Segurança digital para jornalistas: como se defender de ameaças online
De acordo com o relatório “Violência online: a internet como arena de ataques contra jornalistas”, lançado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) durante seu 19º Congresso Internacional de Jornalismo, cerca de 15 jornalistas foram alvo de tentativas de invasão de contas no X (antigo Twitter) durante um ataque massivo de phishing em 2022. Com a crescente digitalização do jornalismo, é crucial que os profissionais estejam preparados para se proteger contra diversos tipos de ataques na internet.
“Todos os cidadãos do mundo correm um risco pessoal sempre que estão usando a internet e dispositivos. Esse risco é ainda maior para jornalistas profissionais, pois são muito visíveis”, alertou Ela Stapley, consultora de segurança digital do CPJ (Comitê para a Proteção de Jornalistas), durante o Congresso.
O uso das redes sociais é fundamental para a divulgação do trabalho jornalístico, tornando inviável que o profissional se afaste do meio digital. Portanto, é determinante que mantenham sua segurança online por meio de algumas práticas recomendadas:
Senhas fortes: Utilize senhas complexas e diferentes para cada conta. Ferramentas como LastPass ou 1Password podem ajudar a gerenciar suas senhas.
Autenticação de dois fatores: Ative a autenticação em todas as contas possíveis, utilizando aplicativos como Google Authenticator ou Authy.
Antivírus e Anti-malware: Mantenha seu software de segurança sempre atualizado. Algumas opções recomendadas incluem Norton, Kaspersky e Bitdefender.
Criptografia: Utilize ferramentas de criptografia para proteger suas comunicações, como o Signal para mensagens e o ProtonMail para e-mails.
Separação de contas: É importante ter contas profissionais distintas das pessoais, ajustando as configurações de privacidade para limitar quem pode ver suas informações familiares. “Tenha boas senhas, certifique-se de que a autenticação esteja ativada com a chave de backup e garanta que suas contas relacionadas ao trabalho tenham o mínimo possível de dados pessoais”, aconselha Ela Stapley.
Além dessas práticas, os jornalistas devem estar sempre atentos a e-mails e mensagens suspeitas. Nunca devem clicar em links ou baixar anexos de remetentes desconhecidos. Quando possível, devem utilizar ferramentas de monitoramento para identificar e rastrear atividades suspeitas em suas contas.
“É importante entender quem está ativo online em sua região. Certos grupos, ligados a correntes políticas, religiões ou interesses particulares, podem ser negativamente ativos na internet. Saber quem são esses grupos é muito importante antes de fazer uma denúncia, pois isso é essencial para sua segurança e ajudará a se proteger melhor”, destacou Stapley.
Ferramentas de Monitoramento
Algumas ferramentas úteis para monitoramento incluem:
- Have I Been Pwned: Permite verificar se seus e-mails foram comprometidos em violações de dados, possibilitando ações imediatas para proteger suas contas.
- Google Alerts: Configure alertas para ser notificado sobre qualquer menção online a seu nome ou ao nome da sua organização, ajudando a monitorar sua presença e reputação digital.
- Malwarebytes: Detecta e remove malware, spyware e outras ameaças que podem comprometer dados confidenciais.
- Spybot Search & Destroy: Ajuda a identificar e remover spyware, garantindo a privacidade dos dados.
- SiteLock: Monitora websites em busca de vulnerabilidades e atividades maliciosas, protegendo contra ataques que poderiam comprometer a integridade do conteúdo.
Sofreu um ataque? Salve as provas
Em 2023, 52,1% dos alertas registrados pelo Relatório estavam relacionados ao ambiente digital. Durante a palestra “Como se proteger de ataques virtuais”, realizada no Congresso, a jornalista Patrícia Figueiredo compartilhou quando foi alvo de uma tentativa de intimidação virtual enquanto trabalhava em um projeto de fact-checking.
Ela contou que, naquela época, ainda não havia muitas discussões sobre o que se entendia por assédio virtual ou ataques digitais contra jornalistas, e ela não percebeu que estava sendo vítima. Anos depois, a jornalista compreendeu como o episódio a afetou pessoal e profissionalmente. “Senti-me violada em meu espaço pessoal ao ver pessoas desconhecidas falando sobre mim de maneira agressiva. Hoje, temos uma percepção mais clara de que ataques a jornalistas são ataques ao jornalismo. Por outro lado, o episódio me fez buscar métodos de segurança digital e pensar em estratégias de senhas, logins, backups etc.”
Diante desse cenário, é vital que os jornalistas salvem o máximo de provas possíveis para auxiliar em sua defesa e segurança:
- Capturas de tela: Faça capturas de tela de mensagens, e-mails e postagens ofensivas.
- Backup de dados: Armazene cópias das evidências em locais seguros, como um disco rígido externo ou serviços de armazenamento em nuvem.
- Registro dos acontecimentos: Anote datas, horários e descrições detalhadas dos ataques. O salvamento dessas provas pode ser imprescindível ao procurar apoio jurídico.
Programa de Proteção Legal para Jornalistas
Para a especialista Ela Stapley, acompanhar as mudanças de legislação pode ajudar o jornalista a entender o cenário de violência digital na internet, permitindo que faça seu trabalho de forma mais segura e informada. O Programa de Proteção Legal para Jornalistas da Abraji é uma ferramenta que oferece suporte e orientação para garantir a segurança dos profissionais de imprensa.
Financiado pela Media Defence e em parceria com o Instituto Tornavoz, o programa oferece assistência jurídica gratuita a jornalistas e comunicadores silenciados ou constrangidos por processos judiciais, além daqueles assediados, ameaçados e perseguidos que desejam processar civilmente seus agressores. Profissionais que precisam de orientação jurídica em casos de assédio e ameaça online são atendidos pelo convênio entre a Abraji e o Observatório de Liberdade de Imprensa da OAB. As inscrições para o programa podem ser feitas por este formulário ou através do email programadeprotecao@abraji.org.br.
Fonte: Abraji
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