CE: 75% dos desaparecidos são meninas
Quando a menina saiu para o mundo, a ausência se espalhou na casa da família. A mãe varreu quarto, sala e cozinha com os olhos arregalados, mas não viu ninguém. Correu até a calçada procurando resposta. O tempo de lançar a vista pra rua foi o mesmo do espanto: a filha sumiu sem deixar qualquer pista de paradeiro. As cenas, de tanto serem repetidas, pareceriam flashbacks, não fossem as descrições detalhadas dos desaparecidos nos boletins de ocorrência. As características, contidas também nos formulários preenchidos pelos pais nos Centros de Referência Especializados da Assistência Social (Creas), traçam o perfil: 75% das 94 crianças e adolescentes cujo desaparecimento foi registrado neste ano no Ceará são mulheres de 12 a 17 anos. Elas saem de casa para fugir da família, da falta de diálogo, da opinião divergente dos pais. Lançada à própria sorte, a maioria acaba se arrependendo e retornando ao lar. Isso explica, em parte, o alto índice de localização dos desaparecidos: neste ano, 94% dos jovens de até 17 anos registrados voltaram ao convívio familiar.