RNPI lança série sobre importância do homem no cuidado das crianças
No mês em que foi sancionado o aumento da licença-paternidade para empregados das empresas cidadãs de 5 para 20 dias, a Rede Nacional Primeira Infância lança uma série de vídeos sobre o envolvimento dos homens no cuidado das crianças pequenas. Quais os desafios e benefícios do fortalecimento desse vínculo? Para responder a essas questões, 11 especialistas sobre cuidado paterno falam de temas como a desnaturalização do cuidado, cultura machista, paternidade e segurança pública, paternidade e desigualdade social, licença-paternidade, feminismo e o papel do gestor público na promoção da paternidade. Os vídeos, com média de dois minutos de duração, estão disponíveis no site da RNPI, e foram gravados durante o I Seminário Nacional Paternidade e Primeira Infância, que aconteceu em 2015, no Rio de Janeiro. (Clique aqui para ver a lista dos vídeos em nosso canal do Youtube)
Entre os especialistas, estão gestores públicos, representantes de organizações da Sociedade Civil e de Universidades. Os entrevistados são Angelita Herrmann, da Área Técnica de Saúde do Homem do Ministério da Saúde, Daniel Costa Lima, mestre em Saúde Pública, Fabio Paes, da Aldeias Infantis SOS Brasil, Heloiza Egas, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Luciana Phebo, da Plataforma de Centros Urbanos do UNICEF, Marco Aurélio Martins, do Instituto Promundo, Marcos Nascimento, do Instituto Fernandes Figueira / Fiocruz, Maria Luiza Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mariana Azevedo, do Instituto Papai, Paulo Bonilha, então coordenador da Área Técnica de Saúde da Criança do Ministério da Saúde, e Thiago Queiroz, do blog Paizinho Vírgula.
Veja alguns destaques das entrevistas:
“Eu acho que um dos grandes desafios para a promoção da paternidade é a gente desnaturalizar esse tema do cuidado, observar que cuidado não é inerente à pessoa mas que se aprende a fazer, e educar meninas e meninos para serem cuidadores. Culturalmente a gente vê as mulheres muito mais envolvidas no cuidado, mas isso não quer dizer que os homens sejam incapazes ou incapacitados para cuidar”, afirma Marcos Nascimento, do Instituto Fernandes Figueira, que fala sobre a cultura machista como um dos desafios para a promoção da paternidade.
“A principal coisa que eu aprendi com a pesquisa sobre homens que cuidam sozinhos dos filhos é que cuidado faz bem para a saúde do homem. Todos esses pais estavam mais felizes depois que eles passaram a cuidar dos seus filhos todos os dias. Se você cria oportunidades para que os homens sejam cuidadores, vamos estar beneficiando a qualidade de saúde dos pais, e consequentemente, da saúde dos filhos”, diz Maria Luiza Carvalho, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que aborda o papel da universidade na promoção da paternidade.
“Uma das formas dos gestores públicos promoverem o exercício da paternidade é sensibilizar os nossos profissionais da saúde para que estejam atentos para questões pequenas que podem facilitar e induzir um pai a participar, ou não. Se a gente quer que o pai esteja participando no pré-natal, por exemplo, precisa ter duas cadeiras no consultório”, diz Paulo Bonilha, então coordenador da área técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, que fala sobre o papel dos gestores públicos na promoção da paternidade.
“Quando você se dispõe a ser mais sensível no cuidado do seu filho, você percebe como isso se reflete nas suas relações com as outras pessoas. Você percebe que a maneira como você se comunica com o seu filho, não-violenta e tentando entender os sentimentos dele, que essa maneira funciona também com a esposa e com os colegas de trabalho. Essa onda de não-violência e de empatia começa a crescer e a pulsar na sua vida, e isso é muito bacana”, afirma Thiago Queiroz, do blog Paizinho Vírgula, que fala sobre o potencial do impacto do cuidado paterno nas relações sociais.
“Uma criança que vê dentro de casa um homem que também é cuidador, que divide tarefas domésticas, que é um homem equitativo, a tendência é que ela seja um adulto mais equitativo também. Da mesma forma que se a criança aprende que os seus conflitos são mediados pela violência, ela vai agir de forma violenta. É importante a gente ver que paternidade também tem a ver com segurança pública”, afirma Marco Aurélio Martins, do Instituto Promundo, que fala sobre a relação entre a promoção da paternidade e segurança pública.
“Hoje não é esperado dos homens que eles assumam um papel de cuidado das crianças, e é importante quebrar esse paradigma. Se a criança, por exemplo, fica na creche, e ligam porque a criança se machucou ou está com febre, sempre vão ligar pra mãe, e acham que é a mãe quem tem que ir buscar. Não é esperado do pai que ele largue a sua jornada de trabalho para fazer essa tarefa. Mas é esperado da mãe, inclusive com vários julgamentos morais”, diz Heloiza Egas, da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, que fala sobre cultura machista e a importância de se desnaturalizar o cuidado.
“Eu acredito que o maior empecilho ao exercício da paternidade e do cuidado pelos homens é a licença-paternidade tão curta. É a legislação, que coloca de uma forma muito clara que o cuidado das crianças é algo feminino, um prazer muito grande, mas uma grande responsabilidade e trabalho também, e que poderiam ser compartilhados com os homens”, afirma Daniel Costa Lima, psicólogo e mestre em saúde pública, que fala da curta licença-paternidade como um dos obstáculos à promoção da paternidade.
“O movimento feminista conseguiu muito êxito em fazer com que as mulheres ocupassem o espaço público no mercado de trabalho, na política, na cultura e na educação, mas ainda falta o movimento dos homens se voltarem mais para o espaço doméstico, para compartilhar o cuidado das crianças”, afirma Mariana Azevedo, do Instituto Papai, que fala das relações entre o feminismo, a luta pela igualdade de gênero e a promoção da paternidade.
“Existe uma relação muito forte entre a participação do pai na vida das crianças e a redução das desigualdades. A participação do homem na vida das crianças impacta a vida da menina e do menino, da família, e vai mais além, impacta a cidade”, afirma Luciana Phebo, da Plataforma de Centros Urbanos do UNICEF, que fala sobre o impacto positivo da participação do pai na vida dos filhos.
“A experiência de ser pai na minha vida foi revolucionária. Quem trabalha com direitos humanos e de infância sempre reivindica e defende direitos de outros. E desde o nascimento da minha filha, o discurso dos direitos humanos passou a ter insônias, a acordar de uma maneira muito mais atenta para defender direitos de crianças de zero a três anos é urgente, porque cada dia na vida dessa criança tem um impacto gigantesco”, diz Fabio Paes, da Aldeias Infantis SOS Brasil e atual presidente do Conanda, que aborda sua experiência como pai e defensor de direitos humanos.
“A intensidade de ouvir um homem dizendo ‘Eu quero ter o direito de participar’ nos faz revisitar experiências pessoais. Eu fico pensando em quantos momentos, como mãe, não deixei o pai participar do cuidado das crianças, e o quanto foi importante o movimento do pai dizer ‘Sim, eu quero participar’, diz Angelita Herrmann, do Ministério da Saúde, que fala sobre a importância de se repensar as práticas de cuidado, tanto no campo pessoal como na formulação das políticas públicas.
GT Homens pela Primeira Infância
Um dos oito Grupos de Trabalho da Rede Nacional Primeira Infância é o GT Homens pela Primeira Infância, que reúne organizações de diferentes estados brasileiros que atuam na promoção do cuidado paterno. Uma das realizações do GT foi o I Seminário Nacional Paternidade e Primeira Infância, que aconteceu no Rio de Janeiro, nos dias 26 e 27 de agosto de 2015, que produziu um “Relatório Técnico”, que sistematiza relato dos debates e apresentações, e com recomendações aos gestores públicos sobre o tema. O relatório está disponível para download gratuito em: http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2015/12/RNPI-CECIP_seminario-nacional-2015.pdf
O GT Homens pela Primeira Infância é integrado pelas organizações: Instituto Papai, Instituto Promundo, Aldeias Infantis SOS Brasil, Área Técnica de Saúde do Homem do Ministério da Saúde, Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP), Comitê Vida da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Plan Brasil, e Portal Aleitamento.com.
Fonte: Rede Nacional Primeira Infância