Mais de 340 crianças se afogaram no Mediterrâneo desde setembro de 2015, alertam agências da ONU

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Mais de 340 crianças refugiadas e migrantes se afogaram no Mar Mediterrâneo desde setembro de 2015, tentando cruzar o oceano rumo à Europa. As informações são de agências da ONU e da Organização Internacional para a Migração (OIM), que fizeram um apelo à comunidade internacional, na última sexta-feira (19), para que sejam oferecidas rotas alternativas, legais e mais seguras às populações deslocadas fugindo de países em guerra.

Os números, divulgados pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela OIM, indicam que, em média, a travessia do Mediterrâneo mata dois jovens por dia. A maioria dessas vítimas é de bebês e crianças de até três anos. A tendência é que a quantidade de mortos aumente cada vez mais.

Atualmente, as crianças somam 36% dos que se deslocam em direção ao continente europeu. Apenas nas seis primeiras semanas de 2016, mais de 80 mil pessoas aportaram na Europa, segundo informações recentes liberadas pelo ACNUR.

De acordo com os organismos internacionais, o trecho do Mar Egeu entre a Turquia e a Grécia está entre os caminhos mais arriscados do mundo para refugiados e migrantes. As adversidades do inverno europeu, que tornam o oceano mais agitado, a superlotação dos barcos e a precariedade das embarcações e dos equipamentos de salvamento elevam o risco de naufrágios e acidentes.

“Nós podemos não ter a capacidade, agora, para acabar com o desespero que leva tantas pessoas a tentar atravessar o mar, mas países podem e devem cooperar para tornar essas jornadas perigosas mais seguras”, afirmou o diretor executivo do UNICEF, Anthony Lake.

O alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, destacou que as “trágicas mortes no Mediterrâneo são insustentáveis e têm que parar”.

“Claramente, mais esforços são necessários para combater o contrabando e o tráfico (humanos). Da mesma forma, como muitos dos adultos e crianças que morreram estavam tentando se juntar a parentes na Europa, a organização de caminhos para que as pessoas viajem legalmente e com segurança, através de programas de reassentamento e reunião familiar, por exemplo, devem ser uma prioridade absoluta, se quisermos reduzir o número de mortes”, disse.

Mais segurança nas fronteiras não é solução, alerta relator da ONU

Na véspera (18) do pronunciamento conjunto das agências das Nações Unidas e da OIM, o relator especial da ONU sobre os direitos humanos dos migrantes, François Crépeau, já havia alertado para os perigos crescentes enfrentados por populações deslocadas que tentam chegar à Europa. O especialista também chamou a atenção para retrocessos no modo como refugiados e migrantes têm sido tratados no continente, onde a xenofobia coloca em risco sua segurança.

“O único modo de, efetivamente, eliminar o tráfico (humano) é dominar seu mercado, oferecendo soluções de mobilidade regulares, seguras e baratas, com todas as checagens de identidade e segurança que procedimentos eficientes de (controle de) vistos podem oferecer”, afirmou o relator.

Crépeau ressaltou que a confiança excessiva das nações na securitização das fronteiras não vai funcionar, uma vez que as pessoas continuarão a chegar, porque elas precisam sobreviver e os contrabandistas continuarão a se adaptar.

A respeito das recém-anunciadas operações em fronteiras da União Europeia, a serem realizadas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), o especialista expressou preocupação.

“Eles embarcarão os migrantes em seus navios de Marinha, como os italianos fizeram no Mare Nostrum (Mar Mediterrâneo)? Se o fizerem, onde vão desembarcá-los? A que autoridade (os migrantes) serão transferidos? Como simples rejeições serão prevenidas? Como vão tratar os migrantes a bordo? Como vão identificar necessidades de proteção? E como nós vamos saber o que as forças da OTAN estão fazendo? Que mecanismos civis de monitoramento estarão funcionando para garantir a proteção dos direitos dos migrantes durante a operação?”, disse.

Crépeau lamentou, ainda, o recrudescimento do preconceito e do racismo contra os deslocados que conseguem chegar ao continente europeu. “Agressões a migrantes se tornaram, perigosamente, a norma e o padrão está tão baixo agora que ter uma discussão significativa e serena sobre direitos, diversidade e integração é, frequentemente, impossível”, afirmou.

“Lentamente arrancando os direitos dos requerentes de asilo e migrantes, a Europa está criando um assustador novo ‘normal’”, alertou o relator. “Eu continuo a apelar aos líderes políticos europeus para que mostrem liderança política e moral, combatendo, bem mais vigorosamente, o racismo, a xenofobia e o crime de ódio, pela consolidação da nossa cultura comum de direitos humanos e pelo fortalecimento de suas instituições em todos os níveis.”

Fonte: ONU Brasil