Salvador tem pior taxa de desnutrição infantil das capitais brasileiras, diz levantamento

Veículo: Folha de S. Paulo - SP
Compartilhe
desnutrição infantil
Foto: Lalo de Almeida/Folhapress

A cidade de Salvador, na Bahia, tem o pior indicador de desnutrição infantil entre todas as capitais brasileiras, aponta levantamento do Instituto Cidades Sustentáveis. A cada 100 crianças menores de 5 anos que viviam no município em 2021, quatro estavam desnutridas, de acordo com dados coletados no Sisvan (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional), vinculado ao Ministério da Saúde.

Em seguida vem a cidade de Belém, no Pará, com índice de 2,19 crianças desnutridas a cada 100 moradores desta faixa etária. Rio de Janeiro (2,01%), Cuiabá (1,7%) e Curitiba (1,69%) completam o ranking das cinco capitais mais atingidas pelo problema.

Na outra ponta estão as cidades de Teresina (0,44%), Fortaleza (0,45%), Boa Vista (0,52%) e Aracaju (0,6%), onde os níveis de desnutrição infantil atingiram os menores patamares entre as capitais brasileiras. Os dados foram publicados nesta terça-feira (26) no relatório Mapa da Desigualdade Entre as Capitais.

“Esse dado tem grandes relações com outras questões que o mapa traz, como acesso a renda, emprego e questões de saúde”, afirma Igor Pantoja, coordenador de relações institucionais do Instituto Cidades Sustentáveis, responsável pelo trabalho. O mapa é composto por indicadores sociais relacionados aos objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas).

Segundo Pantoja, o objetivo do levantamento é oferecer dados para comparações entre os indicadores registrados nas capitais brasileiras. “A diferença entre Salvador e Teresina na taxa de desnutrição infantil é de nove vezes. Com isso a gente espera mostrar que numa mesma região [Nordeste], uma das mais pobres do país, você tem boas práticas e exemplos concretos de como avançar”, diz.

O coordenador aponta as taxas de pobreza e desocupação como fatores importantes que influenciam nos níveis de desnutrição na primeira infância. “Sem renda e sem trabalho, a possibilidade de estar sem comida também aumenta”, afirma Pantoja.

O indicador também pode estar associado ao nível de acesso –físico e financeiro –da população a alimentos de boa qualidade, afirma a nutricionista Laís Amaral, coordenadora do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

Comer mal custa mais barato do que comer bem. Precisamos de políticas que garantam acesso a alimentos in natura ou minimamente processados à população”, acrescenta Amaral. Segundo a nutricionista, os produtos ultraprocessados, apesar de abundantes e mais baratos, devem ser evitados devido ao excesso de nutrientes prejudiciais à saúde, como sódio, gorduras e açúcares, além de aditivos químicos.

A pesquisadora considera avanços duas políticas recentes do Governo Federal: a definição de que a cesta básica será composta apenas por alimentos in natura ou minimamente processados e a publicação de decreto com orientações para alimentação saudável nas escolas públicas do país.

“Muitas crianças dependem da escola para se alimentar. Às vezes, dentro de casa, a criança não tem acesso a alimentação de qualidade ou em quantidade suficiente, mas tem essa garantia na escola pública”, acrescenta Amaral.

Capitais do norte têm piores indicadores de gravidez precoce

O Mapa da Desigualdade também traz indicadores de gravidez precoce nas capitais brasileiras a partir de dados de natalidade obtidos no DataSUS, sistema do Ministério da Saúde.

Segundo o levantamento, Macapá, capital do Amapá, registrou o pior cenário do país em 2021, quando 18% das crianças nascidas tinham mães com 19 anos ou menos.

A maioria das capitais da região Norte atingiu taxa similar, como Boa Vista (17,6%), Rio Branco (16%), Manaus (16%) e Porto Velho (15,1%).

Capitais do Nordeste também tiveram índices elevados, como Maceió (15,8%), São Luís (12,4%) e Recife (12%).

Os estados que tiveram as menores taxas ficam todos no Sul ou Sudeste brasileiros: Florianópolis (5,6%), Curitiba (6,6%), Belo Horizonte (7%), Porto Alegre (7,9%) e São Paulo (8,5%).

Para saber mais sobre o direitos das crianças, conheça a newsletter Infância na Mídia.