Crianças são quase um terço das vítimas de tráfico humano no mundo, diz ONU
Um novo relatório da ONU revelou nesta segunda-feira (7) que o tráfico de pessoas está avançando no mundo, com a exploração sexual das vítimas sendo a principal causa por trás do fenômeno. Segundo o levantamento, que analisou dados de 142 países, as crianças representam 30% de todos os indivíduos traficados, com o número de meninas afetadas sendo bem maior que o de meninos.
Produzida pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), a pesquisa aponta um crescimento consistente na quantidade de pessoas traficadas desde 2010. A Ásia e as Américas foram as duas regiões com o maior aumento de vítimas detectadas. Isso pode ser explicado por melhorias nos meios de identificação e registro de dados sobre o crime ou por uma elevação real na quantidade de vítimas.
Segundo o documento, em 2016, quase 25 mil pessoas foram traficadas no planeta — 70% eram do sexo feminino, com as meninas representando 20% de todas as vítimas em nível mundial. A exploração sexual continua sendo o principal objetivo do tráfico e responde por cerca de 59% do total dos casos. O trabalho forçado foi identificado em 34% das ocorrências.
Para meninas e meninos, um padrão diferente foi detectado. Embora as crianças sejam em sua maioria vítimas do tráfico para trabalhos forçados (50%), muitas também são vítimas de exploração sexual (27%) e outras formas de exploração, como mendicância forçada, recrutamento em tropas e grupos armados e atividades criminosas forçadas. As meninas foram vítimas de exploração sexual em 72% dos episódios analisados. Casos de trabalho forçado envolvendo as jovens menores de idade equivaliam a 21% do total.
A maioria dos indivíduos traficados e identificados fora de sua região de origem vêm da Ásia Oriental, seguida pela África Subsaariana. Embora tenha havido uma alta no número de condenações pelo crime de tráfico em ambas as áreas, o estudo da ONU conclui que amplas zonas de impunidade ainda existem nos continentes africano e asiático. O relatório aponta que as taxas de condenação por tráfico permanecem muito baixas.
O tráfico para a exploração sexual é a forma mais comum do crime em países europeus, enquanto na África Subsaariana e no Oriente Médio, o trabalho forçado é o principal fator por trás do comércio ilícito de seres humanos.
Escravidão sexual de mulheres e meninas
Segundo o diretor-executivo do UNODC, Yury Fedotov, “o tráfico humano assumiu dimensões horríveis uma vez que grupos armados e terroristas o utilizam para espalhar medo e usam as vítimas para oferecê-las de incentivos e recrutar novos combatentes”.
Essa foi a história de Nadia Murad, embaixadora da Boa Vontade do UNODC para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico de Pessoas e vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2018. Quando tinha 19 anos, a jovem foi vendida e explorada sexualmente, junto com milhares de outras meninas e mulheres do povo Yazidi, após o Estado Islâmico tomar o controle de sua comunidade no Iraque.
“Nadia Murad é a primeira vítima do tráfico de seres humanos que foi nomeada embaixadora da Boa Vontade da ONU e, ao compartilhar sua experiência de escravidão nas mãos de terroristas do Estado Islâmico, tornou-se uma voz de referência para expor esse crime abominável”, acrescentou Fedotov.
“Peço à comunidade internacional que ouça o pedido de justiça de Nadia e espero que esse relatório contribua para essa causa.”
Mulheres e meninas representam 75% das pessoas traficadas para exploração sexual e 35% dos indivíduos que vão parar em situações de trabalho forçado.
Tráfico em conflitos armados
O tema principal do relatório é o impacto do conflito armado no tráfico de pessoas. Em zonas de confronto, onde o Estado de Direito está fragilizado e civis têm pouca proteção contra crimes, grupos armados e criminosos podem se aproveitar disso para traficá-los. Um exemplo da pesquisa são os casos de meninas e jovens mulheres que vivem em campos de refugiados no Oriente Médio e são “casadas” sem consentimento, sendo posteriormente submetidas a exploração sexual em países vizinhos.
Enfrentar o tráfico humano é uma parte fundamental da Agenda da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, o que exige que os Estados-membros monitorem progressos no combate ao problema e relatem o número de vítimas, com dados separados por sexo, idade e tipo de exploração.
No entanto, lacunas de informação significativas continuam existindo, com muitos países da África Subsaariana, do Sul da Ásia e algumas partes da Ásia Oriental ainda sem capacidades suficientes para registrar e compartilhar dados sobre a prática.
“Esse relatório mostra que precisamos ampliar a assistência técnica e fortalecer a cooperação, para ajudar todos os países a proteger as vítimas, levar os criminosos à justiça e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, completou Fedotov.
Acesse o relatório na íntegra clicando aqui.
Fonte: ONU Brasil