Ataques a jornalistas por matérias sobre meio ambiente subiram mais de 40% em cinco anos, diz Unesco
Relatório publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado em 3 de maio, alerta para o aumento da violência e da intimidação de jornalistas que fazem reportagens sobre agressões ao meio ambiente e sobre a crise da mudança climática.
Pelo menos 749 jornalistas ou meios de comunicação foram atacados de alguma forma nos últimos 15 anos, com 42% dos casos concentrados entre 2009 e 2023, enquanto a desinformação climática online “aumentou dramaticamente neste período”, segundo o documento “Press and Planet in Danger” (Imprensa e Planeta em Perigo) da organização.
E uma consulta a mais de 900 jornalistas ambientais de 129 países, realizada pela Unesco em março deste ano em conjunto com a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), revelou que 70% sofreram ataques, ameaças ou pressões relacionadas às suas reportagens, com dois em cada cinco relatando violência física posterior à ameaça.
A agência da ONU aproveitou a data para pedir apoio mais efetivo aos jornalistas ambientais e melhor governança das plataformas digitais no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
“Sem informações cientificamente confiáveis sobre a crise ambiental, não há como ter esperança de que a superaremos. “, disse Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco.
Azoulay afirmou que os jornalistas enfrentam “riscos inaceitavelmente elevados em todo o mundo”, ao mesmo tempo em que a desinformação relacionada com o clima “corre desenfreada nas redes sociais” .
O que diz o relatório da Unesco
O documento feito pela Unesco salienta que os repórteres que informam sobre a crise climática e problemas ambientais encontram-se frequentemente em locais remotos e isolados, como a Amazônia, longe de ajuda imediata ou proteção legal.
E desafiam grandes interesses comerciais e econômicos, o que gera reação de governantes e de agentes privados.
“Cobrir questões como a exploração ilegal de madeira, a caça predatória ou o despejo clandestino de resíduos envolve expor práticas interligadas com as economias locais e, por vezes, internacionais.
Isso pode provocar hostilidade por parte de uma vasta gama de atores, incluindo grandes empresas, pequenos empresários locais e oganizações criminosas, interessados em continuar as suas atividades longe do escrutínio público.”
Veja os principais pontos do relatório Press and Planet in Danger da Unesco:
- Pelo menos 749 jornalistas, grupos de jornalistas e meios de comunicação que fizeram reportagens sobre questões ambientais foram atacados em 89 países entre 2009 e 2023, em todas as regiões do mundo.
- Mais de 300 ataques ocorreram nos últimos cinco anos, o que representa um aumento de 42% em relação aos cinco anos anteriores. Houve crescimento nos ataques físicos, como agressões, detenções e assédio, e em ações judiciais, incluindo processos por difamação e processos criminais.
- Atores estatais foram responsáveis por pelo menos a metade dos 749 ataques.
- Mulheres jornalistas relatam estar mais expostas do que os homens ao assédio online, ecoando a tendência identificada no relatório The Chilling: tendências globais na violência online contra mulheres jornalistas .
- 44 jornalistas que cobriam questões ambientais foram mortos em 15 países entre 2009 e 2023, com apenas cinco casos resultando em condenações. Pelo menos 24 jornalistas sobreviveram a tentativas de homicídio.
- Entre 2009 e 2023, pelo menos 204 jornalistas e meios de comunicação que cobrem questões ambientais enfrentaram assédio judicial.
- Estados apresentaram acusações criminais contra 93 deles, resultando em 39 jornalistas presos, principalmente na região Ásia/ Pacífico. Ações judiciais por difamação representam 63 casos, predominantemente na Europa e na América do Norte.
Jornalistas viram alvo em protestos ambientais
- Segundo a Unesco, houve registro de pelo menos 194 jornalistas atacados em protestos ambientais nos últimos 15 anos, principalmente na Europa, América do Norte e América Latina e Caribe.
- A polícia e as forças militares são os principais perpetradores dos atos violentos, com 89 ataques, enquanto os manifestantes são responsáveis por 32 ataques.
- Na pesquisa com jornalistas, que envolveu mais de 900 profissionais, mais de 70% do número total de entrevistados indicaram que foram sujeitos a ataques, ameaças ou pressões enquanto cobriam questões ambientais:
• 562 relataram ameaças ou pressões psicológicas (85%); 397 indicaram terem sido vítimas de assédio online (60%); 271 disseram ter sofrido ataques físicos (41%) e 163 indicaram terem sido assediados judicialmente (24,5%).
O relatório completo pode ser visto aqui
Fonte: Fenaj
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