Para especialista, Brasil precisa focar na educação para elevar IDH
O Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) da ONU divulgou, em março, o relatório com os dados do último Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que avalia a educação, renda e longevidade de vida em 187 países. O Brasil teve um avanço significativo e reconhecido mundialmente por conta do fortalecimento econômico, principalmente na última década. Porém, o País se mantém em 85º lugar, com 0,730 de IDH, próximo à Jamaica e Armênia, e cresce em ritmo mais lento do que quase todos os países dos Brics (Brasil, China, Rússia e Índia) e da América do Sul.
Se compararmos a evolução do índice ao de países da América Latina, novamente o País fica abaixo da média, de 0,741. No entanto, o relatório insere o Brasil no grupo de países com "alto desempenho" a partir da própria escala do estudo que vai de 0 a 1, e classifica como bons IDHs próximos à marca máxima.
Os avanços brasileiros no IDH, de fato, existem, segundo análise da ONU. Em 2011, a marca alcançada foi de 0,728 e, nas últimas duas décadas, há registro de crescimento de 24% no índice: o País passou de 0,59 em 1990 a 0,730 em 2012.
No entanto, não se pode negar os desafios postos pelos números, principalmente no tocante à educação. A média brasileira de 7,2 anos de escolaridade apontada pelo mesmo estudo fica longe da atual projeção de 14,2 anos, e equipara o País ao Suriname, compondo os números mais baixos entre os países da América do Sul.
Educação como carro chefe
A gerente de projetos do Todos pela Educação, Andréa Bergamaschi, explica que o IDH tenta observar a qualidade de vida e considera, entre seus eixos, a educação como carro chefe, por influenciar diretamente na melhoria da saúde e renda da população. Por isso, reforça a importância de uma leitura crítica dos dados: “Os países do topo têm os melhores índices de educação, em acesso e qualidade. É preciso avaliar o que esses países em potencial têm feito para sustentar tais números e tentar traduzí-los”, observa.
Em relação ao desempenho da educação nos últimos anos, Andréa Bergamaschi faz nova análise e aponta que se o acesso à educação teve um avanço significativo, a qualidade não o acompanhou. “Hoje o grande desafio da educação brasileira é melhorar os padrões da qualidade, desde a pré-escola até o ensino médio. Nossas crianças estão passando pelo sistema escolar sem aprender, o que prejudica o desenvolvimento escolar e do próprio ser humano”, reforça.
Evasão escolar e trabalho infantil
A média de escolaridade brasileira atual é metade do que se pretende alcançar. Parte desse problema é causado pelo alto índice de evasão escolar, concentrada, em grande parte, no ensino médio. E embora não se caracterize como o primeiro ofensor, o trabalho impacta sobre este cenário. A pesquisa "Motivos da Evasão Escolar" divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2009, mostra que 17,8% dos adolescentes entre 15 e 17 anos estão fora da escola. O levantamento aponta ainda que 40,3% dos alunos deixam livros e cadernos por completo desinteresse, seja pela carência da infraestrutura dos colégios, ou seja pela baixa consciência da necessidade do aprendizado. A busca por emprego aparece como segunda causa da interrupção do aprendizado, com 27,1%.
Em relação ao trabalho infantil, Andréa Bergamaschi afirma: "influencia diretamente a questão da educação, principalmente em regiões mais vulneráveis, em que as crianças têm que participar da composição da renda familiar”.
Por isso, também é fundamental reconhecer o papel da escola como possível agente de erradicação das situações de trabalho e também como fortalecedora dos direitos de crianças e adolescentes. A professora e participante do curso Escola no Combate ao Trabalho Infantil (ECTI), Jackelyne Cintra, acredita ser fundamental a abordagem dos direitos e deveres junto aos alunos, colocando-os em contato com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em parceria com a família. Além disso, reconhece a importância das instituições escolares não se omitirem em relação às denúncias de abuso ou explorações que violem os direitos de meninos e meninas.
“O trabalho a partir da temática é importante porque a educação deve estar alicerçada na valorização da vida, no respeito e na dignidade humana. Somos o meio para que esse aluno construa a sua autonomia, seu pensamento crítico, tendo como base a informação dos seus direitos e deveres a partir de explanação pedagógica”, finaliza.
Fonte: Rede Promenino