Mais de 8 mil crianças foram mortas ou mutiladas em conflitos armados em 2016, diz ONU
Mais de 8 mil crianças foram mortas ou mutiladas em situações de conflito armado no ano passado, de acordo com novo relatório do secretário-geral da ONU, António Guterres, divulgado no dia 05 de outubro, em Nova Iorque.
O relatório anual detalhou agressões, contínua disseminação do recrutamento e uso de crianças em conflitos armados, violência sexual e ataques contra escolas e hospitais.
“O objetivo do relatório não é apenas alertar sobre as violações dos direitos das crianças, mas também promover medidas para amenizar a trágica situação das crianças em conflitos”, disse o secretário-geral da ONU em comunicado emitido por seu porta-voz.
“O secretário-geral está contente com o fato de diversos atores governamentais e não governamentais estarem agora trabalhando com as Nações Unidas rumo a esse objetivo”, afirmou o comunicado.
“O secretário-geral pede mais uma vez que as partes em conflito cumpram sua responsabilidade de proteger as crianças, de acordo com suas obrigações sob a lei humanitária e de direitos humanos internacional”, afirmou. “Ele pede que todas as partes se engajem com as Nações Unidas para melhorar a proteção de crianças, em linha com as resoluções do Conselho de Segurança”.
Meninos e meninas afetados por conflitos armados foram vítimas de violações disseminadas em 2016, de acordo com o relatório anual. A escala e severidade das violações no ano passado — incluindo chocantes níveis de assassinatos e mutilações, recrutamento e bloqueio de acesso humanitário — são uma séria preocupação do secretário-geral.
“O destino trágico das crianças vítimas de conflitos não pode nos deixar imóveis; uma criança assassinada, recrutada como soldado, ferida em um ataque ou impedida de ir à escola devido ao conflito já é muito”, disse a representante especial do secretário-geral para crianças e conflitos armados, Virginia Gamba.
Crianças de países como Afeganistão, República Democrática do Congo, Iraque, Somália, Sudão do Sul, Síria e Iêmen, sofrem um nível alarmante de violações cometidas pelas partes em conflito, com ao menos 4 mil violações cometidas por forças governamentais e mais de 11,5 mil por grupos armados não estatais nos 20 países analisados pelo relatório.
Somente na Síria, o número de crianças recrutadas durante o período analisado mais do que dobrou na comparação com 2015, com 851 casos verificados. Na Somália, esse número atingiu 1.915 crianças recrutadas. O Afeganistão registrou o maior número de mortes de crianças desde que a ONU começou a documentar mortes civis, em 2009, com 3.512 crianças assassinadas ou mutiladas em 2016, um aumento de 24% na comparação com o ano anterior.
Táticas utilizadas por grupos armados como Al-Shabaab, Boko Haram, ISIL e Talibã incluíram violência sexual e o uso de crianças como bombas humanas. Na Nigéria, a maior parte das mortes de crianças foi provocada pelo uso delas como bombas humanas e por ataques-suicidas.
“O nível de violações contra crianças é completamente inaceitável e um mero indicativo da escala de sofrimento dessas crianças, já que restrições de acesso limitam nossa capacidade de ver o cenário todo”, disse Gamba. “Tais abusos têm impacto dramático, não apenas nas vidas das crianças, mas no tecido social dos países afetados e na paz e segurança global”, acrescentou.
O bloqueio do acesso humanitário promovido por grupos armados e forças governamentais foi uma perturbadora tendência registrada pelo relatório, com consequências devastadoras para as crianças. Ataques contra escolas e hospitais também foram amplamente documentados em 2016, ocorrendo em quase todos os países analisados no documento e privando milhares de crianças de seu direito à educação.
No Iêmen, ao menos 1,3 mil crianças foram mortas ou mutiladas, mesma quantidade registrada na Síria.
A prisão de crianças por forças governamentais ou grupos armados também foi disseminada durante o período analisado em países como Afeganistão, República Democrática do Congo, Iraque, Israel e Estado da Palestina, Líbia, Nigéria e Somália. O documento enfatizou que crianças devem ser primariamente tratadas como vítimas, não como perpetuadoras de crimes, e que os padrões da Justiça internacional juvenil devem ser adotados.
Clique aqui para ler o relatório completo (em inglês).
Fonte: ONU Brasil