Abraji e Flip lançam relatório sobre as dificuldades e o trabalho do jornalismo na Amazônia

Abraji e Flip lançam relatório sobre as dificuldades e o trabalho do jornalismo na Amazônia

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A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP), da Colômbia, uniram forças para abordar os desafios enfrentados pelo jornalismo na Amazônia, um dos ambientes mais difíceis de cobrir devido a sua densidade natural, mas também devido à interseção de interesses econômicos legais e ilegais. As duas organizações produziram um relatório em duas seções, uma sobre a Amazônia brasileira e outra sobre a Amazônia colombiana, identificando os desafios específicos do jornalismo nesses contextos e como suas histórias podem ajudar a proteger a diversificada região, com sua rica biodiversidade, inúmeras culturas indígenas e ribeirinhas e recursos naturais únicos, e promover uma sociedade bem informada e comprometida com sua conservação. O relatório em português pode ser acessado neste link.

Considerar a Amazônia como um único bioma pode ser uma simplificação se ignorar a rica diversidade de seus povos, territórios e desafios. Reconhecer a Amazônia implica compreendê-la além de uma entidade única e valorizar as múltiplas realidades que nela coexistem. Não é o mesmo falar da vasta Amazônia brasileira em Roraima ou no Mato Grosso, assim como não é o mesmo falar da Amazônia colombiana em Caquetá ou em Putumayo, por exemplo.

Essas Amazônias também compartilham tragédias diárias que não reconhecem fronteiras. Economias ilícitas como o narcotráfico, a mineração ilegal, o tráfico de armas, entre outras, que se traduzem no controle de grupos às margens da lei e que ameaçam o equilíbrio do território, condenam jornalistas ao silêncio, instalado na autocensura e no medo de ameaças e da morte. Nessa questão, também desempenham um papel grandes empresas extrativistas, atividades como a pecuária extensiva ou a expansão da agroindústria, que ameaçam as relações simbióticas que, por milênios, foram construídas e devastam a selva em uma escala alarmante para a humanidade.

Neste contexto, a Colômbia e o Brasil compartilham a triste distinção de serem os países onde mais líderes ambientais são assassinados ano após ano. O último relatório disponível da Global Witness, publicado em 2023, afirma que dos 177 assassinatos em todo o mundo em 2022, 60 ocorreram na Colômbia e 34 no Brasil. Cerca de 36%, 64 pessoas, pertenciam a comunidades indígenas. Falar, agir e denunciar o que está acontecendo na Amazônia é uma questão de vida ou morte.

Esse contexto é inevitável para a prática do jornalismo nas regiões amazônicas. Cobrir essas questões acarreta riscos significativos, desde enfrentar a presença de vários atores armados, a imposição do silêncio, barreiras no acesso à informação e limitações geográficas e econômicas que restringem a cobertura em campo e a análise aprofundada das questões locais. O assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira em 2022, em Atalaia do Norte (AM), é um lembrete sombrio dos perigos enfrentados por profissionais que pesquisam e fazem reportagens sobre a Amazônia.

No entanto, a informação sobre o que está acontecendo todos os dias na Amazônia é fundamental para a sociedade. Na medida em que menos informações estiverem disponíveis, na medida em que as vozes dos defensores continuarem a ser silenciadas, todos nós teremos menos condições de tomar decisões e de exigir que os governos e os órgãos multilaterais tomem providências nesse momento decisivo para o futuro do planeta. Por outro lado, também é essencial observar as reivindicações daqueles que habitam esses territórios diante das visões e narrativas que se instalaram na discussão pública e destacar a necessidade de informações produzidas com abordagens pluriculturais que reconheçam o valor de outras visões de mundo.

Este relatório examina as condições que afetam o direito à liberdade de imprensa e de expressão, com foco no jornalismo e em outras formas de produção de informações de interesse público, especialmente na região amazônica da Colômbia e na Amazônia ocidental brasileira. Conscientes da diversidade de perspectivas, a ABRAJI e a FLIP enfatizam que não é intenção do projeto estabelecer uma visão única sobre a situação na Amazônia, mas incentivar um diálogo mais amplo. Embora o escopo seja limitado às áreas e vozes ouvidas no relatório, procurou-se contribuir com elementos-chave para o debate sobre como o jornalismo pode contribuir para a proteção da Amazônia e garantir que os cidadãos recebam informações cada vez mais completas e precisas.

 

Fonte: Abraji

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