Cortes para HIV/Aids podem gerar 4 milhões de mortes adicionais até 2029

Cortes para HIV/Aids podem gerar 4 milhões de mortes adicionais até 2029

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Os serviços de prevenção e tratamento do HIV/Aids estão sob grave risco no mundo, devido a cortes repentinos de financiamento implementados este ano. O alerta é do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, Unaids.

A agência estima que se os serviços apoiados pelos Estados Unidos entrarem em colapso total, cerca de 6 milhões de novas infecções e 4 milhões de mortes adicionais relacionadas à doença podem ocorrer entre 2025 e 2029.

30 mil profissionais da saúde afetados em Moçambique

O relatório Aids, Crise e o Poder de Transformar, lançado nesta quinta-feira, detalha como a falta de recursos causou abalos nos sistemas de saúde, incluindo o corte de profissionais que lidam diretamente com a doença.

Só em Moçambique, mais de 30 mil trabalhadores de saúde foram afetados.

A nação lusófona está entre aquelas consideradas com alta dependência do Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para Alívio da Aids, conhecido como Pepfar.

Esses países, onde mais de 60% das despesas com a doença são bancadas pelo Pepfar, enfrentam alto risco de interrupção imediata dos serviços, caso o apoio do governo dos Estados Unidos diminua ou pare.

Peso da dívida em Angola

Muitas das atividades apoiadas pelo Pepfar exigem um compromisso financeiro duradouro, mão de obra qualificada e sistemas de aquisição e distribuição eficientes.

O Unaids alerta que é difícil para os países repor instantaneamente o financiamento em um momento em que estão sobrecarregados com altos pagamentos de dívidas e vivenciado um crescimento econômico lento.

Angola, gasta quase cinco vezes mais com o serviço da dívida pública do que com investimentos em saúde.

Impacto positivo da transferência de renda no Brasil

Apesar dos desafios, cerca de 25 dos 60 países de baixa e média rendas, incluídos no relatório, indicaram aumentos nos orçamentos domésticos para suas respostas ao HIV/Aids em 2026. O aumento coletivo estimado é de 8% em relação aos níveis atuais. Para o Unaids, o avanço é promissor, mas ainda insuficiente.

O Brasil se destaca como um exemplo onde toda a compra de medicamentos antiretrovirais é bancada com recursos domésticos.

Além disso, o relatório ressalta que que a incidência do HIV/Aids foi 41% menor e a mortalidade 39% mais baixa dentre os que receberam transferência de renda por meio do Programa Bolsa Família.

“Bomba-relógio”

Mesmo antes dos cortes e interrupções deste ano, 9,2 milhões de soropositivos não tinham acesso a serviços vitais em 2024. Deste total, 620 mil eram crianças de 0 a 14 anos.

Também no ano passado, 630 mil pessoas morreram de causas relacionadas ao HIV/Aids, 61% delas na África Subsaariana.

Nesse contexto, a diretora executiva do Unaids, Winnie Byanyima, declarou que os cortes não representam apenas uma lacuna de financiamento, mas sim “uma bomba-relógio”.

Ela ressaltou o desaparecimento de serviços “da noite para o dia”, após a dispensa de profissionais de saúde e da retirado dos cuidados a crianças.

Acesso a novas ferramentas de prevenção

O relatório também destaca o surgimento de novas ferramentas de prevenção altamente eficazes, como a Profilaxia Pré-Exposição, ou PrEP, injetável de ação prolongada.

Nessa categoria, o fármaco lenacapavir, mostrou eficácia quase completa em ensaios clínicos. Porém, o acesso à essa opção é limitado pelo alto preço.

Para Byanyima “ainda há tempo para transformar esta crise em uma oportunidade”. Ela ressalta que os países estão intensificando o financiamento doméstico, as comunidades estão mostrando o que funciona.

Falta apenas a “solidariedade global para corresponder à essa coragem e resiliência”.

 

Fonte: ONU News

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