Creches ficam mais caras, dificultam o trabalho de mulheres e limitam toda a economia
Creches: Pesquisa mostra que a alta dos custos de cuidados infantis no mundo é um dos fatores que tira 10% do PIB global com a menor participação feminina no mercado de trabalho
A alta da inflação nos últimos anos, desde a pandemia, elevou os custos de creches e outros serviços de cuidado de crianças, dificultando o acesso de mulheres ao mercado de trabalho. Isso porque recai sobre elas, geralmente, a maior parte da responsablidade sobre os filhos nas famílias. Com isso, indica uma pesquisa, a limitação da força de trabalho feminina acaba cobrando um preço alto de toda a economia.
Os custos dos cuidados infantis aumentaram 6% somente no ano passado, no mundo, segundo a empresa de mobilidade ECA International. Nos EUA, o aumento foi de 9%. No Brasil, com o alto preço das mensalidades, apenas 30% das crianças no Brasil com menos de três anos estão matriculadas em creches.
Diante da opção de trabalhar apenas para pagar creche, muitas mulheres optam por reduzir horas de trabalho, renunciar a promoções ou desistir por completo. Outras decidem ter menos filhos, ou mesmo nenhum. Como ainda carregam a maior parte da responsabilidade de cuidar das crianças na maior parte das famílias, muitas mães só conseguem ingressar ou permanecer no mercado de trabalho mediante acordos flexíveis.
A reversão desta tendência é fundamental para tirar economias da recessão, promover crescimento e criar sociedades mais igualitárias, mas, até agora, muitos governos fizeram pouco para aliviar os encargos financeiros que os pais de crianças pequenas enfrentam para colocar os filhos em creches e escolas integrais, apontam especialistas.
— A economia como um todo paga um preço elevado por deixar as mulheres fora da força de trabalho — diz Adriana Dupita, analista da Bloomberg Economics. — O PIB global poderia ser cerca de 10% mais elevado se a participação das mulheres no trabalho correspondesse à dos homens.
Nos EUA, estima-se que a economia perde US$ 237 bilhões por ano (R$ 1,17 bilhão) por conta da redução das cargas de trabalho das mulheres para cuidar dos filhos. Na União Europeia, esse número é de cerca de € 242 bilhões (R$ 1,26 bilhão).
Vários estudos têm mostrado que o aumento da participação feminina na força de trabalho, por outro lado, aumenta o PIB e reduz os níveis de desigualdade e pobreza extrema.
Cirlea Paulichi, de 51 anos, administra uma escola que atende cerca de 100 crianças na cidade de São Paulo. Advogada de formação, ela passou a dedicar seu tempo a uma escola de educação infantil, que abriu desde que perdeu o emprego, há nove anos.
As crianças que frequentam a escola dela têm entre quatro meses e cinco anos. A maioria chega às 7 da manhã e fica até as 7 da noite, cinco dias por semana. Para essa carga horária, as famílias pagam cerca de R$ 2.000 mensais por criança.
Embora haja creches públicas gratuitas em São Paulo, as listas de espera são longas, e a vagas são poucas. Mais de 2.500 das cerca de 74.400 creches e escolas infantis do Brasil fecharam permanentemente durante a pandemia, e as privadas reabriram a uma taxa três vezes maior que as públicas.
Em seus nove anos à frente da creche, Cirlea Paulichi diz que seu maior desafio tem sido encontrar um equilíbrio entre cobrir despesas e manter o negócio competitivo — especialmente porque a inflação e os preços mais elevados de energia aumentaram os custos operacionais.
— O que gasto para alimentar 100 crianças hoje é o que gastava com 140 crianças antes da pandemia — diz.
Quando as famílias estão com dificuldades financeiras, ela às vezes oferece soluções flexíveis para manter as crianças na creche.
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