Como crianças percebem a violência

Veículo: Diário de Pernambuco - PE
Compartilhe

Pesquisa realizada pelo Instituto Igarapé, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco e a organização não-governamental Shine a Light, identificou que garotas entre 13 e 17 anos se sentem mais inseguras do que os garotos da mesma faixa etária no bairro onde moram. O mesmo índice mostrou que as crianças com idade entre 8 e 12 anos se sentiam mais seguras na localidade do que os mais velhos. O levantamento, que está em fase de testes em sete comunidades do Recife, questionou os jovens se eles se sentiam confortáveis na presença de vizinhos, ao usar o transporte coletivo, na escola, dentro do próprio lar e até mesmo na hora de se divertir. A ação tem a finalidade de entender como a violência do dia a dia afeta e é percebida pelas crianças e adolescentes. O resultado apontou que apenas 30% das meninas se sentiam à vontade para brincar nas ruas e que 25% delas se sentiam seguras com a presença da polícia na comunidade. Durante as entrevistas, as adolescentes relataram aos pesquisadores casos de assédios nas ruas e de constrangimento com os vizinhos por causa do tênue limite entre o espaço público e o privado. "Elas se sentem observadas o tempo", complementou Renata Giannini, uma das pesquisadores responsáveis pelo trabalho. Essa realidade atinge a estudante do Ensino Médio V.G, 14 anos, moradora da comunidade de Chão de Estrelas, contemplada pela pesquisa "A violência diminuiu bastante aqui no bairro, mas ainda é muito inseguro, falta policial". explicou. Outra adolescente, J. A., também de 14 anos, revela que o clima de insegurança depende muito da geografia do bairro."Tem áreas que a gente se sente seguro, mas tem outras que tem muito assalto", apontou. Além de analisar a percepção deles sobre a segurança no espaço público, a pesquisa também os ouviu sobre a situação no ambiente doméstico. Cerca de 55% das crianças entre 8 e 12 anos relataram que sofrem agressões dos pais como castigo. Também entrevistados, 35% dos adultos confessaram que recorrem às palmadas como método de educação. A pesquisa, intitulada Índice de Segurança da Criança, funciona através de questionário presente num aplicativo e pretende oferecer um conjunto de informações sobre as vulnerabilidades das crianças e adolescentes. Os dados serão arquivados numa plataforma de visualização, que ainda está em processo de formatação, e disponibilizados para as instituições. O projeto identifica as principais tendências de violência, seja doméstica, na escola e na própria comunidade, e quais os impactos psicológicos, físicos e emocionais desses eventos na vida dos jovens entrevistados. A maior parte dos crimes envolvem crianças e adolescentes e nós não temos um mapeamento completo sobre quem são eles, onde moram e como são vítimas desses crimes. Por isso, a pesquisa busca oferecer esses detalhes para a elaboração de políticas públicas mais precisas", explicou Renata. Os dados foram recolhidos em 2014. Além do Recife, a equipe também passou pelo Rio de Janeiro e, este ano, esteve em São Paulo. A previsão é de que até o final de 2016 o instituto aplique o questionário em mais 12 cidades no Brasil e nos Estados Unidos, além de expandir a ação América Latina.