Escola em São Caetano articula educação integral com currículo multidisciplinar

Veículo: Centro de Referências em Educação Integral - BR
Compartilhe

Investimento na educação integral, um currículo abrangente e multidisciplinar e a implementação da gestão democrática. Eis os princípios que norteiam o projeto pedagógico da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Sylvio Romero, localizada no bairro Osvaldo Cruz, em São Caetano do Sul (SP), que ajudam a explicar seus bons resultados nos indicadores educacionais.

A instituição, que atende 413 alunos, foi a mais bem colocada da região do ABC Paulista no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2013, no primeiro ciclo do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano).

Ao obter nota 8, superou as médias municipal (6,6), estadual (5,7), nacional (5,2) e a sua própria para 2021 (6,9). No indicador de 2015, caiu ligeiramente, mas os 7,5 garantiram ainda a superação das metas e o quarto lugar entre as melhores do município.

Desde que foi municipalizada, em 2007, e transformada em tempo integral, um ano depois, a Emef Sylvio Romero se propôs a não só oferecer escolarização, mas também experiências diversificadas para a formação de cidadãos mais completos.

“Temos sempre como norte o objetivo de tornar a escola mais prazerosa e os alunos, felizes. Acreditamos que os resultados acadêmicos são fruto disso”, diz Fabiano Augusto João, diretor da unidade desde 2010.

Repensando o currículo

Nesta perspectiva, uma das ações-chave foi a reestruturação do currículo em duas partes. Se na parte da manhã os alunos participam das aulas “tradicionais”, no período da tarde são envolvidos pelas chamadas oficinas curriculares, que se encontram organizadas por núcleos – esportes, artes, tecnologia, língua estrangeira, orientação de estudos e iniciação científica. Obrigatórias, as atividades são ofertadas de acordo com a idade escolar dos alunos e ministradas por professores especialistas concursados.

“No núcleo de artes, por exemplo, oferecemos artes visuais, música, dança e artes cênicas. Em tecnologia, robótica e informática. Já dentro  do núcleo de língua estrangeira, há oficinas de inglês e italiano. Mas enquanto inglês é dado para todos os anos, italiano apenas para turmas de 4º e 5º “, explica o diretor. A oferta da língua italiana se explica pelo fato do município ter um número expressivo de descendentes de imigrantes do país europeu.

Também integra a estratégia de diversificação do currículo o programa Ciranda Cultural, proposta que surgiu de assembleias realizadas ao longo dos anos com alunos, pais, professores, funcionários e equipe gestora.

Com a finalidade de driblar a falta de espaço, no momento do intervalo do almoço, as crianças são divididas em diferentes estações ou cantos temáticos, os quais são utilizados por todos os alunos em formato de rodízio.

“Por exemplo, as crianças do 1º ano ficam no pátio superior, as do 2º ano vão para a sala de informática, as do 3º ano vão para a quadra e 4º e 5º ano ficam nas duas áreas de tênis de mesa”, conta o diretor. No entanto, como são muitos os alunos, somente a distribuição em diferentes espaços não dava conta de solucionar a questão.

Desta necessidade, surgiu a ideia de oferecer oficinas optativas durante o intervalo, que as crianças escolhem conforme seu interesse. “Se um aluno do 1º ano desejar, poderá ter aula de ballet e do, 4º ano, de dança do ventre e assim por diante”. Além de otimizar a utilização do espaço, a estratégia ajuda a fomentar a autonomia e liberdade de escolha dos alunos.

Após o período escolar, das 16h40 às 18h, também são ofertadas oficinas pós-aula, pensadas principalmente para atender as crianças cujos pais trabalham até mais tarde e precisam esperá-los ociosas na escola. São elas: construção de brinquedos, judô, futsal, teatro, circo e dança do ventre. Assim como as oficinas disponíveis no intervalo do almoço, são optativas e escolhidas no início do ano.

A escola também aposta no acompanhamento dos alunos por meio de um monitoramento frequente. Para além das avaliações externas exigidas pela rede, a unidade desenvolve o Projeto Simulado, que consiste em avaliações internas bimestrais de múltipla escolha aplicadas para os alunos de 3º a 5º ano. Por meio dele, é possível obter resultados tanto por criança como por sala.

“É preciso apontar aqui que monitorar é diferente de avaliar. Esse método nos fornece um acompanhamento individualizado. A ideia não é ranquear ninguém, ou punir com notas, mas observar se esse aluno ou turma está conseguindo ter o aproveitamento esperado. E, caso isso não esteja acontecendo, entender o porquê e fazer as devidas intervenções”, explica João.

Articulação com o entorno

Outra estratégia importante para o sucesso da Emef Sylvio Romero foi a articulação com o entorno e a abertura para uma gestão democrática. Assembleias com pais, professores e alunos acontecem com frequência para deliberar sobre assuntos que vão desde aspectos da infraestrutura da escola a decisões ligadas ao bem-estar dos alunos.

“Também acreditamos muito na gestão de portão de escola, ou seja, ficamos nas portas para ouvir as demandas dos pais, das crianças. Queremos ser uma escola acolhedora e isso vem se refletindo. Temos em torno de 98% da aprovação dos pais e entre 80 e 90% deles participam das reuniões”.

Esse diálogo com o entorno se dá também por meio das oficinas de língua italiana e espanhola abertas para a comunidade. A primeira é ministrada pelo mesmo professor dos alunos e a segunda pela professora que gerencia o projeto de leitura da escola. “Quando você convida as pessoas para adentrar a escola isso tem um efeito. Por exemplo, temos várias árvores frutíferas no nosso quintal e, volta e meia, um vizinho vem pedir para levar uma fruta. Isso tudo gera um diálogo, uma integração com a comunidade”, acredita o diretor.

João acrescenta ainda que outro princípio no cerne da proposta pedagógica da Emef Sylvio Romero é fugir da visão do ‘preparar para’. “É preciso que o aluno viva o seu momento. Não podemos cair nessa coisa de ‘temos que dar mais matemática e português para preparar para o 6º ano’. Não, precisamos deixar esse aluno viver o 5º ano em sua plenitude.”

Para Renata Inglês, professora do 3º ano, o mais importante é olhar para a criança como um ser pensante, que não está na escola apenas para aprender conteúdos, mas também para ser formado como cidadão.

“Isso tudo é importante, mas também precisamos levar em consideração a parte afetiva, que esses alunos buscam em nós. Há crianças que passam a maior parte do tempo delas aqui na escola, com os professores. É a segunda casa deles. E essa é uma característica bastante nossa, aqui da Sylvio Romero, de receber e acolher”, conta.