Redes sociais estimulam comportamentos inadequados para a idade das crianças
A erotização precoce ocorre quando crianças são expostas a estímulos e comportamentos inadequados para sua faixa etária, muitas vezes influenciadas pelas redes sociais e pelos meios de comunicação, de acordo com especialistas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. Nesse contexto, o Instituto Alana alerta que esse fenômeno se manifesta especialmente quando produtos e conteúdos originalmente voltados para adultos — como músicas, propagandas, produções audiovisuais e itens de beleza, como maquiagens — despertam curiosidade e induzem posturas ou comportamentos incompatíveis com a idade. A entidade ressalta que essa exposição pode comprometer a construção da identidade infantil e gerar impactos psicológicos e sociais no desenvolvimento da criança.
A professora Fernanda Kimie Tavares Mishima, do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, reforça essa preocupação, definindo a erotização infantil como “uma invasão e retirada da criança de um ambiente que é dela, em que se sente acolhida e protegida, para um ambiente em que a expõe e a torna vulnerável”. Segundo a pesquisadora, essa exposição precoce faz com que a criança seja vista como possuindo atrativos sexuais, antecipando características e comportamentos próprios de adolescentes ou adultos. A chamada “adultização”, segundo Fernanda, pode ser observada em mudanças no cabelo, no uso de maquiagem e na escolha de roupas sensuais, práticas que não condizem com a natureza da infância.
A influência da mídia e das redes sociais
A exposição precoce a conteúdos inadequados tem se tornado uma preocupação crescente no desenvolvimento infantil. Segundo a psicóloga clínica Geovana Figueira Gomes, mestre em Psicologia Infantil pela FFCLRP, a mídia e a publicidade exercem forte influência sobre as crianças. “Os veículos de mídia e as propagandas às quais as crianças são expostas se tornaram um grande problema, pois muitos conteúdos não têm restrições de idade, e a criança pode acessar qualquer material disponível”, alerta. Além disso, o funcionamento dos algoritmos pode direcioná-las a conteúdos que não estavam buscando originalmente, ampliando o risco de exposição a temas inapropriados.
Assim como Geovana, a professora Fernanda afirma que a tecnologia, as redes sociais e as mídias são parte importante do universo adulto. “Para se inserir, muitas vezes a criança acaba entrando nesse universo, para ser vista pelos adultos, para se sentir cuidada e para ser olhada.” No entanto, diz a professora, essa inserção não faz com que elas sejam vistas como tal, mas sim como crianças deslocadas.
A professora Fernanda reforça essa preocupação ao destacar que a tecnologia, as redes sociais e os meios de comunicação são parte importante do universo adulto, mas acabam sendo incorporados ao cotidiano infantil de maneira problemática. “Para se inserir, muitas vezes a criança acaba entrando nesse universo, tentando ser vista pelos adultos, receber atenção e se sentir cuidada”, explica. No entanto, segundo a professora, essa inserção não resulta em uma aceitação genuína, mas sim em um deslocamento, onde a criança passa a adotar comportamentos inadequados para a sua idade.
Efeitos da erotização precoce
Os resultados da erotização no desenvolvimento das crianças podem ser graves e emocionalmente complexos, com regressão de comportamento nas crianças e aumentar a vulnerabilidade para abusos. Segundo Fernanda, é essencial que pais e responsáveis fiquem atentos aos sinais que indicam quando uma simples brincadeira ou experimentação ultrapassam o limite e se tornam prejudiciais. “A criança pode demonstrar interesse em maquiagem ou em se vestir de maneira diferente, e isso, por si só, não é um problema. No entanto, quando essa expressão passa a ser influenciada por um contexto de erotização, ela pode se tornar alvo de aproximações abusivas por parte de adultos”, alerta a professora. Entre os sinais que demandam atenção, ela cita mudanças bruscas de comportamento, angústia diante da presença de determinadas pessoas, isolamento social e alterações no padrão de sono.
Prevenção
Para evitar a erotização precoce e proteger o desenvolvimento saudável das crianças, tanto Fernanda quanto Geovana enfatizam a importância do monitoramento constante por parte dos pais e responsáveis. “A internet está repleta de conteúdos que nem sempre são saudáveis. Os pais precisam fazer um filtro e conhecer melhor o que seus filhos estão assistindo, ouvindo e consumindo”, orienta Geovana.
Além do controle do conteúdo acessado, a psicóloga destaca que a criação de um ambiente seguro e acolhedor é fundamental para fortalecer o diálogo dentro de casa. “Os responsáveis devem construir uma comunicação receptiva, que escute e não puna, pois a criança ainda está em fase de aprendizado e desenvolvimento”, pontua.
Fernanda complementa que esse olhar atento dos pais não se limita ao controle do que a criança consome digitalmente, mas envolve também a criação de espaços de convivência e interação familiar. “Observar as crianças e entender suas necessidades significa conhecê-las e ajudá-las a se conhecerem. Pequenos momentos do dia a dia, como refeições sem o uso de celulares ou aparelhos eletrônicos, podem ser oportunidades para os pais conversarem e acompanharem de perto o que acontece na vida dos filhos”, conclui.
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