ABI lança protocolo antifeminicídio para apoiar cobertura jornalística

ABI lança protocolo antifeminicídio para apoiar cobertura jornalística

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Associação Bahiana de Imprensa lança Protocolo Antifeminicídio – Guia de Boas Práticas para a Cobertura Jornalística. O documento, apresentado inicialmente em formato e-book, visa contribuir para uma cobertura jornalística mais responsável, ética e sensível, que não revitimize as mulheres e seus familiares, e que ajude a combater a cultura de violência de gênero.

Os números são alarmantes. Entre 2017 e 2023, foram registrados 672 feminicídios na Bahia, sendo que 92,6% dos crimes foram cometidos por companheiros ou ex-namorados das vítimas. Os dados são da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), em cooperação com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). Em 2024, até fevereiro, já haviam sido registrados 7.800 boletins de ocorrência, no âmbito da Lei Maria da Penha em todo o estado.

O Protocolo Antifeminicídio é um guia prático dirigido a jornalistas e profissionais da comunicação, como uma espécie de roteiro que pode ser adaptado à apuração e redação de notícias sobre esses crimes. Ele traz orientações para uma investigação séria e alerta sobre a necessidade de a categoria conhecer as consequências legais das distintas formas de violências contra a mulher, além do claro entendimento do que é o crime de feminicídio.

A publicação se vale de casos icônicos dos noticiários baiano e brasileiro para alertar sobre a construção de estereótipos e o fenômeno da revitimização, além de trazer dados estatísticos, indicação de fontes de informação e redes de acolhimento para vítimas de violência. Há também uma seção dedicada a mostrar casos de veículos que já vêm adotando a prática de agregar, ao final das notícias sobre feminicídio e violência contra as mulheres, uma orientação direta, para combater a passividade e estimular a denúncia e o acionamento de medidas de prevenção.

Para a Diretoria da ABI, em um cenário onde a informação é disseminada rapidamente, a responsabilidade do jornalista transcende a mera transmissão de notícias e abrange a compreensão profunda dos temas abordados. A iniciativa de construção desse protocolo veio do entendimento do papel que as mídias desempenham no registro dessas ocorrências, já que, muitas vezes, a forma que o assunto é noticiado influencia a opinião pública e causa discussões importantes na sociedade.

“O documento reforça o compromisso da ABI com o fortalecimento da ética e responsabilidade na imprensa. Nossa expectativa é discutir e fomentar a iniciativa, pioneira no estado, no esforço de orientar os jornalistas sobre como abordar as violências de gênero”, destaca Jaciara Santos, diretora de Comunicação da ABI.

Com projeto gráfico assinado pela designer Daniela Alfaya, o protocolo é uma produção editorial da ABI, tendo sido proposto, escrito e defendido pelas mulheres da instituição, com o patrocínio da agência ATcom e apoio institucional do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

Estereótipos e revitimização 

“De Júlia Fetal, assassinada no século XIX, ao feminicídio noticiado hoje, assim como o feminicídio que pode estar em andamento enquanto este texto é lido, há um aspecto trágico em comum. A cobertura desses crimes, frequentemente, se configura como um segundo assassinato das mesmas vítimas, mortas social e simbolicamente”, observa o jornalista e radialista Ernesto Marques, presidente executivo da ABI.

O dirigente lembra que as redações que noticiaram o caso Júlia Fetal eram território exclusivamente masculino. “Mas as mulheres já estavam presentes nos veículos que informaram o assassinato de Ângela Diniz, de Sandra Gomide, e já eram maioria antes das matérias publicadas sobre o feminicídio praticado contra Sara Freitas”, reflete.

A jornalista Suzana Alice, conselheira consultiva da ABI, analisa a cobertura oferecida pela mídia ao caso da cantora gospel Sara Freitas, cujo marido foi denunciado pelo Ministério Público da Bahia como mentor da morte. Para ela, a forma como a imprensa aborda episódios do tipo é fundamental para a compreensão pública do problema.

“Para nós da ABI não constitui motivo de alegria termos que produzir um Protocolo Antifeminicídio. Melhor seria que não existisse a tragédia social motivadora. Mas é claro que estamos satisfeitos por termos, na medida de nossas responsabilidades, tido a iniciativa de fazer algo para tentar conter a selvageria que tanto desonra, historicamente, a sociedade brasileira. E essa satisfação se vincula à expectativa de sensibilizarmos empresas e profissionais da imprensa a se posicionarem diante de um problema que, antes de tudo, é uma questão de direitos humanos”, afirma a dirigente.

A 2ª vice-presidente da ABI, Suely Temporal, destaca que se trata de um documento de recomendações. “Não é uma norma. Não queremos ensinar aos veículos como trabalhar, são recomendações de boas práticas antifeminicídio para aqueles que ainda não incorporaram medidas nesse sentido. Precisamos de uma imprensa livre e responsável”, reforça.

Confira informações sobre o lançamento aqui

 

Fonte: Associação Bahiana de Imprensa

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