Florestas tropicais em recuperação compensam 26% das emissões de carbono causadas pelo desmatamento

Florestas tropicais em recuperação compensam 26% das emissões de carbono causadas pelo desmatamento

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Importante, mas insuficiente. Estudo pioneiro publicado neste mês na revista Nature quantificou, pela primeira vez, o potencial de absorção de CO2 por florestas tropicais em recuperação. A conclusão é que, entre 1984 e 2018, as áreas em recuperação das três principais florestas tropicais do mundo — Amazônia, Bornéu (na Ásia) e Congo (na África central) — compensaram pouco mais de um quarto (26%) do carbono emitido por desmatamento e degradação florestal de todas as florestas tropicais no mesmo período.

O time de cientistas foi liderado por Viola Heinrich, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e conta com o brasileiro Luiz Aragão, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). É a primeira vez que  se realiza um estudo dessa natureza em larga escala. Os dados, obtidos por satélite e validados por pesquisas de campo nas florestas, cobrem um período de 34 anos.

O estudo obteve as primeiras estimativas sobre absorção de carbono em florestas tropicais em recuperação, incluindo a regeneração de áreas que passaram por degradação (perdas parciais causadas por extração de madeira, queimadas e eventos climáticos extremos) e as florestas secundárias (aquelas que foram totalmente derrubadas e voltaram a crescer).

“Os resultados da pesquisa têm importância tanto para os inventários nacionais de emissão de carbono apresentados às Nações Unidas como para o grande potencial do Brasil de atrair recursos financeiros por meio de investimentos em áreas de gestão e pagamento por serviços ambientais”, declarou Luiz Aragão à Agência Fapesp.

Para o futuro

Em valores brutos, os 26% de capacidade de absorção pelas florestas em recuperação significam uma média de 107 milhões de toneladas de carbono armazenadas por ano entre 1984 e 2018. A preservação total dessas áreas no futuro significaria um aumento de 32% no carbono armazenado até 2030, considerando o “estoque” calculado em 2018.

No entanto, os cientistas ponderam que esse cenário é improvável: “Muitas florestas secundárias são parte de práticas de cultivo itinerante de longo prazo, e as florestas degradadas em áreas de exploração madeireira são normalmente cortadas em ciclos de 15 a 40 anos, ou convertidas para outros usos da terra”, diz o artigo, que também destaca o aumento no desmatamento nas florestas tropicais nos últimos anos. Na Amazônia, como se sabe, o desmatamento explodiu a partir de 2019 e a degradação já afeta cerca de 38% da floresta.

Segundo o artigo, 35% das florestas degradadas foram posteriormente desmatadas, e quase metade desse desmatamento aconteceu até cinco anos após os primeiros eventos de perturbação (como queimadas ou extração de madeira). Isso sugere que florestas recentemente degradadas estão sob maior risco de desmatamento, o que torna seu estoque de carbono mais vulnerável. “Decidir quais florestas em recuperação proteger, portanto, não é simples”, pontuam os pesquisadores.

Por isso, eles modelaram um cenário em que seriam conservadas ao menos as florestas em regeneração mais vulneráveis (aquelas degradadas há menos de seis anos), e as florestas secundárias mais antigas (que ressurgiram há mais de 20 anos). De acordo com essa projeção, as florestas em recuperação analisadas teriam um potencial de absorção de 53 milhões de toneladas de carbono ao ano.

“Embora continue sendo prioridade proteger as florestas tropicais antigas, demonstramos o valor de gerenciar de forma sustentável as áreas que podem se recuperar de ações humanas”, afirmou a autora principal do artigo, Viola Heinrich, à assessoria da Universidade de Bristol, de acordo com a Agência Fapesp.

Em tempo: por estarem em “fase de crescimento”, as florestas secundárias chegam a ter um potencial de absorção de carbono de onze a vinte vezes maior do que o das florestas primárias (a depender das condições específicas de cada floresta), durante seu período de regeneração. No entanto, isso acontece durante um período de tempo limitado, enquanto a floresta volta a crescer. Ao mesmo tempo, como mostra o estudo, as emissões decorrentes da derrubada ou degradação da floresta primária ultrapassam de longe a capacidade de compensação das áreas em recuperação.

Por isso, zerar o desmatamento é indispensável. A proteção total das florestas tropicais primárias (a floresta ainda de pé, que não sofreu degradação ou desmatamento prévio) continua sendo a prioridade para a redução de emissões e a preservação dos biomas.  Como pontuam os cientistas, as florestas em recuperação são importantes aliadas — e a quantificação exata de sua capacidade de absorção de carbono é peça-chave nessa equação.

Fonte: Observatório do Clima

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