Onze crianças e adolescentes morrem por semana tentando atravessar o Mediterrâneo
Crianças e adolescentes morrem no Mediterrâneo: rota migratória mais perigosa do mundo, mais de 11 mil menores fizeram a travessia no primeiro semestre de 2023, a maioria sozinha ou desacompanhada dos responsáveis
Onze crianças e adolescentes morrem ou desaparecem semanalmente tentando chegar ao continente europeu pelo Mar Mediterrâneo Central, aponta um levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) divulgado nesta sexta-feira. Considerada a travessia mais perigosa do mundo, estima-se que, no primeiro semestre de 2023, ao menos 289 jovens tenham perdido a vida no trajeto — o dobro do número registrado no mesmo período do ano passado.
Segundo Verena Knaus, diretora global do UNICEF para migração e deslocamento, os números reais de vítimas provavelmente são maiores aos estimados, já que grande parte dos barcos que naufragam no Mediterrâneo Central não deixam registros ou sobreviventes.
Desde o início do ano, 11.600 crianças e adolescentes — uma média de 42 por semana — conseguiram fazer a travessia, uma das principais portas de entrada na Europa para migrantes vindos do norte da África, informou a agência da ONU. A maioria parte de portos na Líbia e na Tunísia após já terem percorrido viagens perigosas por países da África e do Oriente Médio.
A maioria dos menores que conseguiram chegar ao continente europeu pela rota estavam desacompanhados, acrescentou o UNICEF. No primeiro trimestre de 2023, o número de crianças e adolescentes que desembarcaram sozinhas foi cerca de 3.300 — equivalente a 71% do total e três vezes mais do que os registros do mesmo período em 2022. Nesses casos, as meninas são as mais vulneráveis a sofrerem violência antes, durante e depois da viagem, de acordo com a agência.
De acordo com o UNICEF, cerca de 1.500 menores morreram ou desapareceram no Mediterrâneo Central desde 2018. O número corresponde a um para cada cinco vítimas registradas no período, estimado em 8.274 pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).
“Na tentativa de encontrar segurança, reunir-se com a família e buscar um futuro mais promissor, muitas crianças estão embarcando em barcos nas margens do Mediterrâneo, apenas para perder a vida ou desaparecer no caminho”, disse a diretora executiva do UNICEF, Catherine Russell, em comunicado. “Esse é um sinal claro de que é preciso fazer mais para criar caminhos seguros e legais para que as crianças tenham acesso ao asilo e, ao mesmo tempo, fortalecer os esforços para resgatar vidas no mar.”
De acordo com um relatório de junho da Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex), rota registrou mais que o dobro de entradas ilegais na União Europeia (UE) nos cinco primeiros meses do ano que o mesmo período em 2022. O aumento do fluxo migratório no trecho foi o grande responsável pela elevação em 12% no número de entradas irregulares na UE neste ano, num momento em que todas as demais rotas apresentaram queda. Entre janeiro e maio de 2023, das 102 mil travessias no continente, mais de 50 mil foram pelo Mediterrâneo Central.
Desde 2014, mais de 27 mil pessoas morreram e desapareceram fazendo a travessia pelo mar separa a Europa da África — 21 mil delas apenas no Mediterrâneo Central, afirma a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Afogamentos foram a causa da fatalidade em 25 mil casos.
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