Milhões de crianças, entre as mais pobres do mundo, foram deixadas para trás apesar dos progressos globais, alerta novo relatório do UNICEF

Compartilhe

A comunidade global vai falhar com milhões de crianças se não se concentrar naquelas mais desfavorecidas no seu novo roteiro de desenvolvimento para os próximos 15 anos, alertou o UNICEF nesta terça-feira (23).

Progresso para as Crianças: Para além das Médias (Progress for Children: Beyond Averages – disponível somente em inglês), relatório final do UNICEF sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) relacionados com as crianças, afirma que, apesar de conquistas significativas, a desigualdade de oportunidades deixou milhões de crianças vivendo na pobreza, morrendo antes de completar 5 anos de idade, sofrendo de desnutrição crônica e fora da escola.

"Os ODM ajudaram o mundo a realizar enormes progressos para as crianças – mas também nos mostraram quantas crianças estamos deixando para trás", afirmou o diretor executivo do UNICEF, Anthony Lake. "A vida e o futuro das crianças mais desfavorecidas importam – não só para o seu próprio bem, como para o bem de suas famílias, comunidades e sociedades".

As disparidades dentro dos países deixaram as crianças das famílias mais pobres com o dobro de probabilidade de morrer antes de completar 5 anos de vida e com muito menos probabilidade de alcançar padrões mínimos de leitura do que as crianças das famílias mais ricas.

Continuar não alcançando essas crianças pode ter consequências dramáticas. No ritmo atual de progresso, levando em consideração a projeção do crescimento demográfico, estima-se que:

  • Mais 68 milhões de crianças menores de 5 anos vão morrer de causas evitáveis até 2030;
  • Cerca de 119 milhões de crianças sofrerão de desnutrição crônica em 2030;
  • Meio bilhão de pessoas ainda defecarão ao ar livre, trazendo sérios riscos para a saúde das crianças em 2030;
  • Serão necessários quase 100 anos para que todas as meninas das famílias mais pobres da África ao sul do Saara possam completar o primeiro ciclo do ensino secundário.

O relatório destaca sucessos notáveis desde 1990:

  • A mortalidade de menores de 5 anos baixou mais da metade, de 90 para 43 por 1.000 nascidos vivos;
  • O baixo peso e a desnutrição crônica em crianças menores de 5 anos diminuíram em 42% e 41%, respectivamente;
  • A mortalidade materna baixou em 45%;
  • Cerca de 2,6 bilhões de pessoas passaram a ter acesso a fontes melhoradas de água potável.

E as lacunas entre os mais pobres e os mais ricos estão diminuindo em mais da metade dos indicadores analisados pelo UNICEF:

  • Em muitos países, verificam-se mais avanços em termos de sobrevivência infantil e frequência escolar nas famílias mais pobres;
  • A lacuna existente nas taxas de mortalidade materna entre os países de baixa e alta renda foi reduzida pela metade entre 1990 e 2013, de 38 vezes maior para 19 vezes maior.

O relatório também destaca as más notícias: os progressos não estão chegando aos cerca de 6 milhões de crianças que morrem por ano antes de completar o quinto aniversário; às 289 mil mulheres que morrem por ano ao dar à luz; e aos 58 milhões de crianças que não vão à escola primária.

No momento em que os líderes mundiais se preparam para adotar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), as crianças mais desfavorecidas deveriam estar no coração dos novos objetivos e metas, afirmou o UNICEF. Melhores coleta e desagregação de dados – indo para além das médias tais como as que foram usadas para medir os ODM – podem ajudar a identificar quais são as crianças mais vulneráveis e excluídas, assim como saber onde vivem. Sistemas locais de saúde, educação e proteção social mais fortes podem ajudar mais crianças a sobreviver e desenvolver-se. E investimentos mais pensados em função das necessidades das crianças mais vulneráveis podem produzir benefícios em curto e longo prazo.

"Os ODS representam uma oportunidade de aplicar as lições que aprendemos e chegar às crianças que mais precisam – e, se não o fizermos, será um motivo de vergonha para nós", afirmou Lake. "Porque oportunidades mais equitativas para as crianças de hoje significam menos desigualdade e mais progresso global amanhã".

Sobre o UNICEF – O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) promove os direitos e o bem-estar de cada criança em tudo o que faz. Com seus parceiros, trabalha em 190 países e territórios para transformar esse compromisso em ações concretas que beneficiem todas as crianças, em qualquer parte do mundo, concentrando especialmente os nossos esforços para chegar às crianças mais vulneráveis e excluídas.