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Infância e Adolescência

Concurso Tim Lopes: 3ª Edição – Violência sexual e defasagem escolar

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Vencedora do 3° Concurso Tim Lopes revela a relação entre violência sexual e defasagem escolar

A jornalista Érika Klingl viajou pelas cinco regiões do Brasil para comprovar que os índices de abandono estão ligados ao nível de exploração sexual de meninos e meninas

Conheça aqui os outros vencedores do Concurso Tim Lopes

Hoje (22/11) foi publicado no jornal Correio Braziliense o caderno especial Infância Perdida, resultado de um dos projetos vencedores da categoria “Impresso” do 3° Concurso Tim Lopes de Investigação Jornalística. Em 12 páginas a jornalista Érika Klingl revela a relação direta entre a exploração sexual de crianças e adolescentes e o baixo desempenho escolar. As matérias mostram que 927 municípios brasileiros registram o problema. Em 85% dessas cidades os índices de abandono e de distorção idade-série são maiores do que as médias obtidas pelos próprios estados. Reportagens sobre o tema ainda serão publicadas pelo Correio nos dias 23, 24 e 26 de novembro.

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O levantamento feito pela repórter tem caráter inédito. “Eu cruzei dados do MEC com informações da Matriz Intersetorial de Enfrentamento da Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes da Secretaria Especial de Direitos Humanos”, explica Érika. Na análise, a jornalista percebeu que os índices de abandono escolar eram maiores em municípios com altos índices de exploração. A partir daí viajou pelas cinco regiões brasileiras para comprovar suas suspeitas.

Foz do Iguaçu (PR); Poconé (MT), Ananideua (PA), Medina (MG) e Brasília (DF). Érika percorreu essas cidades e cerca de outras dez, conversando com crianças vítimas de exploração, professores, especialistas, assistentes e conselhos tutelares. “Foi uma experiência muito gratificante e muito triste”, revela.

Em sua investigação, a jornalista constatou que o sistema educacional não está preparado para lidar com a realidade da violência sexual. “A escola não é capaz de trabalhar com meninas vitimizadas. Como voltam depois das experiências das ruas, essas jovens estão com outra visão da vida. Muitos métodos de ensino como o tradicional ‘vovô viu a uva’ se tornam desinteressantes para elas”, diz a repórter.

Vítimas da inocência
Entre as meninas e meninos que ouviu, havia jovens de 12 a 17 anos. “O que assusta é que muitas dessas crianças não sabem que são vítimas. Em Fortaleza, por exemplo, tem quem ache que é legal sair com um estrangeiro, ganhar um dinheiro e ainda esperar sair dessa vida porque o gringo vai vir buscá-la”, afirma.

A jornalista entrou em contato com aproximadamente 40 crianças. Em sua abordagem, ao invés de questionar o menino ou menina sobre o seu estado de exploração, procurava saber se o jovem estava na escola ou não. “Todo mundo gosta de falar sobre escola, mesmo não estando inserido nela”, afirma.

Érika diz que teve dois momentos fortes nessas conversas. O primeiro choque foi quando entrevistou um menino em Foz do Iguaçu. Abusado sexualmente aos 10 anos em casa, o jovem deixou a família e tornou-se vítima da exploração sexual. O outro caso aconteceu com uma criança da mesma idade. Aliciada pela vizinha para um senhor de 70 anos, a menina acabou engravidando.

Apesar dos possíveis riscos, Érika garante que a apuração aconteceu de forma tranqüila. “Aconteceram alguns incidentes como o empurrão de uma possível aliciadora em frente ao TSE de Brasília, à noite”, conta.

Após a experiência, a repórter considera que a educação deve ser prioridade do governo como uma das formas de combater a violência sexual. “Ele tem boas idéias, mas não consegue executar. A escola deve ser a porta de entrada que ajude a criança a sair da exploração. Tem que haver escolas mais capacitadas para receberem esses estudantes”, enfatiza. Érika também salienta o papel da mídia na cobrança de ações: “Nunca se ouviu falar tanto de educação neste País. Mas ela ainda está em segundo plano, atrás da política”, opina.

Registro cuidadoso
Durante o trajeto entre os principais pontos de exploração sexual de crianças no País, Érika Klingl esteve acompanhada pelo repórter-fotógrafico Cadu Gomes. Com 15 anos de profissão, o fotografo revela que este foi o o seu primeiro contato mais forte com a temática de direitos humanos e exploração. “Eu passei a ter muito mais consciência sobre o assunto. Posso até me considerar mais um militante na causa”, afirma. “Eu fiquei muito tocado quando a gente entrevistou uma menina que tinha o mesmo nome da minha filha. Isso me fez pensar mais. A Érika sabe, eu chorei muito depois das conversas”.

Segundo ele, os dois tomaram uma série de precauções durante a cobertura fotográfica. “A gente contou muito com a ajuda de taxistas e dos conselhos tulerares para conhecer os riscos de cada lugar”. Outro cuidado foi para não retratar simplesmente a exploração sexual, mas fazer uma relação direta com a evasão escolar. “Não queríamos fotos agressivas”

Cadu Gomes, hoje com 36 anos, começou sua carreira no próprio Correio Braziliense, trabalhando no laboratório de fotografia. Depois, tornou-se fotografo profissional.

Perfil de Érika Klingl
Mineira de 29 anos, a repórter formou-se em jornalismo pelo Centro Universitário de Brasília (CEUB) em 2001. Trabalhou na Radiobrás, Jornal do Brasil, Revista Istoé Dinheiro e Correio Braziliense. No ano passado foi finalista do Prêmio IGE de Jornalismo, voltado a matérias de Educação. Nos últimos dois anos tem se dedicado à produção de reportagens sobre direitos humanos.

O Concurso Tim Lopes
Iniciativa promovida pela ANDI e o Instituto WCF-Brasil, o concurso estimula a mídia a produzir reportagens aprofundadas sobre a violência sexual, no sentido de investigar o problema e apontar possíveis soluções. Para isso fornece apoio técnico e financeiro aos repórteres premiados para que desenvolvam suas pautas.

O projeto tem o apoio técnico do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), da OIT (Organização Internacional do Trabalho), da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) e da ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).