FAO e OMS apelam por forte compromisso político para enfrentar a desnutrição em conferência internacional de alto nível

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Enquanto centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo ainda continuam a sofrer com a fome e a desnutrição, os governos devem assumir compromissos mais contundentes de modo a garantir dietas mais saudáveis ​​para todos, afirmaram hoje (12) os diretores da FAO e da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Para tanto, a FAO e a OMS estão co-organizando, com o apoio da ONU e de outros organismos internacionais, a Segunda Conferência Internacional sobre Nutrição (ICN2), reunião intergovernamental global a ser realizada em Roma, entre 19 e 21 de novembro próximo, com o tema "Uma nutrição melhor, uma vida melhor" (Better nutrition, better lives).

Desde a primeira conferência em 1992, “foram registrados avanços importantes na luta contra a fome e a desnutrição, mas esse progresso tem sido insuficiente e desigual", afirmou o Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva.

Mais de 840 milhões de pessoas estão cronicamente subnutridas, e a proporção de subnutridos reduziu apenas 17% desde o início da década de 90. A desnutrição é responsável por cerca de metade de todas as mortes de crianças com menos de cinco anos de idade, ocasionando adicionamente mais de três milhões de mortes a cada ano.

Enquanto isso, várias formas de desnutrição muitas vezes se sobrepõem e podem coexistir dentro do mesmo país e até mesmo dentro da mesma família. Cerca de 160 milhões de crianças menores de cinco anos são raquíticas ou cronicamente desnutridas, enquanto que mais de dois bilhões de pessoas sofrem uma ou mais deficiências de micronutrientes. Ao mesmo tempo, meio bilhão são considerados obesos.

"Um dos objetivos da [conferência] ICN2 é fornecer a base científica para que sejam elaboradas políticas de nutrição que promovam, ao mesmo tempo, a segurança alimentar e a saúde", ressaltou a Diretora-Geral da OMS, Margaret Chan, em uma mensagem de vídeo exibida durante a conferência de imprensa.

Chan assinalou ainda que uma das principais questões a serem solucionadas pelos participantes da ICN2 é: “Por que, que a desnutrição grave e a obesidade podem coexistir no mesmo país e na mesma comunidade?"

A Diretora-Geral da OMS também destacou a necessidade de considerar as implicações para a saúde e para o meio ambiente de outra recente tendência – “o rápido aumento na demanda por carne e outros produtos de origem animal, que coincide com o aumento dos níveis de renda”.

A nutrição como uma questão pública

"A nutrição continua a ser um urgente e premente desafio – abordar a nutrição é uma tarefa complexa", disse Graziano da Silva, "A nutrição é uma questão pública, que possui impactos sobre a segurança alimentar e saúde", acrescentou.

O alto preço da desnutrição

Graziano da Silva salientou os custos sociais e econômicos da desnutrição para a sociedade. "As estimativas indicam que a desnutrição ocasiona uma perda de até 5% da renda global por ano, em termos de perda de produtividade e despesas governamentais com saúde. Chega-se, com isso, a um valor estimado de US$ 3,5 bilhões – ou US$ 500 por cada pessoa do planeta – um alto custo, uma enorme quantia a ser paga".

Os esforços para se obter progressos em segurança alimentar e na nutrição continuam a ser dificultados por uma série de fatores ligados à má gestão, como o baixo comprometimento político, a fragilidade das instituições, e a falta de coordenação e participação adequada dos atores envolvidos nesse tema, afirmaram a FAO e a OMS.

Entre outros desafios importantes, há a volatidade dos preços internacionais dos alimentos, que é agravada pelo aumento da dependência dos mercados mundiais e da importação de alimentos, pela baixa produtividade agrícola acentuada, pela mudança do clima, pelas perdas pós-colheita e pelo desperdício de alimentos.

Chamadas de nutrição para a ação coletiva

Ao notar que os governos são responsáveis ​​pelo bem-estar nutricional dos seus cidadãos, e que são, portanto, chamados a liderar os esforços em prol da nutrição, Graziano da Silva asseverou que a ação coletiva também exige a participação dos parlamentos, universidades, setor privado e organizações da sociedade civil.

"Por causa disso, os atores não-estatais têm um papel muito importante a desempenhar no contexto de ICN2, não só para construir um consenso, mas também para ajudar a implementar a linha de ação (Framework for Action) que a conferência deverá aprovar", disse o Diretor- Geral da FAO.

A ICN2 irá procurar desenvolver os resultados obtidos na primeira conferência internacional ocorrida há 22 anos e em outros eventos sobre o tema, ao mesmo tempo, que se somará a outras iniciativas atuais, como o Desafio Fome Zero (Zero Hunger Challenge) liderado pelo Secretário-Geral da ONU, o debate sobre a agenda de desenvolvimento pós-2015 e a EXPO Milão de 2015.

Durante a ICN2, deverão ser aprovados uma declaração política sobre nutrição e uma linha de ação para assegurar a implementação efetiva dos compromissos assumidos nesta reunião de alto nível.

Chefes de Estado e de governo, outros dignitários e líderes foram convidados para a conferência de alto nível. O Papa Francisco já confirmou sua participação.