Racismo estrutural dificulta ganho de peso e altura em filhos de mães não brancas, demonstra Fiocruz

Veículo: Brasil de Fato - BR
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Estudo analisou dados de milhões de crianças e constatou impacto da desigualdade no desenvolvimento infantil

Racismo estrutural
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Após analisar o crescimento de mais de 4 milhões crianças, um estudo conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) da Bahia revelou como a etnia da mãe é determinante para o desenvolvimento infantil do filho.

Os dados coletados mostram que mais de um quarto de crianças nascidas de mães indígenas não atingiram os parâmetros esperados de altura para idade correspondente, segundo as bases recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e respaldadas pelo Ministério da Saúde.

Enquanto nas mães indígenas a taxa de baixa estatura das crianças bate 26,7%, entre mães brancas o índice vai para 8%. No caso de mães pardas é 11,8%.

“O crescimento infantil é um ótimo indicador da qualidade de vida daquela criança, da qualidade do ambiente, das suas condições de nutrição […] a qualidade do acesso à água que ela possui, também qualidade  do sono, os estímulos que ela recebe”, explica a autora do estudo Helena Matos, em entrevista ao programa Bem Viver desta quinta-feira (7).

“A partir desse estudo nós vimos que a categoria de crianças filhas de mães brancas têm um crescimento de altura e de peso maior do que todos os outros grupos de crianças, das crianças de mães pardas, crianças de mães descendentes de asiático e principalmente indígenas”, comenta a pesquisadora que atua Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia).

Os dados que embasaram a pesquisa foram retirados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). No total, foram avaliadas as informações de 4.090.271 crianças, nascidas entre janeiro de 2003 e novembro de 2015, e que tiveram seu desenvolvimento acompanhado no período entre 2008 e 2017.

Segundo a pesquisadora, o estudo vem na esteira de outras pesquisas que já mostram como o racismo que afeta uma geração, necessariamente, impactará a próxima.

“A vivência do racismo na gestante impacta nos hormônios que ela libera, o estresse, situações de violência ou situações de escassez por alguma razão. Isso pode levar tanto a prematuridade quanto ao baixo peso. Também impacta o seu acesso à unidade de saúde, a violência obstétrica.”

Outro ponto que reforçou a conclusão das pesquisadoras foi a análise da escolaridade das crianças. Segundo Mattos, é possível ver uma diferença no desenvolvimento infantil entre crianças que estão dentro da escola e as que não frequentam.

No entanto, mesmo analisando apenas aquelas com alta escolaridade, há uma distinção entre crianças brancas e de outras etnias.

“Quanto maior a escolaridade, era maior também o peso e a estatura para a idade, mas ainda assim, a gente via as diferenças entre os grupos de acordo com a raça e etnia materna. Isso marca bastante para a gente essa disparidade étnico-racial”, comenta a pesquisadora.

 

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