O Brasil que tortura

Veículo: Revista Istoé - BR
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Chovia muito no dia em que Adriano, Sérgio, Paulo e Ezequiel foram presos em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, Paraná. O clima daquela quarta-feira, 26 de junho, no entanto, seria apenas um detalhe na memória dos rapazes. Isso se policiais civis não tivessem feito com que se ajoelhassem debaixo das goteiras que pendiam do telhado da delegacia. Ali, molhados, eles levaram muitos choques elétricos. "Onde está o corpo?", perguntavam os policiais. Ninguém sabia. E dá-lhe corrente elétrica. O corpo a que se referiam era o da estudante Tayná Adriane da Silva, de 14 anos, desaparecida no dia anterior. Mesmo sem provas ou testemunhas, a polícia prendeu o quarteto e os torturou com diversas técnicas até a confissão. Eles foram espancados, asfixiados com saco plástico, levaram choques elétricos em diversas partes do corpo, tiveram a cabeça colocada dentro de um formigueiro e ainda sofreram abusos sexuais. Exaustos, os quatro acabaram assinando um documento onde reconheciam ter estuprado e matado Tayná no terreno do parque.

Violência policial
Fosse uma história isolada, já seria motivo para indignação. Mas, só este ano, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos recebeu 466 denúncias de tortura contra a população carcerária. "É uma prática institucionalizada que perpassa o sistema em suas diferentes estruturas", disse a ministra Maria do Rosário. "Uma limitação que a nossa democracia ainda possui." Não é de hoje que a tortura é uma das ferramentas mais usadas por autoridades policiais brasileiras, principalmente contra os mais pobres. Com o fim da ditadura, os pobres, negros e trabalhadores informais, segundo o advogado José Filho, da Pastoral Carcerária, voltaram a ser a "população torturável", vítimas preferidas dos policias em busca de confissões.