Infância e Adolescência
Confira as séries de reportagens resultantes dos projetos premiados do 3° Concurso Tim Lopes de Investigação Jornalística.
Categoria Jornal
Érika Klingl – Correio Braziliense (DF)
A jornalista viajou pelas cinco regiões do Brasil para comprovar que os índices de abandono estão ligados ao nível de exploração sexual de meninos e meninas
Em 12 páginas a jornalista Érika Klingl revela a relação direta entre a exploração sexual de crianças e adolescentes e o baixo desempenho escolar. As matérias mostram que 927 municípios brasileiros registram o problema. Em 85% dessas cidades os índices de abandono e de distorção idade-série são maiores do que as médias obtidas pelos próprios estados. Reportagens sobre o tema ainda serão publicadas pelo Correio nos dias 23, 24 e 26 de novembro.
O levantamento feito pela repórter tem caráter inédito. “Eu cruzei dados do MEC com informações da Matriz Intersetorial de Enfrentamento da Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes da Secretaria Especial de Direitos Humanos”, explica Érika. Na análise, a jornalista percebeu que os índices de abandono escolar eram maiores em municípios com altos índices de exploração. A partir daí viajou pelas cinco regiões brasileiras para comprovar suas suspeitas.
Foz do Iguaçu (PR); Poconé (MT), Ananideua (PA), Medina (MG) e Brasília (DF). Érika percorreu essas cidades e cerca de outras dez, conversando com crianças vítimas de exploração, professores, especialistas, assistentes e conselhos tutelares. “Foi uma experiência muito gratificante e muito triste”, revela.
Em sua investigação, a jornalista constatou que o sistema educacional não está preparado para lidar com a realidade da violência sexual. “A escola não é capaz de trabalhar com meninas vitimizadas. Como voltam depois das experiências das ruas, essas jovens estão com outra visão da vida. Muitos métodos de ensino como o tradicional ‘vovô viu a uva’ se tornam desinteressantes para elas”, diz a repórter.
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Categoria Jornal
Ricardo Mendes e equipe – A Tarde (BA)
Jornalistas denunciam a conivência de autoridades baianas com a exploração sexual infantil. As denúncias envolvem a realização de “leilões de virgens” com o conhecimento da polícia e de políticos
A equipe liderada pelo jornalista Ricardo Mendes, do jornal A Tarde (BA), viajou por mais de 9 mil quilômetros entre diversas cidades da Bahia e investigou as falhas no sistema de proteção de crianças e adolescentes vítimas da exploração sexual. Descobriram que a conivência com a prática criminosa é uma constante entre aqueles que deveriam combatê-la. “Encontramos no caminho situações em que autoridades poderiam atuar na área, mas não o estavam fazendo. Delegadas que usam carro oficiais para almoçar, enquanto quase não há dinheiro para a gasolina no mês”, conta Mendes.
A equipe que fez a investigação, além de Ricardo Mendes, contou com os repórteres Eder Santana, Jane Fernandes e Katherine Funke. Antes de saírem a campo, os jornalistas traçaram uma série de pré-pautas em que se buscava descobrir os resultados das denúncias feitas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Também pesquisaram sobre a estrutura do sistema judiciário e das polícias civil e militar para o atendimento a esses casos, além das relações perigosas entre a influência política e a impunidade.
Um ponto de destaque do trabalho dos jornalistas foi a investigação em duas cidades da região norte da Bahia, onde fazendeiros participam de leilões de jovens virgens e pagam por encontro com adolescentes de 15 anos de idade. Segundo apuraram os repórteres, os leilões acontecem em sítios e fazendas e com conhecimento da Polícia Militar da região e de políticos. Situação semelhante à história abordada recentemente no filme brasileiro “Anjos do Sol”, do diretor Rudi Lagemann, cujo roteiro foi livremente inspirado em vários artigos publicados na imprensa.
As reportagens podem ser vistas clicando aqui.
Categoria Rádio
Carlos Morais e equipe – Rádio Jornal AM (PE)
Vencedores do Concurso Tim Lopes revelam os problemas no atendimento médico às vítimas da exploração sexual. Série de reportagens denuncia: órgãos públicos não trabalham em conjunto nesses casos
Os jornalistas premiados investigaram a situação do atendimento médico a crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual em Pernambuco. Durante as apurações, constataram o despreparo da rede de saúde para lidar com esse público. Nas produções, os jornalistas apresentam um panorama da violência sexual em Pernambuco, visitam importantes hospitais do estado, como o Hospital da Restauração (HR), em Recife, e ouvem especialistas e governo na discussão de soluções para o fortalecimento da rede de atendimento.
“Tirando casos esporádicos, a criança tem tratamento igual a todo mundo, sem nenhum cuidado especial”, enfatiza o Jornalista Amigo da Criança Carlos Alberto Moraes, coordenador da equipe de três repórteres que produziu a série. A inexistência de um trabalho em rede eficiente entre os órgãos públicos também é apontada pelos jornalistas como um dos principais problemas detectados. “Você não vê ninguém mantendo contato com outros agentes. O hospital, por exemplo, ao suspeitar que uma criança sofreu alguma violência sexual, deveria entrar imediatamente em contato com o IML para pedir o exame de corpo e delito, o que não acontece”, explica Moraes.
As matérias da série procuraram apresentar proposições, ao invés de apenas trazer denúncias. Para isso, a equipe ouviu diversas organizações da sociedade civil, especialistas e autoridades governamentais. “A gente, quando quer, consegue sair do factual, investigar, botar o dedo na ferida e buscar soluções”, anima-se Carlos Moraes.
Ouça as reportagens em mp3:
Áudio 1 – Tipos de contato fisíco que é crime (3min 13s)
Áudio 2 – O que dizem os profissionais sobre o tratamento (3min 36s)
Áudio 3 – Tipos de tratamento medico (3min 29s)
Áudio 4 – Investigação no interior do estado (3min 37s)
Áudio 5 – Investigação na região metropolitana (4min 4s)
Áudio 6 – Exemplo de atendimento humanizado (3min 50s)
Categoria Mídia Alternativa
Fernanda Sucupira – Agência Carta Maior (SP)
A Jornalista Amiga da Criança Fernanda Sucupira, da Agência Carta Maior, mostra casos em que a ausência de punição aumentou o sofrimento dos familiares. A repórter percorreu seis estados brasileiros para mostrar como a Justiça funciona nessas ocasiões
A impunidade daqueles que cometem abuso sexual contra crianças e adolescentes tem um efeito devastador tanto para as vítimas quanto para seus familiares. Essa foi a principal constatação da Jornalista Amiga da Criança Fernanda Sucupira, ao produzir a série de 10 reportagens. Conforme Fernanda descobriu no decorrer de suas apurações, muitas ocorrências sequer são reveladas, por medo ou vergonha de denunciar. Em outras ocasiões, o poder político ou econômico dos abusadores garante que sejam absolvidos ou recebam punições leves. Como conseqüência, a certeza da impunidade lhes dá mais força para se sentirem livres e continuarem nessa prática criminosa.
Para levantar os diversos casos que ilustram a série a repórter buscou os Centros de Defesa dos Direitos da Criança (Cedecas), órgãos que prestam atendimento jurídico às vítimas. A partir daí entrevistou os familiares, para dar a dimensão do sofrimento que essas pessoas passam enquanto aguardam o desenrolar dos processos judiciais.
Fernanda Sucupira visitou seis estados brasileiros (São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Ceará e Distrito Federal) para entrevistar fontes da área criminal, especialistas, organizações da sociedade civil e entidades que prestam assistência psicossocial às vítimas. Em Porto Alegre foi conhecer o Projeto Depoimento sem Dano, onde o atendimento especializado feito por psicólogos e assistentes sociais reduz o trauma da criança e do adolescente contar o que sofreu, experiência que, se mal conduzida, pode revitimizar o jovem.
Categoria TV
Alinne Passos e equipe – TV Record
Reportagem especial sobre o tema foi exibida ontem (17/12) no programa Domingo Espetacular, da Rede Record
Em agosto deste ano uma índia de nove anos ficou grávida após ser estuprada por um grileiro na aldeia Apurinã, em Manacapuru, no Amazonas. A indignação pelo episódio ter sido pouco divulgado na mídia incentivou a jornalista Alinne Passos a escolher a violência sexual contra crianças e adolescentes indígenas como o tema do projeto do 3° Concurso Tim Lopes de Investigação Jornalística. A repórter passou 15 dias investigando casos dessa natureza no Pará, no Mato Grosso do Sul e no Maranhão. Percorreu cerca de 3.500 quilômetros, adentrando aldeias indígenas.
A equipe se guiou pelo relatório “A violência contra os povos indígenas no Brasil”, dossiê do CIMI – Conselho Indigenista Missionário que registra casos ocorridos em todo o País entre 2003 e 2005, especificando a idade da vítima e o tipo de agressão sofrida. Quando os jornalistas foram aos locais indicados pelo documento, descobriram muito mais episódios de estupros e exploração de crianças e adolescentes. “Descobrimos casos em que jovens índias eram tiradas das aldeias de dia para fazer programas e voltavam à noite, pois o chefe da tribo não deixava que saissem depois que escurecia. Tivemos de fazer o flagrante com a câmera escondida”, conta a repórter Alinne Passos. Em todas as ocasiões, os jornalistas foram às aldeias acompanhados por um representante da Funai – Fundação Nacional do Índio.
Segundo Alinne, o número de ocorrências de violência sexual contra indígenas tem crescido bastante no País, por causa das lutas pela demarcação das aldeias – que são tomadas por fazendas, e pela aculturação, o uso de drogas e o alcoolismo. Por ser um assunto pouco falado, ainda não há políticas públicas suficientes para combater o problema. “Me envolvi muito com essa reportagem. Quando ouvia as histórias, chorava bastante. Eles (os índios) eram os donos da terra e agora passam fome, precisam lutar contra a constante diminuição das aldeias, as doenças, e ainda contra a violência física e psicológica que sofrem constantemente”, diz a jornalista.
Categoria Temática Especial
Cláudio Ribeiro e equipe – jornal O Povo
Jornalistas revelam os principais pontos de exploração sexual nas rodovias do Ceará. De acordo com a investigação, existem mais de 50 locais onde o crime acontece, em todo o estado
A equipe do jornal O Povo (CE) aceitou o desafio de expor os principais pontos de exploração sexual infanto-juvenil encontrados à margem das rodovias do Ceará. “Fizemos seis rotas dentro do estado e relatamos mais de 50 locais onde o crime acontece”, revela o jornalista Cláudio Ribeiro. As reportagens e suas denúncias são resultado do projeto vencedor da categoria “Temática Especial” do 3° Tim Lopes de Investigação Jornalística.
Cláudio Ribeiro enfatiza o grande número de denúncias descobertas. “Encontramos mil e uma histórias. Havia até uma rede de comerciantes que se aproveitavam de meninas”, relata. O repórter elege um pátio de caminhões, localizado no Posto Fiscal da Fazenda no Município de Pena Forte, como o lugar mais crítico dos pontos. Segundo ele, crianças de 12 a 14 são vítimas freqüentes de exploração no local.
O material foi publicado em série de nove reportagens. No dia 17/12 foi veiculado caderno especial, revelando os principais pontos de exploração. A matéria publicada em 18/12 trouxe as versões de autoridades, Ministério Público, polícia e prefeitura.
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