Aplicativo criado por pernambucano ajuda crianças do espectro autista a se comunicarem e brincarem
App permite que crianças e jovens criem jogos e brincadeiras que podem ser compartilhados, fazendo dos estudantes protagonistas no processo de comunicação
Um programa criado para ajudar pessoas com deficiência e que têm o transtorno do espectro autista está mudando a realidade de crianças e jovens e começou a ser utilizado na rede municipal de educação de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife.
Criado em 2009, o Livox é um programa de computador que auxilia as pessoas com autismo a se comunicarem e também nas brincadeiras. O desenvolvedor Carlos Pereira teve a ideia do programa para se comunicar com a filha, Clara, atualmente com 15 anos, que tem paralisia cerebral.
Ele conta que largou o emprego de técnico em eletrônica e passou a trabalhar apenas com pessoas com deficiência. Assim, percebeu que a filha queria se comunicar e entrou em contato com empresas que desenvolviam softwares de comunicação alternativa fora do Brasil, mas elas não demonstraram interesse em trazer as ferramentas para o país.
“As empresas falaram que não tinham interesse no Brasil e eu decidi aprender a programar, para criar um software para a minha filha. Foi aí que nasceu o Livox”, explicou Carlos Pereira, que desenvolveu o aplicativo, atualmente utilizado em mais de 10 países.
Nesses 13 anos, o Livox recebeu investimentos para melhorar o desempenho e desenvolver a inteligência artificial, e também firmou parceria com uma empresa desenvolvedora de brinquedos e jogos, que possibilita que pessoas com deficiência possam desenvolver atividades lúdicas e brincar.
Em 2022, o projeto “Livox – aprender brincando” começou a receber investimentos internacionais para a implantação do programa e este ano a Rede Municipal de Ensino de Jaboatão dos Guararapes começou a usar o aplicativo.
Dos 2.480 estudantes com deficiência da rede pública municipal de ensino de Jaboatão, 1.440 estão no espectro autista. Entre eles, Pedro, de 13 anos, que costuma ficar com o tablet e começou a usar o Livox para criar jogos que são utilizados por outras crianças como ele.
“O aprendizado com jogos de uma maneira divertida é muito mais eficiente e mais fácil de entender do que no aprendizado comum. Tem lugar com pessoas com déficit de atenção e dificuldade de aprendizado e o Livox facilita que as pessoas consigam entender assuntos complexos de uma maneira muito mais divertida”, contou Pedro Miguel Bandeira.
Professora do estudante Davi Ângelo, de 13 anos, há oito meses, Rebeca Bandeira explicou como o aplicativo ajudou o aluno.
“Davi tinha uma dificuldade em relação aos materiais da área do conhecimento de ciências. Então, identificamos que precisaria de novas metodologias, uma nova ferramenta, para ajudá-lo no processo de consolidação dessas atividades”, explicou a professora.
Davi Ângelo é aluno do sétimo ano do Ensino Fundamental e criou um jogo para incentivar pessoas a pensarem sobre a sustentabilidade. A agente de saúde Karine Nogueira, mãe de Davi, demonstra muito orgulho do filho. “Ele tem a interação bem mais evoluída do que antes. Ele consegue dialogar com os amigos como antes não conseguia”, contou Karine.
Lauriceia Tomaz, superintendente do Direito da Pessoa com Deficiência de Jaboatão dos Guararapes, explicou que o uso do Livox está sendo adotado como projeto-piloto no município. Inicialmente, 245 jovens estão recebendo tablets para utilizarem o aplicativo.
Para saber mais sobre o direitos das crianças, conheça a newsletter Infância na Mídia.