Conflitos continuam elevados dentro dos Territórios Indígenas, diz Comissão Pastoral da Terra

Conflitos continuam elevados dentro dos Territórios Indígenas, diz Comissão Pastoral da Terra

Compartilhe

Ninguém pode ser ameaçado por defender um mundo mais sustentável, digno e justo – mas a realidade mostra um outro lado, o da violência contra os defensores e defensoras de Direitos Humanos. Segundo o documento “Dados Parciais 2024: Violência no campo faz menos vítimas, mas os conflitos continuam em níveis elevados no 1º semestre”, publicado na última segunda-feira (02) pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), um cenário de horror e guerra perdura no interior do Brasil.

Segundo a Comissão, foram registrados no primeiro semestre de 2024 1.056 ocorrências de conflitos no campo, sendo 872 conflitos pela terra, 125 conflitos pela água e 59 casos registrados de trabalho análogo a escravidão. Somado aos danos sofridos pelas comunidades rurais devido à crise climática e aos incêndios criminosos, chega-se a uma situação desesperadora, com altos índices de conflitos por territórios e muitas situações de pobreza e vulnerabilidade.

Nega Pataxó

Importante ressaltar que a maioria das ocorrências foi de violências contra a ocupação e a posse (824), frente às 48 ações de resistência (ocupações, retomadas e acampamentos). Os povos indígenas ocupam o 2º lugar (220 casos) em relação aos alvos da violência dos conflitos de terra, ficando atrás apenas de posseiros, que são famílias moradoras de comunidades tradicionais, mas que ainda não têm a titulação da terra.

Segundo a CPT, “houve uma diminuição no número de vítimas de assassinatos, sendo 6 no primeiro semestre, e 11 confirmados até o final de novembro. E quase metade dos assassinatos foram cometidos por fazendeiros. Do total de vítimas, 1 foi mulher: a liderança indígena Nega Pataxó, vítima da ação coordenada pelo grupo de ruralistas autodenominado “Invasão Zero”.

Falta água

A situação de violência nos territórios permanece – semana passada, houve uma situação muito grave no estado do Mato Grosso do Sul, nas imediações da Reserva Indígena de Dourados e da rodovia que liga Dourados a Itaporã, a MS 157. Povos indígenas das etnias Guarani Kaiowá e Terena realizavam manifestações contra a escassez de água potável quando a Polícia Militar e a Tropa de Choque, enviadas pelo governador Eduardo Riedel (PSDB/MS), reprimiram de forma violenta a manifestação pacífica a favor de um item essencial à vida: a água.

Homens, mulheres, idosos e crianças sofreram com os efeitos das balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo disparadas pelas forças policiais. Ao adentrarem a Aldeia Jaguapiru, atos de violência física também foram testemunhados pelos indígenas. Segundo a Assembleia Geral do povo Kaiowá e Guarani, ao menos 20 indígenas terminaram feridos, sendo que três (duas mulheres e uma criança) precisaram de internação hospitalar.

No mesmo dia à noite, a comunidade Pataxó Patxohã, em Santa Cruz Cabrália (BA), foi atacada por homens armados e encapuzados que colocaram fogo em duas casas, incluindo a do cacique e a do vice-cacique. Conhecida como Terra Indígena Coroa Vermelha ou Aldeia da Pinga, a área abriga 65 famílias e cerca de 300 pessoas, a região é alvo de um conflito fundiário que se arrasta desde 1993 entre povos indígenas e antigos latifundiários.

Seja no contexto urbano ou dentro dos seus territórios, os povos indígenas têm enfrentado diferentes ameaças na luta pelos seus direitos e no direito à vida com dignidade. A Lei 14.701/2023, que aprovou o Marco Temporal e está atualmente em vigor, possibilita a intensificação da violência. Na semana passada, autoridades policiais e o capangas do agronegócio protagonizaram cenas de violência extrema contra os povos originários e tais atos precisam ser investigados e os culpados, devidamente responsabilizados.

Em ambos os casos, a violência encontra na legislação aprovada a carta branca que precisa para continuar perpetuando a negação dos direitos básicos e a manutenção do clima de terror. Enquanto a luta pelo direito ao território encontra barreiras e morosidades em Brasília (DF), a sobrevivência dos povos originários, que já estavam aqui bem antes da promulgação da Constituição de 88, estará ameaçada.

Quando um direito é violado, todos os outros direitos estão ameaçados. Por isso, ser contra a tese do Marco Temporal é, antes de tudo, uma luta pela justiça social, pela defesa dos direitos dos povos indígenas e pela conservação do meio ambiente. Essa causa não é exclusiva dos povos indígenas, mas de todos que acreditam em um futuro sustentável, justo e possível. E que precisa ser defendido HOJE!

Por isso, convidamos você a se juntar a essa luta! Assine a petição Marco Temporal Não! e nos ajude a alcançar a meta de 100 mil assinaturas, que serão entregues ao Supremo Tribunal Federal para pressionar pela derrubada da Lei 14.701 e pela proteção dos direitos indígenas.

 

Fonte: Greenpeace

Para mais notícias sobre Desenvolvimento Inclusivo e Sustentável, acesse aqui.