliveira, presidente do Idados, instituição ligada ao Instituto Alfa e Beto. O ponto de partida da discussão é que nenhum fator – estrutura, grade de matérias – é "tão importante para a formação do aluno quanto a qualidade do professor", diz. A razão para os cursos de pedagogia atraírem aluno

A razão para os cursos de pedagogia atraírem alunos menos qualificados são as notas de corte na média mais baixas. São alunos de famílias com menor renda e "menos bagagem" por terem estudado em escolas mais fracas. Eles enxergam no magistério a oportunidade de darem um salto socioeconômico.

A porcentagem de alunos formados em pedagogia com renda familiar de até três salários mínimos quase dobrou entre 2011 e 2014, segundo o MEC. Os números mostram também que aqueles cuja família ganha até dois salários tiraram em média 507,1 em linguagens e códigos e 490,7 em matemática no Enem. Aqueles que ganham mais tiraram 561,8 em ambas as matéri

Além disso, houve na última década a expansão de programas destinados a ampliarem a formação universitária. Oliveira elogia esses programas, mas crê que eles distorceram "desproporcionalmente" a demanda por alguns cursos, especialmente pedagogia e medicina, que têm critérios mais favoráveis para o pagamento de bolsas. "É importante ressaltar que o

"Claro que temos uma dívida social com as classes menos favorecidas e é justo pagá-la. A questão é a forma como esses custos estão sendo transferidos para as próximas gerações", diz.

Oliveira, matemático com formação em Princeton e PhD pelo MIT (instituições dos EUA), é cauteloso ao propor soluções, mas diz que o Brasil pode adaptar medidas de outros países.

A primeira, mais do que apenas aumentar o salário, seria criar um plano de carreira para professores. "Não é dar aumento para qualquer um. Precisa atender certos critérios, ter um certo perfil", diz. A segunda seria recuperar o "prestígio social" do professor, "como acontece agora em algumas cidades do interior". A terceira seria exigir exigir do professor, como é feito em outros países, que ele tivesse uma formação anterior para que pudesse se formar em pedagogia.