Abandono no Ensino Médio brasileiro duplicou na pandemia
Entre os anos de 2020 e 2021, o abandono escolar no Ensino Médio no Brasil aumentou 128%, saindo de 165 mil para 377 mil estudantes desistentes da escola. As regiões Norte (846%) e Nordeste (218%) foram as que mais perderam alunos.
Na variação de 2019 e 2020, o resultado é negativo (-51%). Contudo, é preciso considerar a dificuldade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) para identificar o abandono já que as aulas passaram a ser remotas durante a pandemia de Covid-19. A subnotificação de casos, no entanto, foi revelada em 2021.
Tabela 1. Variação percentual de abandono escolar no ensino médio, por região, em 2019/2020 e 2020/2021
Região | Abandono | Variação | |||
2019 | 2020 | 2021 | Var. em 2019 e 2020 | Var. em 2020 e 2021 | |
Brasil | 341.211 | 165.644 | 377.526 | -51% | 128% |
Norte | 68.373 | 8.735 | 82.653 | -87% | 846% |
Nordeste | 105.496 | 42.739 | 135.909 | -59% | 218% |
Sudeste | 97.893 | 65.287 | 89.809 | -33% | 38% |
Sul | 42.228 | 42.312 | 55.492 | 0,2% | 31% |
Centro-Oeste | 27.221 | 6.571 | 13.663 | -76% | 108% |
Fonte: Censo Escolar 2019, 2020 e 2021 (elaboração do Inesc).
Os dados acima pertencem à Nota Técnica divulgada pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) sobre o abandono no Ensino Médio brasileiro nos anos de 2019, 2020 e 2021, período com números disponíveis no momento da elaboração do estudo. Os dados foram obtidos no Censo Escolar e Lei de Acesso à Informação e analisados de acordo com a região do Brasil, divididos por sexo em cada unidade da federação. (Veja outras tabelas abaixo.)
“Um dos mais perversos efeitos das desigualdades, especialmente de raça e etnia, é a desistência ou a expulsão de crianças e adolescentes da escola antes da conclusão da educação básica, efeito que ficou mais explícito na pandemia de Covid-19”, resume Thallita de Oliveira, assessora política do Inesc.
No Sudeste, o número de estudantes em situação de abandono escolar em 2021 foi de 89.809, o que representa um aumento de aproximadamente 38% em relação a 2020. O Sul também registrou crescimento, passando de 42.312 casos em 2020 para 55.492 em 2021. Já na Região Centro-Oeste, o abandono escolar em 2021 foi de 13.663, o que corresponde a um aumento de aproximadamente 108% em relação a 2020.
“Uma questão que precisa ser analisada pelo Ministério da Educação é se o abandono foi maior nos locais onde, durante a pandemia, não se havia adequado acesso à internet e equipamentos necessários para o acompanhamento das aulas, pois a ausência de condições mínimas pode ter levado adolescentes a desistir da escola”, diz a Nota Técnica.
Estados – O estudo também apresenta os números de cada Estado na incidência de abandono escolar no Ensino Médio. Somadas as perdas nos três anos avaliados, o ranking da desistência é liderado por Minas Gerais (110 mil alunos), Bahia (106 mil) e Pará (97 mil).
Tabela 2. Dados de abandono escolar por estado nos anos de 2019, 2020 e 2021
Número de estudantes que abandonaram o EM | 2019 | 2020 | 2021 |
Acre | 2.272 | 1.249 | 2.407 |
Alagoas | 6.747 | 527 | 8.923 |
Amapá | 3.068 | 720 | 2.509 |
Amazonas | 20.375 | 335 | 11.215 |
Bahia | 37.659 | 3.922 | 65.374 |
Ceará | 12.455 | 10.029 | 6.836 |
Distrito Federal | 3.846 | 658 | 1.178 |
Espírito Santo | 2.145 | 2.573 | 2.751 |
Goiás | 4.456 | 4.195 | 2.904 |
Maranhão | 12.918 | 14.776 | 17.430 |
Mato Grosso | 13.051 | 947 | 8.155 |
Mato Grosso do Sul | 5.868 | 771 | 1.426 |
Minas Gerais | 33.698 | 53.432 | 23.363 |
Pará | 35.184 | 2.175 | 59.831 |
Paraíba | 8.172 | 3.292 | 4.709 |
Paraná | 12.196 | 12.947 | 4.042 |
Pernambuco | 4.649 | 1.299 | 4.799 |
Piauí | 8.919 | 6.566 | 5.840 |
Rio de Janeiro | 31.738 | 2.924 | 10.542 |
Rio Grande do Norte | 9.287 | 766 | 19.430 |
Rio Grande do Sul | 17.764 | 20.326 | 32.023 |
Rondônia | 3.314 | 1.425 | 3.274 |
Roraima | 1.611 | 178 | 1.246 |
Santa Catarina | 12.268 | 9.039 | 19.427 |
São Paulo | 30.312 | 6.358 | 53.153 |
Sergipe | 4.690 | 1.562 | 2.568 |
Tocantins | 2.549 | 2.653 | 2.171 |
Fonte: Censo Escolar (elaboração do Inesc).
Em relação ao gênero, as meninas foram as que mais abandonaram a escola, em quase todos os Estados. “Durante a pandemia, a vida escolar das meninas foi mais prejudicada pelo excesso de obrigações domésticas e de trabalho fora de casa, além das precárias condições de saúde mental a que muitas estavam submetidas”, observa a Nota Técnica. “Essa percepção já havia aparecido em pesquisa realizada em 2021 pelo Inesc, em parceria com Instituto Vox Populi”, acrescenta o Inesc.
A Nota Técnica aponta o trabalho infantil como uma das causas principais do abandono escolar. O estudo cita a pesquisa quantitativa intitulada “Educação Brasileira em 2022: A voz de adolescentes”, realizada pelo Unicef, em parceria com o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), revelando que: A maioria dos adolescentes em situação de trabalho infantil é composta por meninos negros.
Outros motivos para o abandono e evasão escolar seriam: “porque a escola não tinha retomado as atividades presenciais”; “por não conseguir acompanhar as explicações ou atividades passadas pelos professores”; “por ter que cuidar de outros familiares em casa”; “por falta de transporte para ir até a escola”; “por ter ficado grávida ou ter tido um filho ou uma filha”; “por ter sido alvo de preconceito ou discriminação racial”.
Faça o download do estudo Abandono no ensino médio brasileiro entre 2019 e 2021
Fonte: Inesc
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