Crianças na primeira infância consomem mais ultraprocessados do que adolescentes, adultos e idosos
Esse é o tipo de manchete chocante que a gente não queria ter que dar. Mas é o que mostra o último relatório (8) do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), inquérito domiciliar que vai produzir um retrato atualizado da nutrição infantil no país. Considerando crianças menores de cinco anos, o consumo de ultraprocessados representou a fonte de 25% das calorias diárias ingeridas, e o percentual é ainda maior considerando as crianças entre 2 e 5 anos: 30%. Essa é a primeira vez que temos um retrato sobre o consumo alimentar dessa faixa etária. E como parâmetro de comparação, o percentual encontrado está acima do encontrado pela última Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017 – 2018 (POF), em que a média da participação dos ultraprocessados nas dietas de adolescentes, adultos e idosos foi, respectivamente, 26,7%, 19,5% e 15,1%.
Os demais resultados do Enani mostram este cenário preocupante: baixa ingestão de produtos in natura e alto consumo de alimentos ultraprocessados, o que pode levar a problemas de saúde na infância e na vida adulta, como obesidade, hipertensão e câncer. De acordo com o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras de até dois anos, produtos ultraprocessados não devem sequer ser ofertados para essa faixa etária. Veja outros resultados de destaque do último relatório, disponível na íntegra, aqui:
- Metade das crianças brasileiras de até 5 anos não come frutas diariamente
- 3 em cada 5 crianças brasileiras menores de 5 anos consome açúcar diariamente
- 4 em cada 5 crianças brasileiras de até 5 anos não come raízes e tubérculos diariamente
- Metade das crianças brasileiras de até 2 anos não come leguminosas e sementes diariamente
- Quase metade das crianças brasileiras menores de 5 anos não come carnes e derivados diariamente
- 3 em cada 4 crianças brasileiras de até 5 anos não consomem hortaliças diariamente
“É preocupante o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) por crianças menores de 5 anos, pois esses produtos passam por diversos processos industriais e contêm aditivos, além de serem altamente palatáveis e convenientes. Esses alimentos estão associados a efeitos prejudiciais à saúde infantil, como ganho excessivo de peso, aumento do risco de obesidade, Diabetes Mellitus tipo 2, doenças cardiovasculares e cárie”, afirma o relatóio. “O consumo frequente de AUP pode criar uma preferência por sabores artificiais e intensamente palatáveis, o que dificulta a aceitação de alimentos saudáveis, como os in natura ou minimamente processados. É recomendado que as crianças não sejam expostas a esses alimentos antes dos 2 anos e, após essa idade, que sua oferta seja limitada.”
Nova edição do ENANI
Para encontrar esses resultados, o Enani visitou 15 mil famílias, entre 2019 e 2020 – e uma segunda edição da coleta de dados já está em curso. Desde abril deste ano, entrevistadores estão percorrendo 124 municípios, visitando 15 mil domicílios em todos os estados do país. Além da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), participam da coordenação da pesquisa a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Federal de Goiás (UFG).
Além das perguntas sobre aleitamento materno, consumo alimentar, medidas de peso e tamanho das crianlas, o ENANI-2024 também avaliará o ambiente alimentar comunitário, isto é, a disponibilidade, qualidade, variedade de frutas e hortaliças e alimentos ultraprocessados na vizinhança das famílias visitadas.
Informações valiosas e livres de conflito de interesses! Já estamos esperando ansiosamente os novos resultados desse inquérito fundamental para gestores públicos, sociedade civil, profissionais da saúde, famílias, educadores, todos e todas que atuam na promoção de uma alimentação adequada e saudável.
Veja mais no vídeo abaixo
Fonte: ACT
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