A rede silenciosa dos abusos infantis e a manipulação feita por pedófilos

Veículo: Correio Braziliense - DF
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abusosUm crime silencioso, moldado por ameaças, manipulações e presente, na maioria das vezes, dentro da própria casa. São crianças e adolescentes vítimas de abusos sexuais e que vivem sob a custódia do agressor. Com medo, elas silenciam e enfrentam dias, meses e anos de violência e tortura. Por outro lado, pedófilos traçam sofisticadas estratégias para alcançar as vítimas: usam a internet, infiltram-se em jogos on-line ou, em casos de proximidade familiar, calculam horários nos quais estarão a sós com o “alvo”. No DF, de janeiro a março, foram registradas 122 ocorrências por estupro de vulneráveis, 19,7% a menos, comparado ao mesmo período de 2023, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF).

A queda no índice é resultado de um trabalho articulado pelas forças de segurança do DF. Na capital, a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) cuida de casos específicos contra esse público, tais como maus-tratos, abusos sexuais, subtração de incapaz, armazenamento ou compartilhamento de pornografia infantil na internet e não pagamento de pensão alimentícia. O Correio apurou que, de abril até quarta-feira (15/8), a delegacia fez 22 prisões — 12 por estupro de vulnerável, sendo sete preventivas, duas temporárias, uma em flagrante e duas condenatórias; uma em flagrante por tortura e maus-tratos; uma em flagrante por extorsão; uma em flagrante por subtração de incapaz; três em flagrante por armazenamento/compartilhamento de pornografia infantil na internet; um adolescente infrator apreendido por estupro (cumprimento de mandado expedido pela Vara de Infância e Juventude); dois mandados de prisão cível cumpridos (pensão alimentícia); uma temporária por exploração sexual.

Agressores

As ocorrências por estupro de vulnerável, principalmente envolvendo crianças e adolescentes, costumam ocorrer na própria casa da vítima, explica o delegado adjunto da DPCA, Maurício Iacozzili. No começo deste mês, as equipes da delegacia prenderam um homem de 49 anos acusado de abusar do enteado, de 12 anos, em Samambaia. O agressor aproveitava o momento em que a mãe do garoto saía para trabalhar para estuprá-lo. O crime foi descoberto depois de a vítima relatar a situação na escola e o homem foi preso escondido no Pará. “Geralmente, os abusos são praticados por pessoas próximas à vítima (padrasto, madrasta, pai, mãe, avós, tios, entre outros) e tendem a ocorrer quando o abusador fica a sós com a vítima”, explica o delegado.

O medo do agressor, da retaliação e até o sentimento de culpa levam as vítimas a se calarem diante de tamanha monstruosidade. Nesse momento, manter um diálogo aberto com a criança é fundamental e uma forma de criar um elo de confiança para que a vítima narre as violações. “A motivação para denunciar os fatos varia muito caso a caso. Algumas vítimas contam para parentes de sua confiança, outras contam na escola, outras em ambientes diversos”, avalia o delegado.

Prevenção

Em 2023, houve 587 casos envolvendo esse tipo de crime. Em 2022, 627 e, em 2021, 463. Na linha de combate, a secretaria criou o eixo Escola Mais Segura, que faz parte do novo programa da pasta, o DF Mais Seguro — Segurança Integral, para a realização de ações de prevenção e intervenção no ambiente escolar, garantindo um espaço saudável para o desenvolvimento pleno de crianças e jovens, e promovendo a cultura de paz nas escolas. Ações como essas inibem tanto os chamados pedófilos “externos”, como os “internos”.

Os externos são aqueles que agem longe do núcleo familiar. Esses costumam fazer uso de plataformas, como em jogos on-line, fingem ser criança ou adolescente, conquistam a confiança das vítimas, também menores, e passam a se comunicar em outros aplicativos (WhatsApp, Telegram e Instagram, entre outros). Após terem proximidade com a vítima, pedem fotos e vídeos de conteúdo sexual e, em posse desse material, ameaçam, chantageiam e extorquem.

Os pedófilos “internos” são aqueles que têm algum tipo de proximidade com a vítima, como ocorreu em uma creche do Paranoá, na qual o sócio do estabelecimento usava a função para abusar meninas de 1 a 5 anos. A polícia tomou conhecimento do caso depois que duas crianças comentaram a situação com os pais por mais de uma vez. As vítimas disseram que o homem — que está preso — ordenava que fechassem os olhos enquanto eram tocadas nas partes íntimas.

 

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