Mais da metade das crianças que jogam online interagem com desconhecidos
Os jogos online se consolidaram como parte integral da rotina de crianças e adolescentes, criando novas preocupações por apresentarem riscos significativos, com os quais as famílias ainda não sabem lidar. Uma nova pesquisa da Unico, empresa líder em soluções para validação da identidade real das pessoas, encomendada ao Instituto Locomotiva, mostra que 86% dos jovens jogam ou acessam jogos online e 74% o fazem semanalmente, sendo que 55% deles mantêm contato com pessoas desconhecidas durante as partidas, conversando e interagindo. O levantamento traz dados exclusivos sobre a exposição de crianças e adolescentes brasileiros no ambiente virtual dos jogos online e apresenta um panorama preocupante sobre a segurança digital desse público.
A pesquisa confirma a necessidade de ações de letramento e educação digital para pais, educadores, crianças e adolescentes. “Vemos um cenário de alta exposição digital e vulnerabilidade de menores de idade, o que indica a necessidade de melhor orientação parental no ambiente online”, reflete Felipe Magrim, diretor de Políticas Públicas da Unico. “É um alerta para pais e educadores, visto que a interação com desconhecidos em ambientes virtuais expõe crianças e adolescentes a diversos riscos, incluindo cyberbullying, assédio, fraudes e golpes.”
Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, a falta de supervisão e controles eficazes expõem menores de idade a inúmeros riscos, como perdas financeiras e impactos emocionais que afetam toda a família. “Os ambientes digitais estão moldando as novas gerações, mas também trazendo à tona desafios importantes. Os jogos online já fazem parte do cotidiano de crianças e adolescentes, mas também de muitos adultos (78% dos pais afirmam jogar ou acessar games, sendo que 58% fazem isso semanalmente e 17% diariamente), evidenciando a necessidade urgente de diálogo e conscientização nas famílias. Mais do que proteger, é preciso garantir que essa geração — e seus pais — naveguem na internet de forma segura e saudável, transformando o digital em uma ferramenta de crescimento, e não de vulnerabilidade”, afirma.
Sites de apostas: cenário preocupante
Quando a pesquisa entra no contexto de sites de apostas esportivas, o cenário é ainda mais preocupante, considerando que 17% dos pais declaram que seus filhos de 7 a 17 anos possuem perfil nesses sites ou em plataformas de cassinos online.
As operadoras de apostas online já somam mais de 300 empresas no Brasil, segundo pesquisa da PwC – número que aumentou em 500% desde 2020, quando havia apenas 51 bets. De acordo com o Banco Central, os brasileiros já desembolsaram, até o final de setembro de 2024, uma média de R$ 2 bilhões por mês nas loterias tradicionais e R$ 21 bilhões nas casas de apostas online – número que pode ser muito maior, uma vez que essa quantia contabiliza apenas transferências via Pix. A instituição estima que o país tenha 24 milhões de apostadores por mês, o que significa 11,3% da população brasileira.
A pesquisa da Unico mostra que os jovens estão apostando ativamente nesses sites, com os principais meios de pagamento utilizados pelos filhos sendo Pix (63%), cartão de crédito (48%), cartão de débito (38%) e boleto (14%). Cerca de 13% dos pais nem ao menos sabem qual é esse método de pagamento utilizado por seus filhos nessas plataformas.
“A presença de crianças e adolescentes em sites de apostas esportivas é preocupante, por isso é necessário termos medidas mais robustas para proteger esse público vulnerável”, afirma Magrim.
“A facilidade de acesso e o uso de métodos de pagamento, muitas vezes sem supervisão ou conhecimento dos pais, expõem os jovens a riscos financeiros e emocionais graves, além de possíveis fraudes. É fundamental que as plataformas, em parceria com órgãos reguladores, implementem tecnologias de verificação de identidade que impeçam o cadastro e a participação de menores nesses ambientes”.
A lei 14.790/2023, que regulamentou as apostas online, obriga as empresas do setor a cumprirem uma série de requisitos para manterem suas atividades de forma regular e segura. Uma dessas exigências é a utilização de biometria facial para autenticar a identidade dos usuários, que visa barrar o acesso de pessoas proibidas por lei de jogar – incluindo menores de idade.
“A segurança e a privacidade dos dados dos apostadores, e de toda sua família, são preocupações cruciais, e que merecem muita atenção. Além do estabelecimento de regras para o funcionamento dessas empresas e mecanismos de proteção a menores, a regulamentação permitirá um maior controle sobre as operações das casas de apostas, tornando este mercado mais seguro e transparente”, conclui Magrim.
Metodologia da pesquisa
A pesquisa foi realizada em duas etapas: a qualitativa, que entrevistou nove especialistas na temática de proteção de dados de crianças e adolescentes em ambientes digitais, e a quantitativa, que contou com a participação de 2.006 responsáveis por crianças e adolescentes em todos o Brasil. O levantamento ocorreu entre os dias 9 e 24 de outubro de 2024, com uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais.
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